Carta IEDI
Indústria 4.0: O Projeto Catapulta e A Estratégia Industrial do Reino Unido
A Carta IEDI de hoje apresenta as iniciativas recentes de política industrial do Reino Unido voltadas a preparar a economia do país às transformações associadas à Quarta Revolução Industrial. O trabalho faz parte de uma série de publicações que o IEDI vem fazendo a respeito do tema. As experiências de políticas em prol da Indústria 4.0 em outros países importantes no panorama mundial da indústria, inclusive do Brasil, podem ser encontradas nas Cartas IEDI n. 797 de 21/07/17, n. 803 de 01/09/17, n. 807 de 29/9/17, n. 820 de 11/12/17, n. 823 de 29/12/17, n. 827 de 26/01/18, n. 831 de 16/02/2018 e n. 841 de 29/03/2018, entre outros trabalhos.
Embora, diferentemente de outras economias desenvolvidas, como Alemanha, Estados Unidos, França, Japão e Coreia do Sul, o Reino Unido não tenha adotado até o momento uma estratégia explícita e integrada de promoção da Indústria 4.0, algumas das ações e medidas adotadas na presente década contribuem, direta ou indiretamente, nesse sentido.
Esse é notadamente o caso do programa Rede Catapulta de Centros de Tecnologia e Inovação, criado para realizar pesquisas de ponta sobre tecnologias emergentes, melhorando a interface entre os institutos de pesquisa e as empresas industriais, de modo a acelerar a transição da pesquisa avançada ao mercado, impulsionado a comercialização das inovações em indústrias-chave.
Anunciado no outubro de 2010, pelo então primeiro ministro David Cameron, o plano de criação dos Centros Catapulta de tecnologia e inovação, com dotação orçamentária de £ 439 milhões no período 2011-2014/15, representou um investimento estratégico para permitir ao Reino Unido atender às necessidades do mercado em áreas-chave e concorrer nos mercados globais de amanhã.
A escolha das áreas tecnológicas de atuação das Catapultas se baseou nos pontos fortes de ciência e pesquisa do país, na capacidade empresarial doméstica para explorar tecnologias e investir no potencial de mercados globais a serem explorados. Atualmente, existem dez Catapultas, cobrindo áreas que vão desde indústria de alto valor adicionado a descobertas de medicamentos, incluindo energia renovável offshore, terapias celular e genética, tecnologias de satélites, sistemas de transporte, digitalitalização, cidades do futuro, sistema de energia e aplicações de semicondutores compostos.
A Catapulta Indústria de Transformação de Alto Valor (HVMC, na sigla em inglês) é a que está mais diretamente relacionada com os temas da Indústria 4.0 e consiste no programa mais bem-sucedido do Projeto Catapulta. Formada por sete centros de pesquisa independentes já existentes, a HVMC foi a primeira a se tornar operacional em 2011. Suas áreas de pesquisa incluem tecnologias de automação, sistemas digitais aplicados à indústria, manufatura aditiva, simulação e realidade virtual e aumentada, novos materiais, tratamento de superfície, etc.
A Estratégia Industrial anunciada em 2013 pelo governo igualmente contribuiu para preparar as empresas industriais britânicas para enfrentar o aumento na competição e aproveitar as oportunidades dos mercados globais associadas à incorporação de novas tecnologias, embora não tivesse como alvo exclusivo o setor da indústria de transformação.
Construída em torno de cinco temas ¬– parcerias estratégicas com setores-chave da economia britânica, tecnologias, habilidades e competências, acesso das pequenas empresas com potencial de crescimento a financiamento e compras públicas –, a Estratégia Industrial contou com dotação superior a £ 2 bilhões, destinados à criação do banco de desenvolvimento British Business Bank e ao financiamento, em conjunto com o setor privado, de iniciativas tais como: a criação do Instituto de Tecnologia Aeroespacial, do Centro de Propulsão Avançada, e projetos de desenvolvimento de competências em setores e tecnologias estratégicas, entre outros.
Com a vitória do partido conservador nas eleições de 2015, a execução de algumas iniciativas foi descontinuada ou se arrefeceu, enquanto a de outras, como o projeto da Rede Catapulta, que beneficiava de apoio suprapartidário, continuou a contar com firme apoio do novo gabinete.
Porém, a aprovação plebiscitária da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) reforçou a necessidade de o país contar com uma indústria de transformação forte e tecnologicamente avançada, capaz de competir globalmente pelas oportunidades de mercado criadas pelas novas tecnologias emergentes. Assim, sob o comando de Theresa May, o governo lançou um documento oficial de consulta e debate, em janeiro de 2017, sobre uma nova estratégia industrial, elaborada em torno de dez pilares, que se reforçam mutuamente:
1. Investir em ciência, pesquisa e inovação;
2. Desenvolver habilidades;
3. Modernizar a infraestrutura;
4. Apoiar as empresas a iniciar atividades e a crescer;
5. Fazer uso estratégico das compras governamentais;
6. Incentivar o comércio e o investimento direto estrangeiro;
7. Fornecer energia acessível e crescimento limpo;
8. Cultivar os setores líderes mundiais e ajudar novos setores a florescer;
9. Impulsionar o crescimento em todo o país;
10. Criar instituições certas para reunir setores e locais.
Após receber contribuições de mais de duas mil empresas e organizações de todas as partes do país, o governo britânico lançou, em novembro de 2017, o documento final da nova estratégia industrial, que estabelece objetivos ambiciosos e ações de políticas para alavancar a produtividade, reconhecendo a inovação como um elemento central para isso.
Para tornar o Reino Unido a economia mais inovadora do mundo, a Estratégia Industrial propõe enfrentar, entre outros, o desafio de elevar o gasto bruto doméstico com P&D de 1,6% para 2,4% do PIB até 2027. Para alcançar essa meta, será necessário aumentar o investimento público e privado em P&D em até £ 80 bilhões por ano durante os próximos dez anos.
Nessa nova estratégia, as parceiras setoriais, agora denominadas de Acordo Setoriais, continuam desempenhando papel relevante na identificação de temas considerados prioritários pelas empresas para a transformação dos seus setores e que exigem ação governamental. Alguns acordos setoriais já foram firmados (ciências da vida, construção, inteligência artificial e setor automotivo) e outros estão em análise, incluindo a proposta do setor de tecnologias de digitalização industrial, elaborada sob a liderança pelo professor Juergen Maier, principal executivo da Siemens no Reino Unido.
O documento da proposta, intitulado Made Smarter, enfatiza que uma forte parceria entre empresas industriais e o governo, com foco na liderança, na adoção de tecnologias digitais e em inovação digital, pode tornar o Reino Unido um líder global na promoção da Quarta Revolução Industrial. Porém, até o momento, o governo britânico não adotou uma estratégia clara em relação à Indústria 4.0 nem criou um órgão de coordenação nacional à exemplo da Plataforma Indústria 4.0 na Alemanha ou da Aliança para a Indústria do Futuro na França.
Panorama da Indústria de Transformação Britânica
O estudo a partir do qual foi preparada esta Carta IEDI recorreu a uma série de documentos oficiais do governo britânico, assim como análises e avaliações independentes de consultorias e do meio acadêmico. Dentre os documentos oficiais estão: UK HM Government, Industrial Strategy: Building a Britain fit for the future. White Paper, Department for Business, Energy & Industrial Strategy (BEIS), November 2017; JUERGEN, Maier (coord.). Made Smarter: Review 2017, October 2017; INNOVATE UK. Catapult Network: Fostering innovation to drive economic growth, Report, 2017; UK HM Government. Building our Industrial Strategy, Green Paper, Department for Business, Energy and Industrial Strategy - BEIS, January 2017; Building our Industrial Strategy, Green Paper, Department for Business, Energy and Industrial Strategy - BEIS, January 2017; Catapult Centres - Impact at the Heart of the UK’s Industrial Strategy, Brochure, 2016; UK HM Government, Industrial Strategy: Government and industry in partnership. Progress Report, Department for Business, Innovation and Skills (BIS), April 2014; entre outros.
Além destes documentos, também foram utilizados relatórios de consultorias internacionais, tais como EY, Catapult Network Review, november 2017; CORDES Frank; STACEY, Nigel. Is UK Industry ready for the fourth Industrial Revolution?; BCG - The Boston Consulting Group, January 2017; Engineering Employers' Federation (EEF) - The 4th Industrial Revolution: A primer for manufacturers, 2016. Por fim, foram consultados os seguintes artigos acadêmicos: Eoin SULLIVAN e outros (2013), no artigo What is new in the new industrial policy? A manufacturing systems perspective. Oxf Rev Econ Policy, 29 (2): 432-462; COLEBROOK, Catherine. An industrial strategy that works for the UK: Framework and principles, London: Institute for Public Policy Research (IPPR), 2016.
Antes de avançar na síntese das políticas implementadas pelo Reino Unido para apoiar o desenvolvimento tecnológico fundamental para enfrentar desafios sociais e econômicos, bem como para resgatar a importância de seu parque industrial, cabe a identificação do ponto de partida dessas políticas, isto é, uma avaliação do prévio panorama industrial e tecnológico do país.
No Reino Unido, a contribuição da indústria de transformação para o PIB declinou de forma constante: de 30% do PIB em 1970 caiu para 17,4% em 1990, reduzindo a 12% em 2010 e se manteve torno de 10% na presente década. Esse percentual é o menor entre as principais economias desenvolvidas. Todavia, em termos absolutos, o valor adicionado da produção industrial se manteve, desde 1990, relativamente estabilizado em torno de £ 170 bilhões.
Esse processo de desindustrialização no Reino Unido que, a exemplo de outras economias desenvolvidas, se traduziu na transferência de fábricas para países com menor custo de produção teve sérios impactos na estrutura de empregos. Embora nos últimos 30 anos, o valor da produção industrial tenha permanecido praticamente o mesmo, o número de pessoas empregadas na indústria caiu significativamente: de 5,7 milhões em 1981 para 2,7 milhões em 2016. Atualmente, o emprego industrial representa apenas 8% do emprego total (ante 22% em 1981).
Em contrapartida, a participação do setor de serviços no PIB saltou de 69% em 1990 para 80% em 2016. De acordo com Eoin SULLIVAN e outros (2013), no artigo What is new in the new industrial policy? A manufacturing systems perspective. Oxf Rev Econ Policy, provavelmente, o Reino Unido é o país desenvolvido que experimentou ao longo das últimas três décadas, a mais profunda transformação estrutural em favor de serviços intensivos em conhecimento, como finanças, serviços profissionais e tecnologia da informação e comunicação (TIC). Em 2011, esses serviços respondiam por um terço do total do valor adicionado bruto e um quarto do emprego total.
Embora a escala relativa de indústria britânica tenha diminuído, o setor manufatureiro é responsável por 45% das exportações (£ 242,5 bilhões) e por 58% das importações (£ 341,2 bilhões). Em muitos setores, as empresas britânicas continuam fortes. A indústria aeroespacial é a segunda maior do mundo depois da dos Estados Unidos, enquanto as fábricas de automóveis registram os maiores níveis de produtividade e a indústria reteve altas habilidades de design. Os veículos, juntamente com máquinas e produtos elétricos, são os principais produtos exportados e respondem por quase 27% do total. O Reino Unido é o quarto maior produtor de veículos da Europa, exportando mais de 80% da produção anual de veículos. Este sucesso é o produto do investimento estrangeiro no Reino Unido, uma vez que não existe nenhum fabricante britânico de automóveis de consumo de massa.
O Reino Unido detém uma participação de 17% no mercado global do setor aeroespacial e de defesa e é o segundo do mundo na exportação de equipamentos e serviços de defesa. A indústria emprega diretamente 100 mil pessoas no Reino Unido e contribui com mais de £ 22 bilhões em receitas anuais.
As empresas do setor químico e farmacêutico também são competitivas internacionalmente, proporcionando um saldo comercial líquido positivo de quase £ 7 bilhões. Indústrias pesadas, incluindo mineração, siderurgia e construção naval, diminuíram substancialmente, embora as indústrias de petróleo e gás do Mar do Norte continuem a ter bom desempenho e, de fato, estão experimentando um recente ressurgimento.
A indústria farmacêutica do Reino Unido é a quarta maior do mundo, com uma balança comercial positiva de £ 7 bilhões. A GlaxoSmithKline e a AstraZeneca são a segunda e quarta maiores empresas do mundo em termos de participação das vendas mundiais. As indústrias farmacêuticas, de biotecnologia médica e tecnologia médica incluem 4.500 empresas, empregam 165.000 funcionários, gastam quase £ $ 5 bilhões em P&D e faturam anualmente mais de 50 bilhões de libras. O setor industrial de ciências da vida responde por 8% do valor adicionado bruto do Reino Unido. Somente o setor farmacêutico é responsável por mais atividades de P&D de empresas sediadas no Reino Unido do que qualquer outro setor manufatureiro (respondendo por mais de 28% de todo P&D privado).
Entre o final da década de 1990 e a crise financeira de 2008, a produtividade na indústria de transformação do Reino Unido cresceu mais rapidamente do que a produtividade em toda a economia. Nos anos de 2009 e 2010 após a crise financeira, a produtividade na indústria britânica e em toda a economia caiu. Desde então, o padrão anterior não se restabeleceu e o crescimento da produtividade industrial não tem sido consistentemente superior ao crescimento da produtividade global, à exceção do subsetor de médio e alto valor, o qual manteve níveis de investimento em máquinas e equipamentos próximos da média histórica.
No que se refere aos investimentos em P&D, a indústria de transformação britânica responde atualmente por 70% dos investimentos privados totais do país. Todavia, essa participação vinha registrando tendência de queda desde 2002 (78%). Como será visto a seguir, um dos principais focos da política industrial do Reino Unido na presente década tem sido a reversão dessa tendência. Governos sucessivos apoiaram o desenvolvimento do Programa da Rede de Centro Catapulta, que atuam os avanços tecnológicos possam ser mais facilmente convertidos em produtos ou processos comerciais.
Projeto Catapulta
A crise financeira de 2008 e a profunda recessão econômica subsequente trouxeram consigo a necessidade de captar benefícios econômicos da excelência do Reino Unido na geração de conhecimento científico e tecnológico para elevar a produtividade da economia e relançar o crescimento. A constatação de que o Reino Unido padecia de uma lacuna crítica entre as descobertas e resultados da pesquisa básica e seu desenvolvimento em proposições comerciais deu origem à proposta de criação de Centros de Tecnologia e Inovação, à semelhança, entre outros, dos Institutos Fraunhofer da Alemanha, elaborada pelo professor e empresário industrial Herman Houser no início de 2010.
Este tipo de centro desempenha um papel fundamental nos sistemas nacionais de inovação ao permitir uma melhor transferência de conhecimento, atuando como uma ponte entre a pesquisa básica e as empresas, grandes e pequenas, que ambicionam o crescimento em mercados de base tecnológica. Esses centros ajudam a preencher lacuna entre a pesquisa básica financiada por fundos públicos e a pesquisa financiada pelo setor privado no final da comercialização, comumente chamada de “Vale da Morte”, no qual a inovação é sufocada devido à falta de pesquisa translacional aplicada.
Seguindo as recomendações do professor Houser, o governo britânico anunciou em outubro de 2010, o projeto de criação de uma rede de centros de tecnologia e inovação de primeira linha: os centros Catapulta. Com dotação inicial prevista de £ 200 milhões, o projeto Catapulta representou um investimento estratégico de longo prazo para criar um recurso transformador de inovação, permitindo ao Reino Unido atender às necessidades do mercado em áreas-chaves. A agência britânica de inovação, Technology Strategy Board (TSB), criada em 2007 e atualmente denominada Innovate UK, é responsável pela execução, supervisão e coordenação do projeto.
O programa Catapulta procurou aproveitar os pontos fortes do Reino Unido, em termos de pesquisa básica de excelência e da capacidade empresarial doméstica para explorar e investir em tecnologia, para criar capacidade e gerar a massa crítica necessária para competir efetivamente nas cadeias globais de valor, e potenciais mercados globais de alto crescimento. Com base nesses critérios, em 2011, foi iniciada a criação de três dos seis centros Catapulta planejados para a primeira fase do programa (período 2011-2014/5): Indústria de Transformação de Alto Valor, Terapia Celular, Energia Renovável de Alto Mar. Posteriormente, com a Estratégia Industrial, o projeto recebeu dotação orçamentária adicional de £ 239 milhões, e o número de Catapultas foi elevado a sete, cobrindo áreas como: Aplicações de Satélites, Digital, Cidades Futuras, Sistema de Transporte.
Em casos como o das Catapultas Indústria de Transformação de Alto Valor e Aplicações de Satélite, os investimentos e capacidades existentes foram aproveitados para formar o que agora são Catapultas. Outros, como Catapulta de Terapia Celular e Genética (CGTC na sigla em inglês) e Cidades Futuras (FCC), foram estabelecidos do zero.
Entre 2015 e 2017, entraram em operação mais três Catapultas: Sistema de Energia, Aplicações de Semicondutores Compostos (SCA), Descoberta de Medicamentos (MDC). Em 2015, houve o anúncio do lançamento da Catapulta Medicina de Precisão (PMC), que previa Cambridge como o centro de coordenação de centros de excelência em Belfast, Cardiff, Glasgow, Leeds, Manchester e Oxford. Porém, a iniciativa fracassou e parte da planejada missão científica da PMC foi transferida em junho de 2017, com a aprovação da Innovate UK, para a Catapulta Descoberta de Medicamentos, que entrou em funcionamento em março de 2017.
Além dos recursos orçamentários do governo, denominado core grant aportados por meio da Innovate UK, no montante de £ 50 milhões para cada nova Catapulta por um período de cinco anos (£ 10 milhões por ano), o modelo de funding das Catapultas prevê que um terço dos recursos sejam captados mediante participação em projetos competitivos de atividades de pesquisa e desenvolvimento colaborativos (CR&D na sigla em inglês) e outro terço seja captados por meio de contratos projetos comerciais de pesquisa junto às empresas privadas e ao setor público. Todavia, avaliação realizada pela Consultoria EY, Catapult Network Review, em novembro de 2017, para o Departamento de Empresas, Energia e Estratégia Industrial (BEIS, na sigla em inglês) constatou que apenas a Catapulta Indústria de Transformação de Alto Valor (HMVC, na sigla em inglês) superou essas metas. Todas as demais Catapultas permanecem altamente dependentes do financiamento governamental.
De acordo com a EY, nos anos fiscais de 2014 a 2017, as Catapultas receberam um financiamento total de £ 1.250 milhões, incluindo cerca de £ 745 milhões (60%) do setor público (“subvenção principal” e “outros fundos públicos”). A maior parte do financiamento do setor público (68%) foi destinada a HVMC e a CGTC.
Como infraestrutura translacional, os centros Catapulta de tecnologia e inovação têm como missão oferecer acesso aos melhores conhecimentos técnicos, infraestrutura, habilidades e equipamentos - recursos que as empresas, particularmente pequenas, raramente podem pagar sozinhas. Mediante o trabalho conjunto com pesquisa básica e empresas de todos os portes, os centros Catapulta proporcionam um ambiente inovador e empreendedor, permitindo o desenvolvimento de novas cadeias de valor e a facilitação de uma variedade de rotas para a comercialização de novos produtos, processos e serviços.
De acordo com o professor Houser, em sua avaliação da Rede Catapulta realizada em novembro de 2014 para o então Departamento de Empresas, Inovação e Competências (BIS, na sigla em inglês), Review of the Catapult network: Recommendations on the future shape, scope and ambition of the programme, a gama de atividades de inovação que os centros de tecnologia e inovação individuais se engajam depende fortemente do seu ambiente local de inovação e sua missão organizacional. No caso britânico, as atividades realizadas pelas Catapultas espelham suas contrapartes internacionais e incluem:
• Serviços de tecnologia: fornecimento de serviços avançados de P&D para a indústria através de uma combinação de instalações especializadas internas e uma força de trabalho técnica altamente qualificada que muitas PMEs ou empresas de médio porte não poderiam pagar;
• Desenvolvimento tecnológico: realização de tarefas pré-competitivas de P&D e integração de sistemas; caracterização / medição; traduzir conhecimento e tecnologia;
• Desenvolvimento de capital humano: formação profissional; treinamento avançado de competência em P&D; serviços de consultoria de fabricação técnica e operacional; e
• Networking e desenvolvimento do setor: diálogo com a indústria; desenvolvimento de normas e assessoria no marco regulatório; assessoria em acesso ao financiamento; coordenação de projetos de P&D.
As Catapultas desempenham um papel vital ao ajudar a reduzir o risco da inovação. Trabalham com a indústria em desafios que, quando superados, criam novos produtos e abrem novos mercados. Isso envolve testar as novas tecnologias em ambientes reais e, em alguns casos, a procura de clientes para as novas tecnologias. Muitas vezes, isso significa fornecer equipamentos e conhecimentos que serão necessários para as empresas no longo prazo, mas nos quais nenhuma empresa investirá até que o retorno sobre o investimento (ROI) seja mais claro. Segundo a Innovate UK, as Catapultas unem universidades e indústria para trabalhar em problemas relevantes para o mercado - uma abordagem de "impulso pela demanda" que economiza tempo e dinheiro. Em cinco anos de existência do projeto, mais de 3.000 colaborações acadêmicas e industriais foram realizadas, com o suporte focado nessas ideias fortes o suficiente para fazer a transição do conceito para a comercialização.
Embora foco do projeto Catapulta esteja no Reino Unido, o alcance da Rede Catapulta é global. Os Centros Catapultas trabalham com 24 países e se mostraram altamente bem-sucedidos em atrair investimentos estrangeiros, ajudando a ancorar a inovação e empregos qualificados no Reino Unido. De acordo com a Innovate UK, muitos países estão agora tentando replicar o modelo da Rede Catapulta, incluindo Austrália, Canadá, Chile, China, França, Noruega e Tailândia.
A avaliação da rede Catapulta pela Consultoria EY, já mencionada, concluiu que as Catapultas são uma parte importante e bem-sucedida do ecossistema britânico de inovação e que podem impulsionar a inovação e o benefício econômico no Reino Unido. E o governo May, como será visto mais à frente, quer ampliar o papel que essa Rede desempenha no processo de inovação no Reino Unido.
Maiores detalhes são apresentados a seguir para alguns dos centros da Rede Catapulta. O critério de seleção foi o maior grau de envolvimento com as tecnologias associadas à Quarta Revolução Industrial.
Catapulta da Indústria de Transformação de Alto Valor (HVMC). A HVMC atua como catalisador para o futuro crescimento e sucesso da indústria de transformação no Reino Unido. Sua missão principal é ajudar as empresas a acelerar e reduzir o risco associado à aplicação de novos conceitos para a realidade comercial e, assim, a criar um futuro sustentável para a fabricação de alto valor no país. Além de ajudar a desenvolver tecnologias de próxima geração com potencial para transformar a indústria britânica e promover inovação com vistas a alcançar novos setores e mercados, a HVMC também tem como objetivo contribuir para aumento significativo da importância do setor manufatureiro para a economia britânica.
A HVMC oferece às empresas privadas de todos os tamanhos acesso a:
• Capacidade que abrange matérias-primas básicas através de processos de montagem de produtos de alta integridade;
• Instalações e habilidades de classe mundial para ampliar e comprovar processos de fabricação de alto valor;
• Rede de fornecedores líderes que contribuem para as principais cadeias de fornecimento da indústria do Reino Unido;
• Parceria entre indústria, governo e pesquisa em um objetivo comum para tornar o Reino Unido um lugar atraente para investir em manufatura.
Primeira Catapulta a operar, em outubro de 2011, a HVMC foi constituída a partir de uma parceria pública e privada de sete centros de pesquisa independentes, previamente existentes: o Centro de Pesquisa de Produção Avançada (AFRC), baseado na Universidade de Strathclyde, o Centro de Pesquisa em Manufatura Avançada (AMRC), baseado na Universidade de Sheffield e patrocinado pela Boeing, o Centro de Inovação de Processos (CPI), localizado em Wilton e Sedgefield, o Centro de Tecnologia Industrial (MTC), patrocinado pelas universidades de Birmingham, Loughborough e Nottingham, e TWI Ltd, o Centro Nacional de Compósitos (NCC), com sede na Universidade de Bristol, o Centro Nuclear de Pesquisa em Manufatura Avançada (NRC AMRC) patrocinado pelas universidades Manchester e Sheffield e o Warwick Manufacturing Group (WMG) na Universidade de Warwick. Maiores detalhes sobre esses centros são apresentados em Anexo .
A HVMC combina as capacidades desses sete centros ultramodernos de inovação industrial de classe mundial, desenvolvendo peças impressas em 3D para motores a jato, sendo pioneiras em compósitos mais leves e de baixo custo, projetando baterias de carros mais eficientes e produzindo também “Factory in a Box”: um módulo do tamanho de contêineres, equipado com o que há de mais moderno em ferramentas de manufatura digital. Esses módulos permitem que firmas de engenharia menores possam alugar capacidade técnica que antes era reservada a seus concorrentes maiores e mais ricos.
Os centros de pesquisa da HVMC oferecem acesso aberto aos equipamentos de última geração em escala industrial, especialização de classe mundial e um ambiente de colaboração entre a indústria, a academia e o governo. Em conjunto, os centros cobrem toda a gama de recursos de tecnologia industrial, incluindo as tecnologias associadas à Quarta Revolução Industrial, como manufatura aditiva, automação, manufatura avançada, simulação e realidade virtual e aumentada. Os domínios de expertise da HVMC abrangem ainda: montagem avançada, biotecnologia, fundição, materiais compósitos, design para produtos industriais, sistemas eletrônicos complexos de alto valor, produção flexível, formulações, processamento de alta temperatura, modelização e simulação, tecnologias de juntas, tecnologias de usinagem, metrologia, forjamento, caracterização de materiais, tecnologia de pó, eletrônica imprimível, engenharia de superfície, ferramentas e acessórios.
A necessidade das empresas industriais em escala real é replicada na infraestrutura tecnológica em escala industrial fornecida pela HVMC. Esta abordagem está alinhada às demandas do setor, que tem sido muito positiva para o programa. Desde a sua criação em 2011, a HVMC experimentou níveis significativos de demanda do setor industrial, com mobilização de montantes elevados de funding junto ao setor privado (40% da receita da HVMC no ano fiscal de 2015/2016 e 36% no ano fiscal de 2016/2017). O investimento do setor industrial na HVMC está acima níveis previstos no plano inicial de negócio da Catapulta. Dos quase 3.400 empresas do setor privado clientes da HVMC, mais de 40% são pequenas e médias empresas (PMEs).
Segundo a Consultoria EY, em sua avaliação para o governo de Theresa May, a HVMC estabeleceu um sólido histórico de ajudar as empresas industriais do Reino Unido de todos os portes a se conectarem melhor com seus clientes e cadeias de suprimento e aumentar sua competitividade aplicando novas tecnologias que possibilitam a produção mais rápida e barata de produtos e componentes. A HVMC tem contribuído não somente para ancorar a produção industrial no Reino Unido, mas também está ajudando a reorientar a produção perdida para outros países e a conquistar projetos de investimento estrangeiro de alto valor que geram empregos e crescimento local.
Catapulta de Aplicação de Satélite (SAC). A SAC tem como missão ajudar as organizações a usar e se beneficiar das tecnologias de satélite e reunir equipes multidisciplinares para gerar ideias e soluções em um ambiente de inovação aberta. Desde a sua criação em abril de 2013, a SAC experimentou uma demanda crescente por seus serviços, como acesso a instalações, especialização e colaborações financiadas em conjunto. Essa demanda é impulsionada pela indústria e aumentou significativamente o financiamento para a Catapulta.
Com uma equipe de mais de cem pessoas, reunindo engenheiros espaciais e especialistas em dados; gurus da tecnologia e empreendedores; pensadores blue sky e investidores anjos, o SAC tem como objetivo garantir que a inovação produzida no Reino Unido esteja no coração de uma nova era espacial.
Entre 2005 e 2015, foram lançados 1.480 satélites. No período correspondente a 2025, prevê-se que cinco vezes esse número entrará em órbita. Isso reflete o fato de que os serviços e dados espaciais permitem quase todos os aspectos do mundo moderno: tempo, navegação, comunicação, entretenimento, agricultura, monitoramento da poluição, cidades inteligentes, telemedicina, veículos autônomos, etc. Todos eles dependem de informações em cascata do espaço e transformados se em aplicativos e produtos por uma multidão crescente de empresas criativas e inteligentes em termos de dados.
Uma barreira significativa neste setor é a falta de conhecimento sobre os benefícios potenciais da tecnologia de satélite. A SAC estabeleceu várias parcerias importantes com organizações fora do setor espacial como parte de sua missão de informar e atrair esses usuários para aplicações de satélite. Uma colaboração importante foi com o The Pew Charitable Trusts, uma organização filantrópica dos Estados Unidos, que tem a com a ambição de eliminar a pesca ilegal no prazo de 10 anos. A Catapulta foi financiada para desenvolver um protótipo de uma ferramenta de monitoramento de pesca que combina dados de satélite e informações de embarcações para detectar e rastrear pescadores ilegais.
Catapulta Digital (DC). Com sede em Londres, a Catapulta Digital apoia e promove a inovação e transformação digital para impulsionar o crescimento na economia do Reino Unido. Faz a ponte entre a pesquisa e a indústria para ajudar as empresas britânicas a fornecer soluções mais inteligentes, mais rápidas e mais eficientes e abrir novos mercados. Os programas e instalações da Catapulta estimulam a inovação e aceleram a adoção de tecnologias digitais avançadas, ajudando as empresas a competir globalmente. O Centro prioriza três áreas de tecnologia:
• Tecnologias imersivas- Virtual (VR), aumentada (AR), realidade mista e tátil;
• Inteligência Artificial - Inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina
• Redes Futuras - 5G, redes de longa distância de baixa potência (LPWAN) e Internet das Coisas (IoT)
Atuando desde a fase de conceito à comercialização, a DC está focada em dois setores econômicos, indústria criativa e indústria de transformação - com dois objetivos: 1) acelerar o número de empresas pioneiras que trabalham com tecnologias digitais avançadas; 2) proporcionar maior pesquisa aplicada, desenvolvimento e inovação em tecnologias digitais avançadas.
A Catapulta Digital opera com quatro centros regionais:
• O Centro de Brighton se concentra especificamente em projetos que incentivam a inovação tanto no setor de varejo quanto nas indústrias criativas, gerando valor explorando e explorando tecnologias. Esse centro regional cria ligações entre universidades e empresas para permitir que os resultados pré-comerciais de P&D da Catapulta Digital sejam convertidos em oportunidades de mercado comercial, prototipados e testados por start-ups e PMEs.
• O Centro Catapulta Digital Irlanda do Norte se dedica aos desafios das empresas e ajuda a fornecer soluções digitais que podem ser repetidas, escaladas e exportadas, criando oportunidades comerciais internas e externas para a região. O Centro trabalha em estreita colaboração com as principais universidades de pesquisa; Queens University e Ulster University, bem como organizações da indústria; Catalyst Inc., Matrix, Invest NI e Digital Circle para ajudar a promover a Irlanda do Norte nos mercados globais.
• O Centro da Catapulta Digital da região Center North East & Tees Valley oferece um espaço de incubação de ponta para start-ups e PMEs que desenvolvem novos produtos e serviços baseados em dados usando tecnologias emergentes. O Centro também auxilia empresas de todos os tamanhos a transformar seus negócios por meio da inovação digital, acelerando a aplicação prática de tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas, 5G, inteligência artificial (AI) e tecnologias imersivas. Esse centro regional é uma parceria liderada pela Sunderland Software City em nome da North East LEP & Tees Valley Unlimited. Outros parceiros importantes envolvidos incluem a Universidade de Newcastle, a Universidade de Northumbria, a Universidade de Durham, a Universidade de Sunderland e a Universidade de Teesside
• O Centro de Yorkshire tem como missão ajudar a aumentar a economia digital da região. Suas atividades incluem: pesquisa acadêmica de ponta e experiência em desenvolvimento; apoiar as PME a crescer e aumentar de escala, acessando mercados tecnológicos novos e emergentes; ajudar grandes empresas e instituições a resolver seus problemas usando a transformação digital.
Em Londres, o Immersive Lab da Catapulta Digital oferece a todos a oportunidade para empresas de todos os tamanhos _ bem como acadêmicos e pesquisadores _ demonstrar, inovar e testar as mais recentes tecnologias e conteúdos imersivos. O espaço está equipado com uma variedade do mais recente hardware de realidade virtual e aumentada para incentivar a inovação comercial da crescente comunidade imersiva do Reino Unido.
Catapulta de Aplicação de Semicondutores Compostos (CSA). Instalado no Sul do País de Gales, o CSA foi criado a partir de dois centros de pesquisa regionais, o Instituto de Semicondutores Compostos e Centro de Semicondutor Composto. Sua criação foi liderada pela IQE plc, empresa fabricante de semicondutores, e pela Universidade de Cardiff.
Desde a sua invenção, o chip de silício revolucionou todos os setores industriais do mundo. À medida que o silício se aproxima do limite, a corrida começa a encontrar novos materiais para atender às crescentes demandas por internet mais rápida, maior vida útil da bateria e melhores diagnósticos de saúde. Os novos semicondutores compostos superam o silício em muitas áreas de aplicação novas e emergentes, incluindo a eletrônica de potência, rádio frequência e micro-ondas, fotônica e sensores.
A missão do CSA é ajudar as empresas britânicas a explorar avanços em tecnologias de semicondutores compostos em áreas de aplicação essenciais como saúde, economia digital, energia, transporte, defesa e segurança e espaço, permitindo que acessem mercados globais, incluindo eletrônicos, wi-fi e fotônicos, estimados no valor de £ 125 bilhões até 2025.
A Estratégia Industrial do Reino Unido
Como já mencionado, a profunda recessão que sucedeu à crise financeira internacional de 2008 levou o governo britânico a desenvolver uma estratégia industrial de longo prazo com vistas a melhorar a produtividade e competitividade das empresas em um conjunto de setores. Essa foi uma mudança de postura significativa, pois desde a década de 1970, como ressalta Catherine Colebrook no trabalho An industrial strategy that works for the UK: Framework and principles, London: Institute for Public Policy Research (IPPR), 2016, os sucessivos governos do Reino Unido, tanto da direita quanto da esquerda, realizaram o mínimo possível de intervenção ativa na economia, restringindo-se apenas às políticas horizontais, com foco especial em educação, ciência e tecnologia, e em medidas de apoio à inovação, empreendedorismo e eficiência empresarial, e às ações de desenvolvimento regional.
Essa abordagem começou a mudar em 2009, no final do governo trabalhista, liderado por Gordon Brown, quando foi aprovado um pacote de resgate de £ 2,3 bilhões de libras para a indústria automobilística, ocasião em que foi criado o UK Automotive Council. No mesmo ano, o Departamento de Negócios, Empresas e Reforma Regulatória (BERR) publicou uma estratégia industrial para o setor de baixo carbono. Segundo Colebrook, essa estratégia resultou em intervenções de apoio às empresas de baixo carbono, incluindo produção de energia eólica em alto mar, energia nuclear, carro elétrico, e na criação do Instituto de Tecnologias de Energia (ETI).
Também em 2009 foi criado o programa Iniciativa de Pesquisa para Pequenas Empresas (SBRI), inspirado no SBIR norte-americano, sendo um programa em duas fases baseado em contrato para financiar o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras a fim de atender às necessidades do governo, seja para atender às necessidades dos departamentos seja para enfrentar os desafios da política. Os contratos da Fase 1 normalmente tem valor de até £ 100.000 e a Fase 2, de £ 250.000 a £ 1 milhão. Os custos do projeto são 100% financiados.
O governo da Coalizão dos partidos conservador e democrata liberal (2010-2015) deu continuidade a essa abordagem. Como foi visto acima, em 2010, o governo de Coalizão decidiu criar a rede Catapulta de modo a estimular e acelerar a comercialização de novas inovações. O governo do primeiro ministro David Cameron também lançou, em 2011, a Iniciativa de Cadeia de Suprimentos de Manufatura Avançada (AMSCI, na sigla em inglês), um fundo competitivo para criar cadeias de suprimentos domésticas mais competitivas que ancoram o emprego de alto valor no país. A AMSCI fornece subvenções ou empréstimos reembolsáveis para cobrir parte dos custos com investimento de capital, pesquisa e desenvolvimento e treinamento para projetos industriais envolvendo colaborações em cadeias de suprimentos. Um total de £ 25 milhões foi disponibilizado para a primeira rodada dessa iniciativa em outubro de 2011, que teve como alvo projetos nos setores aeroespacial e automotivo, com foco nas cidades de Birmingham, Black Country, Coventry e Liverpool. Em dezembro de mesmo ano, £ 100 milhões foram concedidos em duas rodadas nacionais com alvo em um conjunto de setores mais amplo, incluindo energia renovável, química e nuclear. Duas novas rodadas foram realizadas em 2013 financiando projetos industriais no montante total de £ 120 milhões.
Em setembro de 2012, o então Departamento de Empresas, Inovação e Competências (BIS) consolidou a nova abordagem setorial da estratégia industrial britânica no documento Industrial Strategy: UK sector analysis. Reconhecendo que diferentes setores necessitam de diferentes níveis de suporte, a nova abordagem estabelece um espectro para a intervenção governamental, de medidas mais horizontais ao envolvimento direto do governo com os setores na moldagem de seu desenvolvimento.
Nesse documento, o Secretário Vince Cable também anunciou a intenção do governo em construir e manter parcerias estratégicas, com foco especial no desenvolvimento da competitividade empresarial, com setores nos quais o país possui forte vantagem comparativa, abrangendo as seguintes áreas: Manufatura avançada, especialmente aeroespacial, automotiva e ciências da vida; Serviços comercializados intensivamente em conhecimento, particularmente serviços profissionais / empresariais, economia da informação e aspectos comerciais da educação superior e educação continuada; e Indústrias habilitadoras como energia e construção. Essa nova abordagem representou, segundo Sullivan e outros (2013), uma mudança substancial nas políticas do governo britânico em relação à indústria de transformação.
A Estratégia Industrial de 2013
Em 2013, o governo de Coalisão anunciou a Estratégia Industrial, que, embora não tivesse como alvo exclusivo o setor da indústria de transformação, contribuiu para preparar as empresas industriais britânicas para enfrentar o aumento na competição e aproveitar as oportunidades nos mercados globais associadas à incorporação de novas tecnologias. A Estratégia foi construída em torno de cinco temas:
Parcerias setoriais: Auxiliar os setores a aumentar a competitividade global, ampliar a inovação e a maximizar o potencial de exportação.
Tecnologias: Apoiar o desenvolvimento e comercialização de tecnologias nas quais o Reino Unido possui expertise em pesquisa e capacidade de negócios para se tornar um líder mundial.
Acesso das pequenas empresas ao financiamento: Ajudar as pequenas empresas com potencial de crescimento a obter o financiamento necessário para investir em pessoas e equipamentos e crescer.
Habilidades e competências: Trabalhar para fornecer as habilidades e competências de que os empregadores precisam, dando às empresas maior influência sobre a maneira como o financiamento das habilidades pelo governo é utilizado.
Compras públicas. Fazer uso das compras governamentais para promover o desenvolvimento de cadeias de suprimento no Reino Unido e criação de um sistema de compras do setor público mais simples, transparente e mais efetivo. O governo fixou como objetivo que 25% de seus gastos em aquisições sejam destinados às PMEs até 2015.
Os três primeiros temas se referem a setores, econômicos ou tecnológicos, e a um segmento empresarial (PMEs), enquanto os dois últimos são temas transversais, que dizem respeito a todos os setores de atividade.
As parceiras estratégicas foram estabelecidas mediante a criação de conselhos setoriais ou “grupos de liderança”, formados por altos executivos industriais e funcionários públicos, responsáveis pelo desenvolvimento de estratégias coerentes de longo prazo em setores fundamentais, para atender às necessidades de habilidades, tecnologia, P&D, acesso a financiamento e aquisições governamentais. Na avaliação do governo britânico, a colaboração duradoura entre as empresas e o governo permitirá que a indústria planeje investimentos com um horizonte temporal mais longo.
De acordo com o documento do BIS, Industrial Strategy: Government and industry in partnership. Progress Report, publicado em abril de 2014, foram criados (e/ou renovados) conselhos setoriais em parceria com as empresas privadas para setores estratégicos da indústria manufatureira: aeroespacial, tecnologias agrícolas, automotivo, ciências da vida, energia renovável de alto mar e nuclear. Outros setores da indústria que também estabeleceram com o governo foram: indústria eletrônica, produtos químicos, compósitos, alimentos e bebidas, setor ferroviário. Parcerias setoriais foram igualmente estabelecidas com os setores de construção, economia da informação, educação internacional, óleo e gás, economia criativa e comércio varejista.
A parceria entre o governo britânico e o setor da indústria eletrônica merece destaque, pois esse setor industrial é considerado como um dos que mais impulsionam a inovação e criatividade em qualquer economia desenvolvida. Embora não tenha sido classificado como setor-chave na Estratégia Industrial, é também conhecido como um setor industrial “horizontal”, dado que reúne habilidades e conhecimentos compartilhados que afetam muitos setores “verticais”, tais como: aeroespacial, automotivo e automação.
O Conselho de Eletrônica e Sistemas Elétricos (ESCO) representa as indústrias eletroeletrônicas, incluindo empresas que projetam, implantam e suportam hardwares construídos usando uma combinação de chips eletrônicos altamente integrados e de baixíssima potência; sistemas eletrotécnicos de média e alta potência e software integrado (o software de baixo nível que controla o hardware). Atualmente denominado ElecTech Council, esse Conselho é um grupo crescente de empresas, abrangendo empresas Tier1 da cadeia de suprimento, PMEs e start-ups, apoiadas por vários departamentos governamentais, para representar e impulsionar o suporte para o setor da indústria ElecTech, que é o coração de todo sistema de automação e de todos os robôs.
As prioridades estabelecidas para esse setor incluem: enfrentar os desafios de escassez de competências e habilidades do setor; assumir um papel de liderança na área de automação industrial; acelerar o crescimento em outros setores por meio do uso de seus sistemas eletrônicos nas cadeias de fornecimento do Reino Unido; e capitalizar as oportunidades potenciais de crescimento oferecidas pela Internet das Coisas (IoT).
A ênfase à P&D e à industrialização de tecnologias emergentes relacionadas à indústria de transformação é outro aspecto importante da Estratégia Industrial britânica. A grande maioria das oito prioridades tecnológicas definidas pela Estratégia Industrial - Big data e a computação com eficiência energética; Satélites e aplicações comerciais do espaço; Robótica e sistemas autônomos; Ciências da vida, genômica e biologia sintética; Medicina regenerativa; Agrociência; Materiais avançados e nanotecnologia; Energia e seu armazenamento _ tem impacto direto no setor industrial.
No orçamento do ano fiscal de 2012/2013, foi incluída uma dotação adicional de £ 600 milhões para financiamento da pesquisa científica. Esse montante se somou ao orçamento de ciência e tecnologia de £ 4,6 bilhões por ano, cujos recursos são vinculados e protegidos de cortes em momentos de ajuste fiscal.
A Estratégia Industrial contou com dotação superior a £ 4 bilhões, com intuito de mobilizar bilhões a mais em recursos do setor privado. Desse total, £ 1 bilhão foi destinado à criação do banco de desenvolvimento British Business Bank, cuja missão é facilitar o acesso das empresas, em particular PMEs, ao financiamento bancário. A ideia é que pequenas somas de financiamento público sejam fornecidas para alavancar o financiamento privado. O montante de £ 1 bilhão foi direcionado ao financiamento, em conjunto com o setor privado, de iniciativas tais como: a criação do Instituto de Tecnologia Aeroespacial, do Centro de Propulsão Avançada, projetos de desenvolvimento de competências em setores e tecnologias. E os dois bilhões restantes foram destinados ao Green Investment Bank (GIB), criado em 2012 para financiar a infraestrutura de baixo carbono, e privatizado em 2016.
Com intuito de impulsionar o uso mais estratégico das compras governamentais, o governo britânico fixou, em 2013, uma meta £ 200 milhões ao ano para o programa SBRI, voltado à promoção de inovação e crescimento de pequenas empresas de base tecnológica. Todavia, essa meta ainda não havia sido alcançada em 2016, dado que há muitos departamentos que não usam o SBRI.
Com a vitória do partido conservador nas eleições de 2015, a execução de algumas iniciativas da Estratégia Industrial foi descontinuada ou se arrefeceu, enquanto outras como o projeto da Rede Catapulta, que se beneficiava de apoio suprapartidário, continuaram a contar com apoio firme do novo gabinete. A aprovação plebiscitária da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) em julho de 2016 reforçou, todavia, a necessidade de o país contar com uma indústria de transformação forte e tecnologicamente avançada, capaz de competir globalmente pelas oportunidades de mercado criadas pelas novas tecnologias emergentes.
A Nova Estratégia Industrial do Reino Unido
Uma das primeiras ações da nova líder do partido conservador, que substituiu David Cameron nas funções de primeiro ministro em julho de 2016, foi criar um novo ministério, o Departamento de Empresas, Energia e Estratégia Industrial (BEIS). Sinalizando, como ressalta COLEBROOK (2016), a intenção do novo governo de lançar uma abordagem mais intervencionista e ambiciosa da política econômica. De fato, sob o comando de Theresa May, o governo do Reino Unido lançou um documento oficial de consulta e debate (Building our Industrial Strategy, Green Paper, Department for Business, Energy and Industrial Strategy - BEIS, January 2017), em janeiro de 2017, sobre uma nova estratégia industrial, elaborada em torno de dez pilares, que se reforçam mutuamente:
1. Investir em ciência, pesquisa e inovação, com vistas a tornar o Reino Unido uma economia mais inovadora e fazer mais para comercializar a base científica líder mundial;
2. Desenvolver habilidades, ajudando as pessoas e as empresas a prosperar: garantindo que todos tenham as habilidades básicas necessárias em uma economia moderna baseada em conhecimento;
3. Modernizar a infraestrutura, atualizando os padrões de desempenho em infraestrutura de defesa digital, de energia, transporte, água e inundação, e alinhando melhor o investimento em infraestrutura do governo central com as prioridades de crescimento locais;
4. Apoiar as empresas a iniciar atividades e a crescer, garantindo acessar as habilidades financeiras e administrativas necessárias para crescer e criando as condições certas para as empresas investirem no longo prazo;
5. Melhorar a compras governamentais, utilizando-as de modo estratégico para impulsionar a inovação e permitir o desenvolvimento das cadeias de fornecimento no Reino Unido.
6. Incentivar o comércio e o investimento direto estrangeiro para impulsionar a produtividade e o crescimento em toda a economia;
7. Fornecer energia acessível e crescimento limpo, de modo a manter os custos baixos para as empresas e garantir os benefícios econômicos da transição para uma economia de baixo carbono;
8. Cultivar os setores líderes mundiais, aproveitando as vantagem competitiva e ajudar novos setores a florescer, em muitos casos desafiando os incumbentes.
9. Impulsionar o crescimento em todo o país, criando uma estrutura para aproveitar e manter os pontos fortes de diferentes lugares;
10. Criar instituições certas para reunir setores e locais, avaliando as melhores estruturas para apoiar pessoas, indústrias e lugares.
Após receber contribuições de mais de 2.000 empresas e organizações de todas as partes do Reino Unido, o governo britânico lançou, em novembro de 2017, o documento final (Industrial Strategy: Building a Britain fit for the future. White Paper, BEIS, November 2017) da nova estratégia industrial, com vista a promover o aumento da produtividade. A Estratégia Industrial estabeleceu também quatro Grandes Desafios em áreas nas quais o Reino Unido pode liderar a revolução tecnológica mundial:
• Inteligência artificial e big data – colocar o Reino Unido na vanguarda da inteligência artificial e da revolução dos dados;
• Crescimento limpo – maximizar as vantagens e oportunidades para a indústria do Reino Unido na transição do mundo para uma economia de baixo carbono;
• Mobilidade – tornar o Reino Unido líder mundial na forma como pessoas, bens e serviços se movem;
• Sociedade em Envelhecimento – aproveitar o poder da inovação para ajudar a satisfazer as necessidades de uma sociedade em envelhecimento.
A nova Estratégia Industrial do Reino Unido busca fortalecer os cinco fundamentos da produtividade, estabelecendo para cada um deles objetivos ambiciosos e ações de política: Ideias, Pessoas, Infraestrutura, Ambiente de Negócio e Locais. Por questão de espaço, essa resenha apresenta maiores detalhes apenas sobre os temas Ideias e Ambientes de Negócios.
Ideias como fundamento da produtividade se refere basicamente à inovação no sentido amplo, ou seja, novas ideias, novas formas de fazer as coisas, novos produtos e serviços, novas tecnologias e novos modelos de negócios. Para tornar o Reino Unido, a economia mais inovadora do mundo, a Estratégia Industrial propõe enfrentar quatro desafios principais.
O primeiro desafio é que nem o governo nem o setor privado estão investindo o suficiente em pesquisa e desenvolvimento, o que inibe ganhos de produtividade dos negócios e dos serviços públicos. Mesmo considerando a estrutura da economia britânica, dominada pelos serviços e não pela indústria de transformação, setor tradicionalmente intensivo em P&D, o país investe comparativamente pouco. O Reino Unido investe menos em P&D do que a maioria de seus principais concorrentes: apenas 1,7% do PIB ante a 2,8% do PIB nos Estados Unidos, 2,9% do PIB na Alemanha e 2,3% na França. Isso significa que o Reino Unido corre o risco de perder a corrida mundial para desenvolver as tecnologias e inovações que moldarão os negócios e mercados do futuro.
O investimento empresarial em P&D no Reino Unido é relativamente baixo. As atividades de P&D realizadas pelas empresas estão concentrada em um pequeno número de grandes empresas e em um pequeno número de setores, como farmacêuticos, veículos automotores e tecnologias de computação e informação. De fato, cerca de 400 empresas são responsáveis pouco mais de três quartos do investimento britânico privado em P&D. Comparativamente aos seus concorrentes europeus, um número menor de PMEs britânicas introduzem novos produtos e processos. Além disso, os dados mais recentes mostram que a força da pesquisa no Reino Unido está sendo desafiada pelas economias emergentes.
O segundo desafio é melhorar a capacidade de transformar ideias inovadoras interessantes em produtos e serviços comerciais e capturar seu valor máximo no próprio país. Houve grandes avanços nas universidades e laboratórios de pesquisa britânicos comprados por empresas globais - de ressonância magnética nos anos 1970, baterias de íons de lítio nos anos 1980, anticorpos monoclonais nos anos 1990 e sequenciamento genético na década de 2000. Porém, todas essas ideias pioneiras do Reino Unido foram desenvolvidas em outros lugares ou compradas por empresas do exterior. No âmbito das atividades de P&D, o desenvolvimento precisa de um impulso especial.
Grande parte da inovação britânica tende a estar em áreas como software e imagem de marca, incluindo marketing e publicidade, que muitas vezes exigem menos capital paciente para financiá-los. O país é forte em inovações de baixo custo e start-ups flexíveis, mas o processo longo e paciente de colocar uma nova tecnologia no mercado é difícil. Como resultado, muitas empresas inovadoras são ágeis, flexíveis e imaginativas, mas não se tornam substanciais, grandes ou fortes. Há exceções, mas, em geral, as atividades de P&D das empresas britânicas tende a favorecer rotas rápidas para o mercado, em vez de longos períodos de desenvolvimento, e a vender as empresas para seu crescimento.
O terceiro desafio é construir excelência em pesquisa e inovação em todo o Reino Unido. Há P&D de classe mundial e inovação sendo realizado em toda parte do país, desde excelentes pesquisas em departamentos universitários e organizações de pesquisa pública até investimentos de empresas líderes. Porém, é preciso aproveitar esses pontos fortes e promover os ecossistemas locais que podem apoiar a inovação e o crescimento sustentado.
O quarto e último desafio é garantir que o Reino Unido continue sendo um líder mundial em colaboração global em ciência e inovação. Um total de 17% do investimento britânico em P&D é financiado pelo exterior e metade do P&D privado no país foi realizado por empresas de propriedade estrangeira. Metade de todas as publicações de pesquisa científica do Reino Unido em 2014 foi coautoria internacional – uma parcela que tem aumentado a cada ano desde 2010 – com esses artigos tendendo a ter uma pontuação mais alta em excelência e impacto. Mas a liderança do Reino Unido está sendo desafiada pelas economias emergentes e pela concorrência crescente na atração de talento de pesquisa e o investimento privado.
De acordo com o governo britânico, se esses desafios foram enfrentados, o país será mais forte não apenas em P&D e inovação mais ampla, mas também em maximizar os benefícios de produtividade e poder aquisitivo para empresas e pessoas em todo o país. A ambição do governo May é tornar o Reino Unido, até 2030, o país mais inovador do mundo: um lar para as mais dinâmicas empresas na vanguarda de novas tecnologias e processos. Isso significa investir em P&D e nas habilidades necessárias em um ambiente de trabalho em mutação para maximizar as recompensas e os benefícios que a inovação pode trazer para todos.
Na Estratégia Industrial, o governo May estabelece o objetivo de elevar a 2,4% do PIB o investimento bruto total em P&D até 2027 e a atingir 3% do PIB no longo prazo, colocando o Reino Unido no primeiro quartil dos países da OCDE. Para alcançar essa meta, será necessário aumentar o investimento público e privado em P&D em até £ 80 bilhões por ano durante os próximos dez anos. O governo se compromete a elevar o investimento público em P&D de cerca de £ 9,5 bilhões no ano fiscal 2016/17 para cerca de £ 12,5 bilhões no ano fiscal de 2021/22, destinando estrategicamente esses recursos extras para tecnologias e ideias mais próximas da etapa de comercialização de modo a impulsionar a competitividade do Reino Unido.
Entre outras medidas, o governo investirá mais £ 725 milhões em uma segunda rodada do programa Desafio de Estratégia Industrial para responder a alguns dos maiores desafios e oportunidades globais: da mudança climática à automação. Essa iniciativa reunirá a pesquisa de classe mundial no Reino Unido com investimento empresarial para desenvolver as tecnologias e indústrias do futuro e garantir que o valor dessas inovações seja captura pela economia doméstica.
O governo britânico investirá £ 300 milhões nos próximos três anos em talentos de nível mundial, inclusive em áreas prioritárias alinhadas à Estratégia Industrial, como inteligência artificial, para aprimorar a força de trabalho qualificada e atrair investimentos em P&D do setor privado. Esse investimento se concentrará na colaboração e no fluxo de pessoas entre a indústria e a academia, e a pesquisa e inovação interdisciplinares e de ponta para apoiar o programa da Estratégia Industrial. O apoio incluirá desde parcerias de transferência de conhecimento e programas de doutoramento a prêmios de prestígio para estrelas em ascensão e os melhores talentos do Reino Unido e do estrangeiro.
Para incentivar o investimento privado em P&D, o governo britânico propôs elevar de 11% a 12% o crédito fiscal para os gastos com P&D a partir de 1º de janeiro de 2018. Para dar às empresas a confiança necessária para tomar decisões de investimento em P&D, o governo lançará, igualmente, um novo Serviço de Liberação Avançada de Créditos por Gastos com P&D. Também trabalhará com empresas de pequeno e médio porte, e aquelas que desenvolvem tecnologias novas e emergentes, para garantir que possam acessar o montante máximo de apoio dos créditos fiscais de P&D e lançará uma campanha para aumentar a conscientização nesses setores.
O governo também se comprometeu a melhorar o mercado de compras públicas, importante fonte de financiamento para empresas inovadoras. O Reino Unido possui um programa de pesquisa em inovação para pequenas empresas (SBRI), o qual, contudo, não é tão eficaz quanto o seu similar norte-americano (SBIR), na utilização do instrumento de compras públicas para promover a inovação. Assim, na Estratégia Industrial, o governo May se comprometeu a reorientar o programa SBRI para aumentar seu impacto para as pequenas empresas inovadoras e a capacitar o setor público para impulsionar a produtividade. Como primeiro passo, em novembro de 2017, foi lançado uma iniciativa denominada GovTech Catalyst com dotação de até £ 20 milhões em três anos, que usará o SBRI para apoiar empresas de tecnologia que forneçam soluções inovadoras para serviços públicos mais eficientes.
A Estratégia Industrial prevê um papel crescente para os Centros Catapulta que, como foi visto, são peças-chave do sistema nacional de inovação do Reino Unido, ajudando acelerar a comercialização de tecnologias novas e emergentes. As Catapultas irão receber financiamento governamental em um montante provisório de £ 178 milhões. Em 2018, o governo deverá discutir os planos de negócio de modo a assegurar o financiamento de longo para essas organizações que fazem a ponte entre as empresas, a academia e o setor público, reunindo as melhores pessoas em seus campos, para trabalhar lado a lado em pesquisa e desenvolvimento em estágio avançado e transformar ideias de alto potencial em novos produtos e serviços.
No que se refere ao ambiente de negócios, embora o país já possua uma reputação mundial como um bom lugar para negócios, a Estratégia Industrial tem como objetivo tornar o Reino Unido o melhor lugar para começar e fazer crescer um negócio, atraindo inovadores de todo o mundo. Com esse intuito, o governo britânico pretende atuar para impulsionar a produtividade em empresas de todos os tamanhos, aumentando a colaboração como o setor privado e com universidades e instituições de pesquisa, desenvolvendo habilidades dos trabalhadores, garantindo que todos tenham a oportunidade de um bom trabalho e empregos com altos salários. Igualmente, pretende garantir que o setor financeiro esteja mais bem conectado ao resto da economia, gerando investimentos impactantes.
O Reino Unido abriga um dos grandes centros financeiros do mundo, com acesso a um profundo mercado de capital e investidores domésticos e estrangeiros atraídos pela reputação de jurisdição rigorosa. Todavia, essa vantagem não é interinamente aproveitada para fornecer acesso a financiamento para empresas em crescimento. As empresas iniciantes e as pequenas empresas de base tecnológica com alto potencial de crescimento ainda enfrentam obstáculos na obtenção de financiamento para ampliar suas atividades e atingir todo o seu potencial.
Para ajudar empresas inovadoras de alto crescimento a alcançar seu potencial, o governo May lançou um plano de ação para mobilizar mais de £ 20 bilhões de investimento nessas empresas nos próximos 10 anos mediante:
• Criação um novo fundo de investimento de £ 2,5 bilhões, incubado no British Business Bank, para ser comercializado ou vendido uma vez que tenha estabelecido um histórico suficiente. O fundo, por meio de co-investimento com o setor privado, liberará um investimento total de £ 7,5 bilhões, garantindo que as empresas possam ter acesso ao capital de que precisam para crescer e se tornar líderes mundiais;
• Ampliação significativa do apoio que as empresas intensivas em conhecimento podem receber através do Esquema de Investimento Empresarial (EIS, na sigla em inglês) e dos Trusts de Venture Capital (VCTs, na sigla em inglês), liberando mais de £ 7 bilhões de novos investimentos;
• Fornecimento de capital semente, através do British Business Bank, para série de fundos de fundos do setor privado, com uma primeira onda de investimento de até £ 500 milhões de libras esterlinas, entregue, desbloqueando o dobro desse investimento em capital privado. Até duas novas ondas serão lançadas, atraindo um total de até £ 4 bilhões de investimento.
• Apoio a gestores de fundos novos e emergentes através do programa Enterprise Capital Fund do British Business Bank, apoiando pelo menos £ 1,5 bilhão em novos investimentos;
• Apoio ao investimento estrangeiro no mercado britânico de capital de risco, o que deverá gerar £ 1 bilhão de investimento.
Na Estratégia Industrial, o governo britânico também se compromete a promover o investimento de longo prazo, fornecendo confiança aos fundos de pensão de que, como parte de um portfólio diversificado, podem investir em ativos que respaldam empresas inovadoras. Como os fundos de pensão britânicos detêm mais de £ 2 trilhões em ativos, pequenas mudanças na carteira de investimento têm o potencial de transformar a oferta de capital para empreendimentos inovadores.
Nessa nova Estratégia Industrial, as parceiras setoriais, agora denominadas de Acordo Setoriais, continuam desempenhando um papel-chave na identificação de temas considerados prioritários pelas empresas para a transformação dos seus setores e que exigem ação governamental. O governo May reconhece o sucesso das iniciativas dos sucessivos governos na presente década e, embora enfatize que nenhuma iniciativa setorial deve ser uma estratégia para a incumbência, razão pela qual o governo encorajará abertamente as empresas futuras, bem como os players existentes, se compromete a trabalhar efetivamente com os setores existentes e emergentes; ajudando a identificar onde as intervenções específicas podem ajudar a aumentar a produtividade.
Alguns acordos setoriais já foram firmados (ciências da vida, construção, inteligência artificial e setor automotivo), enquanto outros estão em discussão. Esses são os casos dos setores de indústrias criativas e de digitalização industrial.
A proposta de parceria entre o setor de tecnologias de digitalização industrial e o governo britânico, apresentada no documento Made Smarter: Review 2017, foi elaborada, sob a liderança do professor Juergen Maier, principal executivo da Siemens no Reino Unido, com contribuição expressiva da comunidade empresarial, incluindo pequenas empresas, bem como de universidades líderes e investidores globais de vários setores industriais. O documento enfatiza que uma forte parceria entre empresas industriais e o governo e um foco na liderança, na adoção de tecnologias digitais industriais (IDT, na sigla em inglês) e em inovação digital podem tornar o Reino Unido um líder global na promoção da quarta revolução industrial. Também sugere a criação de um “órgão nacional, a Comissão Made Smarter UK (MSUK), abrangendo indústria, governo, academia, educação complementar e organizações líderes de pesquisa e inovação, que seriam responsáveis pelo desenvolvimento do país como líder em tecnologias e habilidades de digitalização industrial, com um mandato para desenvolver a marca doméstica e global da Indústria 4.0 do Reino Unido”.
Setor de ciências da vida. O Acordo entre setor de ciências da vida e governo visa, por exemplo, assegurar que o Reino Unido permaneça na vanguarda da inovação neste setor transformador e multibilionário (£ 64 bilhões em faturamento e empregando mais de 233.000 cientistas e funcionários). Esse setor, que inclui a indústria farmacêutica, reúne grandes empresas líderes mundiais, como a GSK e a AstraZeneca, um forte setor de pequenas e médias empresas, grandes instituições sem fins lucrativos para a saúde, como o Wellcome Trust e o Cancer Research UK. Esse acordo setorial ajudará a garantir que novos tratamentos pioneiros e tecnologias médicas sejam produzidos no Reino Unido, melhorando a vida dos pacientes e dirigindo crescimento econômico. O acordo envolve investimentos substanciais do setor privado e do setor beneficente e compromissos significativos do governo em pesquisa e desenvolvimento.
Setor de Inteligência artificial. O acordo com o setor de Inteligência artificial estabelecerá uma parceria duradoura entre a indústria, a academia e o governo por meio do Conselho de Inteligência Artificial do Reino Unido, onde todos os parceiros trabalharão juntos para promover a aplicação segura e justa dessa tecnologia. O acordo contém compromissos mútuos para incentivar o compartilhamento responsável de dados para desenvolver novos valores e garantir que o Reino Unido produza e retenha o melhor talento global. O governo britânico investirá £ 45 milhões para apoiar doutorados adicionais em inteligência artificial e disciplinas relacionadas e para criar um prestigiado programa de bolsas estudos em inteligência artificial. Também irá trabalhar junto com o setor para desenvolver um programa de mestrado financiado pela indústria.
O acordo reconhece a importância crítica da disponibilidade de dados e seu uso responsável para as empresas na vanguarda do desenvolvimento de aplicativos de inteligência artificial. O governo e a indústria trabalharão juntos para estabelecer relações de confiança de dados, uma abordagem inovadora para estimular o compartilhamento justo, seguro e equitativo de dados entre as partes.
Setor automotivo. O acordo com o setor automotivo baseia-se na parceria de longa data do governo com o setor e procura assegurar que o Reino Unido continue a colher os benefícios da transição para veículos com emissão ultrabaixa e de emissão zero e a construir a cadeia de suprimentos ágil, inovadora e competitiva em termos de custo, necessária para garantir a mobilidade internacional do investimento e ancorar produção industrial de alto valor no país.
O setor automotivo britânico é uma grande história de sucesso. O setor é o terceiro maior produtor europeu de automóveis e registra a maior produtividade entre os principais países europeus produtores de automóveis. O setor emprega 159.000 pessoas diretamente na fabricação de veículos, com um adicional de 238.000 na cadeia de fornecimento, proporcionando empregos altamente qualificados e bem remunerados.
A transição para emissões ultrabaixas e veículos autônomos e conectados (CAV) oferece uma oportunidade para maximizar os benefícios econômicos para a cadeia de suprimentos do Reino Unido. A estreita parceria do governo e da indústria já levou a melhorias significativas na competitividade da cadeia de suprimentos do Reino Unido nos últimos anos, aumentando o nível de conteúdo do Reino Unido em veículos produzidos nacionalmente de 36% em 2011 para 44% em 2016.
O governo, através do Centro de Propulsão Avançada Center, já está apoiando o desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono que formarão a base das futuras cadeias de fornecimento de CAV. A fim de manter a posição como líder global, o governo e a indústria definiram ações específicas para desenvolver este trabalho.
O aumento da produtividade e da competitividade dos fornecedores britânicos da cadeia automotiva, especialmente à medida que surgem novas cadeias de valor, é considerado fundamental para o setor. Um programa de melhoria de produtividade liderado pela indústria será lançado para áreas-alvo onde as empresas precisam melhorar para se equiparar às melhores da Europa. O programa fornecerá treinamento sob medida e processos de negócios aprimorados para ajudar a construir a cadeia de suprimento verticalmente integrada necessária para produção em volume da futura geração de veículos no país. Isso irá apoiar a ambição setorial de aumentar o nível de conteúdo do Reino Unido em veículos produzidos nacionalmente para 50% até 2022.
Visão dos Empresários sobre os Avanços e Debilidades do Reino Unido na Adoção das Tecnologias da 4ª Revolução Industrial
O Made Smarter: Review 2017 traz uma avaliação detalhada do “estado da arte” dessas tecnologias associadas à Quarta Revolução Industrial no Reino Unido. Segundo o documento, a aplicação de tecnologias digitais industriais (IDTs), como manufatura aditiva, inteligência artificial e robótica, internet industrial das coisas (IIoT), análise de dados e realidade virtual já resultou em melhorias transformacionais na produtividade das empresas que exploraram seu potencial, mas existe a oportunidade de ir mais longe.
As estimativas realizadas pela equipe responsável pela elaboração do Made Smarter indicam que o impacto positivo de inovação mais rápida e da adoção de IDTs poderia chegar a £ 455 bilhões para a indústria britânica na próxima década, aumentando o crescimento do setor manufatureiro entre 1,5% e 3% ao ano, criando um ganho líquido de 175.000 empregos em toda a economia (estimativa conservadora) e reduzindo as emissões de CO2 em 4,5%. No geral, a partir dos dados e evidências coletadas, a produtividade industrial no Reino Unido pode ser melhorada em mais de 25% até 2025.
O Reino Unido já possui uma forte combinação de pesquisa e desenvolvimento de ponta e vários setores de alto desempenho na aplicação da digitalização no projeto, produção e prestação de serviço pelas empresas industriais. Alguns exemplos:
• A indústria aeroespacial já está apoiando o desenvolvimento e a adoção de tecnologias específicas, que definirão a revolução da digitalização industrial, incluindo manufatura aditiva, robôs colaborativos, inteligência artificial, análise de dados e realidade virtual e aumentada (VR e AR).
• Empresas, como a Unilever e AB Sugar, são líderes na aplicação das IDT para tratar da sustentabilidade. Dentro do setor de alimentos e bebidas, o Reino Unido é visto como um líder global em sistemas de monitoramento de refrigeração via IoT e em sistemas de segurança e rastreabilidade de alimentos.
• O Reino Unido tem o mercado mais forte de IA e aprendizado de máquina na Europa, com mais de 200 PMEs (em comparação com apenas 81 na Alemanha e 50 nos países nórdicos e na França).
• O Reino Unido está investindo significativamente em áreas-chave de infraestrutura, como as energias renováveis (devido ao forte incentivo a esse setor), que oferece uma oportunidade para estimular a criação de novas cadeias de fornecimento locais com um alto índice de adoção de IDTs.
Todavia, a adoção e aplicação das tecnologias digitais não são consistentes em todos os setores industriais. O país não está aproveitando essas vantagens potenciais, aplicando essas tecnologias de maneira coordenada e estratégica. O Made Smarter identificou três temas que limitam a capacidade do Reino Unido de atingir seu potencial.
1. Falta de liderança efetiva da digitalização industrial. Não há uma liderança nacional intersetorial que ofereça visão, direção e coordenação estratégicas voltadas para o mercado, de modo que o país possa maximizar as oportunidades e estabelecer uma abordagem e oferta claras para os investidores estrangeiros.
2. Baixos níveis de adoção de tecnologia digital e de automação, particularmente entre as PME. As empresas, e em particular as PMEs, enfrentam obstáculos significativos à adoção, como riscos em relação à segurança cibernética e falta de padrões comuns que permitam a conexão de diferentes tecnologias. As empresas também enfrentam escassez de habilidades, especialmente em recursos de engenharia digital.
3. Ativos de inovação insuficientemente alavancados para apoiar start-ups / scale-ups. Embora o Reino Unido seja líder em pesquisa e inovação e conte com uma infraestrutura de suporte para desenvolver e comercializar tecnologia, esses ativos de inovação não estão sendo, suficientemente, alavancados e focados no apoio às start-ups de IDTs. Com isso, o país está ficando para trás na criação de novas empresas e indústrias inovadoras nesse setor.
Maiores detalhes sobre os avanços e debilidades do Reino Unido nas principais tecnologias de IDTs são apresentados a seguir.
Manufatura Aditiva. A Manufatura Aditiva (AM, na sigla em inglês) ou Impressão 3D apresenta uma oportunidade de transformar radicalmente determinados ciclos de vida de produção industrial, alterando os próprios limites do que pode ser produzido física e economicamente. Embora a AM atualmente só possa ser aplicada a certos casos de utilização manufatureira específicos, ela é, no entanto, considerada um facilitador-chave do que está sendo denominado como a 4ª Revolução Industrial e está no coração da indústria de transformação de alto valor (HVM).
O Reino Unido está entre os líderes mundiais em pesquisa, inovação e adoção da tecnologia AM para aplicações de alto desempenho nos setores médico, aeroespacial e outros setores da indústria. É uma força global em materiais avançados, tecnologia, ciências da vida e fabricação de alto valor. Está equipado com uma forte capacidade em universidades, catapultas e organizações de P&D. O país conta com uma base relativamente pequena, mas sólida, de empresas que aplicam AM nas atividades de desenvolvimento de produtos para prototipagem e ferramenta.
O valor agregado diretamente atribuível aos produtos e serviços de AM no Reino Unido ainda é bastante modesto: £ 300 milhões (£ 6 bilhões em todo o mundo). Porém, vem registrando taxa anual de crescimento de 30%, que deve se elevar com a superação dos problemas de padrões, consistência de matéria-prima, proteção de IP e verificação de peças. O potencial da AM é reconhecido por várias empresas e institutos acadêmicos do Reino Unido, com um investimento esperado da indústria em AM de £ 600 milhões nos próximos 5 anos, e mais de £ 30 milhões de gastos em pesquisa relacionada à AM.
A despeito desse potencial, grande parte das empresas britânicas não tem conhecimento, recursos ou confiança para aplicar a AM como parte essencial das suas ferramentas de produção. Falta de conhecimento, falta de habilidades e ausência de análise de rentabilidade clara para investimento de capital são as três principais razões pelas quais a AM não está sendo mais amplamente adotada pela indústria britânica. Há também uma preocupação crescente com a gestão e proteção da proteção intelectual (IP) do design.
Em termos comparativos, apenas 17% das empresas britânicas têm experiência com AM, ante 37% na Alemanha e 24% na China. Para as empresas britânicas que fazem uso de tecnologias AM, a receita gerada representa apenas cerca de 1% da receita total da empresa. Isso se compara com 8,8% nos EUA e uma média de 2% em todos os países
A maioria das empresas industriais britânicas (particularmente dentro da comunidade das PME) vê a AM como uma tecnologia um tanto imatura que pode oferecer benefícios em termos de prototipagem, mas para as quais as barreiras à entrada para aplicações de produção completa são muito altas. Somente com apoio governamental ativo e visível e financiamento, a capacidade de produção necessária pode ser ampliada e ancorada no Reino Unido.
Inteligência Artificial (AI) na Digitalização Industrial. A tecnologia comumente referida como inteligência artificial ou aumentada, computação cognitiva ou aprendizado de máquina vai afetar todas as facetas do trabalho e da vida com o poder de transformá-las radicalmente. Uma parte significativa do benefício econômico da AI virá da combinação de sistemas de inteligência artificial e pessoas, permitindo que a força de trabalho atual concentre-se nas partes de seu trabalho que agregam mais valor, complementadas por novas ferramentas que as ajudam na tomada de decisões. A adição da capacidade de inteligência artificial também permite uma melhor utilização dos investimentos de capital existentes, melhorando a eficiência, a qualidade e reduzindo os custos.
Embora de modo limitado, algumas empresas industriais já estão empregando tecnologias de AI. Essas utilizações se enquadram em três áreas de negócios:
• Ativos e Equipamentos Inteligentes: ativos e equipamentos equipados com sensores e combinados com a capacidade da IA detectam, comunicam e fazem diagnóstico de problemas para otimizar o desempenho e reduzir o tempo de inatividade. A manutenção baseada no tempo pode ser substituída pela manutenção preditiva e, por fim, prescritiva, em que os sistemas não apenas preveem a necessidade de manutenção com base em algoritmos de aprendizado de máquina, mas também atendem a essa necessidade. Isso leva a um melhor desempenho da linha de produção e reduz o tempo de inatividade (do equipamento), melhorando a eficiência do processo.
• Processos e Operações de IA: Sistemas Cognitivos ou de IA suportam a análise do volume e complexidade crescentes de dados coletados pelas empresas para apoiar uma melhor tomada de decisões e melhorar as operações e a qualidade. As empresas podem, assim, melhorar a produtividade e a sustentabilidade por meio do inventário e da redução de desperdícios, além de melhorar a qualidade e o rendimento.
• Otimização inteligente de recursos: otimizar o uso de pessoas, energia e conhecimento é fundamental para melhorar os níveis de produtividade e reduzir os custos. Usar o AI para analisar dados de dispositivos IoT pode melhorar a segurança, a produtividade e a experiência do trabalhador, além de reduzir o consumo de energia.
O Reino Unido tem uma vantagem comparativa no desenvolvimento de tecnologias de IA com um ecossistema próspero de pesquisadores, desenvolvedores e investidores. Empresas britânicas de inteligência artificial, como Deep Mind, VocalIQ e Swiftkey foram adquiridas por empresas globais de tecnologia com base nas tecnologias que oferecem. Estima-se que existam pelo menos 226 empresas de software de IA em estágio inicial no Reino Unido, mais de 60% fundadas nos últimos três anos, embora esteja em um estágio anterior de desenvolvimento, com 75 % em estágio de financiamento “semente” ou “anjo”, comparado com 50% nos Estados Unidos. Mais de 80% oferecem ofertas funcionais específicas ou voltadas para o setor industrial, mas o número de soluções específicas de produção parece pequeno em comparação com a oportunidade identificada.
O Made Smarter destaca que as empresas industriais britânicas estão confusas com a combinação de exageros sobre os impactos potenciais da AI e falta de informações específicas sobre como a AI pode ajudar a resolver problemas específicos de seus negócios. Aqueles que superam esses desafios, em seguida, acham difícil construir um business case para investir. O número limitado de estudos de caso contribui para a dificuldade de quantificar o retorno do investimento (ROI) e o risco dos projetos.
Além disso, as empresas levantaram preocupações sobre a previsibilidade do resultado do aprendizado de máquina. A complexidade do ecossistema de AI, que inclui fornecedores, clientes, academia, governo, reguladores e outras partes interessadas, também foi destacada como um desincentivo à adoção dessas tecnologias.
Outra área mencionada pelas empresas como um potencial bloqueio para a adoção da AI é um nível de habilidade inadequado, com limitações que se enquadram em dois grupos distintos. A primeira diz respeito às habilidades necessárias para entender, desenvolver e implantar soluções de AI, mas a segunda, e potencialmente maior, preocupação é a capacidade da força de trabalho existente de trabalhar ao lado de tecnologias de inteligência artificial (cobótica, por exemplo).
Finalmente, as empresas expressaram uma variedade de preocupações sobre o compartilhamento e processamento de dados, desde a compreensão dos dados que uma organização processa e seu valor, passando por questões de proteção, segurança e responsabilidade ao compartilhar e processar esses dados, até os padrões de interoperabilidade que facilitarão compartilhamento.
Robótica e automação. O avanço da automação na Quarta Revolução Industrial é tão dramática quanto foi a introdução de motores a vapor na Primeira Revolução Industrial, só que acontece em um ritmo quatro vezes mais rápido. A automação e a digitalização da indústria de transformação contribuem para os pontos fortes do Reino Unido, tanto em tecnologias essenciais quanto em engenharia de sistemas, alavancando conjuntos de habilidades de P&D interdisciplinares para integrar e implantar novos fluxos de trabalho automatizados, alavancando tecnologias avançadas, como robôs.
O país conta com líderes da indústria em muitas das tecnologias essenciais para o futuro da automação e robótica, incluindo chips de silício (ARM), sensores (Renishaw), AR / VR (Imaginação), AI (GraphCore), energia (Dynex Semiconductor) e comunicações (5GIC Surrey; CSR, agora parte da Qualcomm).
O Reino Unido possui pesquisa líder mundial em robótica, em campos tão diversos quanto: assistência médica, veículos autônomos submarinos e aspiradores de pó. Grupos como o Centro de Robótica de Edimburgo, Sheffield Robotics, o Bristol Robotics Lab, o Hamlyn Centre do Imperial College são reconhecidos como colaboradores e inovadores significativos na pesquisa global de robótica. O país também possui algumas empresas de robôs altamente inovadores, como a Shadow Robot Company (robôs manuais artificiais), Peak Analysis and Automation (robôs de laboratório), Engineered Arts (robôs interativos de emulação humana) e Tharsus (robôs de armazém da Ocado e outros), enquanto Dyson é um exemplo de uma empresa de bens de consumo, que investe dezenas de milhões em robótica para eletrodomésticos.
Multinacionais automotivas como a Jaguar Land Rover e a Nissan já aproveitaram os benefícios dos robôs como parte fundamental de suas estratégias de automação em suas fábricas no Reino Unido - instalações que também são algumas das maiores empregadoras de sua região. Inovadores tecnológicos, como a Ocado, utilizam redes de milhares de robôs para elevar os níveis de produtividade e eficiência na logística de armazém.
No entanto, em geral, a absorção de automação industrial no Reino Unido é extremamente lenta em comparação com a maioria das outras nações desenvolvidas. Um dos símbolos mais emblemáticos da inovação na automação são os robôs. Os robôs são talvez uma das tecnologias mais poderosas e criativas que estão sendo desenvolvidas agressivamente na corrida por maior produtividade e produção mais econômica.
O Reino Unido tem apenas 33 robôs por 10.000 empregados, em comparação com 93 para os EUA e 170 para a Alemanha e essa diferença está aumentando. A Alemanha investe 6,6 vezes mais que o Reino Unido em automação, embora seu setor manufatureiro seja apenas 2,7 vezes maior. E em robôs por milhões de horas trabalhadas, o Reino Unido apresenta uma fração 10 vezes menor que a Alemanha ou o Japão. Em praticamente todas as métrica, o Reino Unido está ficando seriamente atrás de seus concorrentes.
Várias razões explicam a baixa automação pelas empresas industriais britânicas. Além da percepção negativa da sociedade em virtude do medo de que os robôs eliminem emprego humano, a aversão ao risco, a escassez de pessoal qualificado em automação e dificuldade de financiamento afetam os investimentos das empresas em automação e robótica. Com a falta de incentivos do governo e um setor financeiro conservador que não esteja disposto a encorajar investimentos para aumentar a competitividade e a produtividade, é muito fácil para os conselhos de administração das empresas adiarem o investimento em automação.
A maioria dos países do G7, como Alemanha, França, Itália e Estados Unidos, adotou iniciativas de promoção e apoio aos sistemas de produção industrial baseados em robô, considerados como fundamentais para aumentar a produtividade. O mesmo ocorreu em como potências industriais tais como a China e a Coréia do Sul. Esses países reconhecem que a automação altera a economia subjacente do setor industrial, permitindo que criem alto crescimento e melhor produtividade, permitindo que suas fábricas produzam produtos mais competitivos, sejam aviões, carros, móveis, alimentos ou roupas, etc.. O Reino Unido está atrasado em relação aos seus concorrentes e corre o risco de perder ainda mais a sua base de produção.
Para vencer a resistência cultural e empresarial à automação e aos robôs, o Made Smarter sugere que a criação de uma série de fábricas-modelo altamente automatizadas por todo o Reino Unido e em diversos setores industriais. Essas fábricas-modelo, que produzem exemplos de bens reais, permitiriam aos proprietários de pequenas e médias empresas, com pouca compreensão de digital ou robótica, investir com confiança em fábricas digitais. Muitas dessas fábricas-modelo poderiam ser parcialmente financiadas por empresas produtoras dos equipamentos de automação, permitindo que um número muito maior de PMEs adotassem essas tecnologias em suas próprias fábricas mediante vários incentivos financeiros.
Ao incentivar fortemente as empresas que estão dispostas a investir em automação, especialmente aquelas que utilizam as tecnologias britânicas do setor de eletrônica (ElecTech), um ecossistema de empresas que adotam automação em todo o Reino Unido pode ser criado. Isso não apenas estimulará a indústria, mas também criará uma rede crescente e inovadora de serviços especializados e empresas de tecnologia. Ao compartilhar suas experiências, os participantes desta rede encorajarão empresas mais reticentes a se unirem a elas, estimulando um ciclo virtuoso de crescimento e expansão.
Internet Industrial das Coisas e Conectividade. A Internet das Coisas Industrial (IIoT) reúne uma série de elementos para impulsionar decisões de negócios mais informadas e rápidas para as empresas industriais. Essa tecnologia combina máquinas de ponta, análises avançadas e uma infinidade de dispositivos que se conectam através de tecnologias de comunicação que permitem o monitoramento, coleta, troca e análise de dados desses dispositivos para fornecer informações valiosas para empresas industriais.
Em um ambiente industrial, a IIoT permite que empresas tradicionalmente não digitais construam um espaço de dados através de sensores e monitoramento de equipamentos e maquinário. A captura desses dados permite o desenvolvimento de novos modelos de negócios e oferece maiores oportunidades para o setor digital trabalhar mais de perto com a indústria. Por exemplo, tomando os dados que são gerados a partir de dispositivos IoT, há oportunidades para obter informações sobre a condição do equipamento no chão de fábrica, monitorar fatores ambientais que podem afetar a qualidade e até otimizar as linhas de produção por meio de um “gêmeo digital” preciso (ou réplica digital direta) de um processo industrial para simplificar e aumentar a produtividade.
O Reino Unido possui uma comunidade em rápido crescimento de empresas que desenvolvem e comercializam tecnologias, produtos e serviços de componentes da IoT. O governo britânico investiu significativamente no setor de tecnologias conectadas por meio Programa IoTUK, que recebeu dotação orçamentária de £ 32 milhões em 2015. O Programa IoTUK é uma iniciativa nacional projetada para apoiar o desenvolvimento e a incorporação de IoT, por meio de pesquisa aplicada, demonstrando a tecnologia em escala, atraindo investimentos internacionais e apoiando pequenas empresas. O programa inclui pesquisa acadêmica (PETRAS), aceleradores de hardware (StartUp Bootcamp e R / GA), demonstradores em larga escala (CityVerve e dois Testbeds do NHS) e modelos de disseminação para aumentar as taxas de absorção (Catapulta Cidades Futuras). A Catapulta Digital fornece serviços de coordenação, aceleração de PME e amplificação para o programa.
A conectividade será essencial para as fábricas do futuro. De redes de área ampla de baixa potência (LPWAN) até a próxima geração da Internet em 5G, há um enorme potencial para acelerar a transformação da indústria de transformação. Em termos de redes amplas de baixa energia, que podem reduzir muito os custos indiretos da conectividade da IIoT, o Reino Unido está atrasado em comparação com o restante da Europa. A Catapulta Digital, com a sua rede Things Connected que inicialmente fornecerá um banco de teste de 50 estações de base em Londres e expandirá geograficamente para todo o país, está desempenhando um papel fundamental para superar o atraso britânico nessa área. Quanto à tecnologia 5G, a melhoria da infraestrutura digital é uma das prioridades da estratégia industrial do governo, que tem como meta tornar o país um líder global na próxima geração de tecnologia móvel 5G.
Além da importância da infraestrutura de conectividade, os fabricantes também precisam intensificar suas estratégias e investimentos em segurança cibernética para reduzir o risco de ataques. Em escala global, o risco de ataque cibernético é quase incalculável, pois pode impactar a reputação, os relacionamentos com uma ampla gama de clientes e parceiros em toda a cadeia de fornecimento, sem mencionar a produção, logística e dados pessoais. Em 2016, a indústria de transformação foi classificada como a 3ª atividade econômica mais frequentemente hackeada na pesquisa realizada pela IBM. O setor manufatureiro britânico está particularmente em risco. Pesquisa realizada pela federação patronal da indústria (EEF), quase metade (46%) das empresas industriais não conseguiram aumentar seu investimento em segurança cibernética nos últimos dois anos (com 56% desse número sendo pequenas empresas).
Realidade Virtual e Realidade Aumentada. A Realidade Virtual (VR), que imerge os usuários em um mundo gerado por computador e a Realidade Aumentada (AR), que sobrepõe informações digitais ao mundo físico, já está remodelando as formas existentes de fazer as coisas e tem mais potencial para aumentar a produtividade em engenharia e na produção industrial. Embora a tecnologia de AR ainda esteja em sua infância, o setor industrial britânico está demonstrando seu desejo de usar essa tecnologia, que já sendo amplamente utilizada nos setores de varejo e marketing, bem como no setor de construção.
As tecnologias VR e AR já estão sendo usadas pelas empresas industriais britânicas para apoiar o desenvolvimento de montagens complexas, planejamento para a manutenção de equipamentos e produtos, o fornecimento de suporte remoto a especialistas e a capacitação de maior garantia de qualidade e aumento de produtividade. Por exemplo, a BAE Systems que está usando a tecnologia desenvolvida pela indústria de videogames para construir navios de guerra para a Royal Navy de forma mais barata e eficiente. Essa empresa de defesa e aeroespacial começou a empregar a realidade virtual 3D, permitindo que engenheiros e marinheiros “caminhem” pelas versões em tamanho real geradas por computador dos navios em que estão trabalhando.
É nesses cenários potenciais, desde a validação do design (VR) até a virtualização do protótipo dos processos de fabricação (VR), a validação dos procedimentos de montagem (VR / AR) e a entrega do suporte operacional (AR) onde o valor real será obtido. O Reino Unido tem a capacidade de fornecer soluções de VR e de AR verdadeiramente inovadoras e a capacidade de liderar o caminho na adoção dessas tecnologias para ajudar a impulsionar a produtividade da economia para patamares mais elevados. De acordo com o Made Smarter, o Reino Unido abriga uma série de empresas notáveis no campo industrial VR / AR, incluindo Autodesk, Virtalis e Eon Reality, e é nesse setor aplicado que se encontra grande parte do valor industrial futuro.
A adesão das empresas indústrias britânicas às tecnologias digitais industriais (IDTs) também foi objeto de pesquisa realizada, em perspectiva comparada, pelo Boston Consulting Group (BCG), Industry ready for the fourth Industrial Revolution, em 2016. A pesquisa foi efetuada junto a 1.500 executivos e gerentes seniores em cinco países: Alemanha (312), China (258), Estados Unidos (315), França (322) e Reino Unido (322).
A mudança para a Indústria 4.0 é um desafio sério para o Reino Unido, mas também uma oportunidade. O país que liderou a Primeira Revolução Industrial a partir do final do século XVIII agora tem a chance de um papel semelhante na Quarta e, ao aproveitar essa oportunidade, pode fechar a “lacuna de produtividade”, estimada em 18% abaixo da média dos outros seis membros do G7, que é um obstáculo persistente à sua competitividade. O prêmio em potencial é extremamente significativo. O BCG estima que as reduções de custo em mão-de-obra, operações e logística com a adoção das novas tecnologias poderiam levar a ganhos de produtividade de 5-8% dos custos de produção até 2025.
De acordo com os autores do relatório, a pesquisa mostra padrões comuns em cada país. Em cada um deles, a maioria das empresas está ciente dos desafios impostos pela Indústria 4.0, que podem tornar suas estruturas corporativas, culturas e práticas quase irreconhecíveis. Poucos, porém, avançaram muito nesse processo. Mas a pesquisa também mostra que nos próximos anos o fluxo de early adopters se tornará um dilúvio, e uma das lições das transformações industriais do passado é que iniciantes lentos podem nunca se atualizar.
A pesquisa do BCG constatou que 70% dos entrevistados em todos os cinco países acreditam que suas empresas estão preparadas para as novas tecnologias da Indústria 4.0, mas apenas 5% consideram que implementaram o conceito completo. Da mesma forma, enquanto 80% acreditam que sua empresa progrediu em direção à Indústria 4.0 no último ano, apenas 10% descreveriam isso como “grande progresso” (Ver os Gráficos abaixo).
O quadro global mostra que o Reino Unido está ligeiramente atrás dos seus concorrentes, a Alemanha e a França. Por exemplo, 90% das empresas consultadas na Alemanha e 89% na França afirmaram ter feito “progresso em direção à Indústria 4.0”, comparado com 79% para o Reino Unido, enquanto surpreendentes 98% dos entrevistados chineses consideram que já fizeram algum progresso.
Entre os entrevistados do Reino Unido, 79% estimam que fizeram algum progresso em direção à Indústria 4.0, mas apenas 9% consideram que fizeram grandes progressos. Já 40% esperam ver suas empresas fazendo progressos significativos em toda a gama de tecnologias da Indústria 4.0 nos próximos dois anos, aumentando para 65% em cinco anos.
Um desafio para as empresas é ajustar suas forças de trabalho às novas tecnologias. A pesquisa do BCG constatou que para as empresas britânicas esse é o desafio importante. Os entrevistados do Reino Unido classificaram a escassez de pessoal qualificado como o mais importante de 13 possíveis desafios enfrentados por suas empresas, com quase um terço afirmando que era um desafio “grande ou muito grande”. Porém, consideram como importantes um conjunto menor de qualificações do que suas congêneres alemãs e francesas. Também há uma diferença marcante em relação aos métodos para enfrentar o problema: 44% das empresas britânicas preferem o método tradicional de treinamento no local do trabalho. Enquanto, 62% das empresas alemãs e 56% das francesas consideram a educação continuada como estrategicamente importante ante a 39% das britânicas.
Os benefícios da Indústria 4.0 não virão sem custos consideráveis de modernização e reequipagem. O BCG estima que esse investimento provavelmente equivalerá a 7-9% da receita da empresa. A pesquisa do BCG mostra que encontrar o investimento necessário é uma séria preocupação para a indústria do Reino Unido. Mais de 60% dos inquiridos do Reino Unido duvidam da capacidade da sua empresa para cobrir mais de 40% do orçamento necessário. Quase um terço considerou encontrar um investimento suficiente como um desafio “grande ou muito grande”.
O pessimismo no Reino Unido sobre encontrar o investimento necessário para a Indústria 4.0 contrasta fortemente com a confiança alemã. A maioria dos entrevistados alemães acredita que suas empresas poderão encontrar 60% ou mais dos custos necessários, com menos de um terço acreditando que não conseguirão cobrir mais de 40%. Esse resultado resume um padrão consistente levantado pela pesquisa, em que empresas alemãs e francesas ultrapassam o Reino Unido em termos de conscientização, ambição e preparação.
Em resumo, no geral, a pesquisa constatou que as empresas britânicas estavam entre 10 e 12 pontos percentuais atrás de suas contrapartes europeias em relação a metas atingidas e preparação para habilidades e tecnologia. No entanto, a lacuna não é, de forma alguma, inatacável e continua existindo oportunidade para o Reino Unido se tornar um líder na Indústria 4.0 na Europa.
De acordo com os autores do relatório, ao liderar essa revolução industrial digital, que está em seus estágios iniciais, mas deve acelerar nos próximos cinco a 10 anos, o Reino Unido poderia obter ganhos de eficiência industrial de 25%, um crescimento do setor manufatureiro de 1,5-3%, gerando um crescimento anual de aproximadamente 0,5% do PIB. Esses benefícios poderiam ser muito maiores se houver uma estratégia nacional clara que apoie os planos de transformação digital industrial do país.
A Engineering Employers' Federation (EEF), maior organização patronal setorial do Reino Unido, também realizou pesquisas e entrevistas junto a seus associados, em 2016, cujos resultados foram publicados no relatório, The 4th Industrial Revolution: A primer for manufacturers. A pesquisa constatou que os industriais britânicos entendem que está ocorrendo uma mudança no setor associada à Quarta Revolução Industrial e os benefícios que tal transformação pode trazer para o crescimento dos seus negócios e estratégias.
Porém, atualmente há uma visão mista do conhecimento e da aplicação para empresas individuais. Nem todos os fabricantes estão no mesmo estágio de conhecimento. Quarenta e dois por cento das empresas britânicas afirmam que estão familiarizadas com o conceito da Quarta Revolução Industrial, enquanto outros estão menos certos do que isso implica.
Segundo a EEF, 96% dos industriais britânicos veem a Quarta Revolução Industrial como sendo sobre conectividade e comunicação. As redes físicas conectam-se a redes cibernéticas juntas como um sistema para permitir um fluxo de informações em tempo real. Os dados são coletados, transformados em informações e insights, e podem ser processados rapidamente. As novas tecnologias e técnicas mudarão os produtos, processos e cadeias de suprimentos envolvidas em todos os aspectos da indústria, permitindo que os fabricantes mantenham sua vantagem competitiva em um mundo em rápida mudança e respondam de maneira flexível e rápida às exigências dos clientes.
Os benefícios da adoção da tecnologia associados à Quarta Revolução Industrial para a indústria de transformação serão generalizados, com cadeias de suprimento mais inteligentes, produção mais inteligente e produtos mais inteligentes. As empresas precisarão acompanhar a mudança. Os próprios empresários industriais consideram que isso acontecerá mais rapidamente do que nunca: 80% dos fabricantes dizem que Quarta Revolução Industrial será uma realidade de negócios até 2025, enquanto 74% das empresas dizem que a Quarta Revolução Industrial mudará fundamentalmente expectativas dos clientes; 87% dos fabricantes consideram que terão que investir em novas tecnologias para atender às expectativas dos clientes.
O estudo da EEF identificou três etapas principais para a jornada da Quarta Revolução Industrial, todas as quais serão adaptadas à estratégia e ao plano de crescimento de uma empresa: uma fase de concepção, fase de evolução e depois uma fase de revolução. Após a conceituação partir de contexto de negócios exclusivo de cada empresa, o passo seguinte é otimizar e/ou modernizar os processos existentes antes que uma revolução seja introduzida, acarretando mudanças fundamentais nos modelos de negócios atuais. Todos esses passos serão ditados pela ambição e estratégia de negócios, que não serão as mesmas para todos.
As mudanças nos modelos de negócios atuais implicam diversos benefícios. No curto prazo, haverá melhoria da eficiência operacional mediante o melhor uso do capital, dos trabalhadores e dos recursos. No médio prazo, a transformação irá desbloquear novos produtos, serviços e modelos de negócios, os quais, por sua vez, permitirão que a captura de valor adicionado de diferentes maneiras.
As empresas britânicas reconhecem que precisam se concentrar totalmente nas mudanças, o que acontecerá rapidamente e entenderão onde e como elas serão aplicadas aos processos, em toda a cadeia de suprimentos e nos produtos. As empresas britânicas têm planos para investir e os primeiros sinais são de que o foco entre as empresas estará na fase de evolução.
A 4ª revolução industrial é um fenômeno mundial, que oferece oportunidades e riscos para as empresas industriais britânicas, na medida em que, na maioria dos setores manufatureiros, as cadeias de suprimentos são redes globais densas. Os fabricantes priorizarão cadeias de suprimento mais inteligentes e incorporarão processos de produção mais inteligentes em seus negócios. Dependendo da posição que as empresas britânicas ocupem nas cadeias globais, elas se beneficiaram muito das transformações em curso.
Contudo, há o risco de as empresas não conseguirem acompanhar o ritmo dos seus principais concorrentes. Atualmente, a grande maioria (89%) dos empresários industriais considera que a indústria manufatureira britânica não está preparada para a mudança, mas que sua empresa está (60%). Essa dissonância demonstra a necessidade de uma maior comunicação entre as cadeias de suprimentos e setores industriais sobre os benefícios das novas tecnologias.
Para a EEF, sem a liderança da indústria e da cadeia de suprimentos, o risco é que o Reino Unido fique para trás. Também são determinantes importantes o ambiente de negócios e a capacidade dos formuladores de políticas de tomar as medidas necessárias para sustentar essa transformação da indústria.
Anexo
Centros de pesquisa que integram a Catapulta da Indústria de Transformação de Alto Valor (HVMC):
Centro de Pesquisa de Produção Avançada (AFRC), baseado na University of Strathclyde é um empreendimento colaborativo entre a Universidade de Strathclyde, empresas multinacionais de engenharia líderes, incluindo Rolls-Royce, Boeing, Timet, Aubert e Duval, Barnes Aerospace, Bifrangi e DMG Mori, o Governo do Reino Unido e a Scottish Enterprise. Localizado em uma instalação perto do Aeroporto Internacional de Glasgow, o AFRC se concentra no desenvolvimento de tecnologias de moldagem e forjamento para apoiar o projeto e a fabricação de produtos, em vários setores, incluindo aeroespacial, automotivo, energia, dispositivos médicos e marinha.
Centro Avançado de Pesquisa em Manufatura (AMRC). Esse centro da Universidade de Sheffield concentra-se em usinagem avançada, testes de desempenho e pesquisa de materiais compósitos híbridos e metálicos para o setor aeroespacial e outros setores de fabricação de alto valor. Identifica, pesquisa e resolve problemas de fabricação avançada em nome de seus parceiros industriais. Cerca de 70 empresas se uniram como membros, de gigantes aeroespaciais globais como Boeing, Rolls-Royce, BAE Systems e Messier-Bugatti-Dowty, a pequenas empresas locais. O centro também trabalha com centenas de outros fabricantes em projetos de pesquisa específicos.
Centro de Inovação de Processos (CPI). Criado pela OneNorthEast, agência de desenvolvimento da região Nordeste da Inglaterra, o CPI utiliza conhecimentos aplicados em ciência e engenharia, combinados com instalações de desenvolvimento de última geração para permitir que os clientes desenvolvam, provem, elaborem protótipos e ampliem a próxima geração de produtos e processos em eletrônica para impressão, biotecnologia industrial, química inteligente, digestão anaeróbica e térmica. O modelo de inovação aberta da CPI permite que os clientes desenvolvam e demonstrem produtos e/ou processos com risco mínimo, ou seja, antes de investir quantias substanciais em equipamentos de capital e treinamento. As empresas parceiras do CPI operam em diversos mercados, incluindo saúde e cuidados pessoais, alimentos, eletrônicos, materiais, energia, transporte e construção.
Centro de Pesquisa de Manufatura Avançada Nuclear (NRC AMRC) visa melhorar as capacidades e a competitividade da indústria nuclear civil do Reino Unido e ajudar as empresas industriais britânicas a competir por contratos nucleares em todo o mundo. O NRC AMRC está instalado no Parque de Manufatura Avançada no Sul de Yorkshire. A oficina do centro contém uma variedade de equipamentos de fabricação de ponta adaptados para aplicações no setor nuclear, tornando-o o centro com a maior capacidade de usinagem de qualquer instalação de P & D no mundo. As áreas tecnológicas abrangidas pelo NRC AMRC são fabricação de componentes nuclear de uso civil, usinagem em larga escala, metrologia, soldagem e revestimento, usinagem inovadora e otimização de máquinas-ferramentas, usinagem robótica com utilização de metrologia avançada, e fabricação de formas quase líquida (NNS, na sigla em inglês) de compósitos Embora as capacidades do centro estejam concentradas no setor de indústria nuclear, seus recursos e experiência também podem atender às demandas de manufatura de larga escala de outras indústrias de alto valor, como petróleo e gás, energia eólica de alto mar, produtos químicos e setor aeroespacial.
Centro de Tecnologia Industrial (MTC) foi fundado pela Universidade de Birmingham, Universidade de Loughborough, Universidade de Nottingham e TWI Ltd. Os membros industriais do MTC incluem alguns dos principais fabricantes mundiais do Reino Unido. Instalado no Ansty Park, Coventry, o Centro oferece uma abordagem flexível para trabalhar com empresas grandes e pequenas e oferece um serviço personalizado projetado para atender às necessidades da empresa, que abrange desde o suporte de consultoria para problemas específicos até um relacionamento de longo prazo para projetos baseados em programas por meio de associação à MTC. O MTC é especializado em tecnologias e processos de fabricação que são particularmente importantes para o setor industrial de alto valor: automação inteligente, ferramental avançado e fixação, fabricação de eletrônicos, fabricação de alta integridade, simulação de manufatura e informática, metrologia e manufatura aditiva e de forma.
Centro Nacional de Compósitos (NCC) está baseado na Universidade de Bristol. Com mais de 100 engenheiros, designers e técnicos trabalhando em aplicações inovadoras de compósitos, o NCC tem como objetivo ser o centro líder mundial de excelência e inovação em tecnologia de compósitos. NCC fornece instalações de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia em escala industrial para atender às necessidades de todos os setores que desejam capitalizar as qualidades resistentes à corrosão de alta resistência, baixo peso e materiais compósitos. O NCC tem uma ampla gama de recursos tecnológicos que disponibiliza para as empresas britânicas de compósitos mediante pagamento por uso. O NCC trabalha em estreita colaboração com o Centro para Fabricação Inovadora em Compósitos para desenvolver e amadurecer as tecnologias emergentes de fabricação de compósitos desde o laboratório até a maturidade comercial. Suas áreas de atuação incluem: projeto, análise e simulação de aplicações avançadas de compósito; desenvolvimento e otimização de produtos e processos; prototipagem e validação, fabricação, inspeção e testes; transferência de conhecimento, treinamentos e oficinas especializadas.
Warwick Manufacturing Group (WMG) - O centro da WMG está enfrentando o desafio global da mobilidade de baixo carbono por meio de P & D em tecnologias leves e de propulsão e armazenamento de energia. Colaborando com os parceiros do setor de transportes no setor automotivo, comercial off-road (agrícola e de construção), ferroviário e marítimo, o centro possibilita e acelera o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e processos. Estes incluem veículos autônomos, máquinas elétricas de alta eficiência e sistemas eletrônicos de potência. Além de congregar dois centros de excelência em tecnologias leves e em estocagem e gerenciamento de energia, o WMG atua em áreas tecnológicas relacionadas, como veículos autônomos, eletrônica de potência e máquinas elétricas, consideradas como chave para a competividade mundial da indústria automotiva britânica.