Carta IEDI
Altas generalizadas
O mês de abril apresentou sinais de que no segundo trimestre de 2018 a recuperação da economia poderia recobrar o fôlego perdido nos primeiros meses do ano. Os resultados foram positivos em todos os grandes setores econômicos, de forma relativamente disseminada em suas atividades, e com um ritmo de crescimento semelhante ao do final do ano passado. Infelizmente este quadro não deve ter continuidade, dado que a paralisação do transporte rodoviário de carga comprometeu muito o dinamismo de maio.
O comércio varejista despontou com o melhor desempenho de abril na série com ajuste sazonal, atingindo +1,3% nas vendas reais em seu conceito ampliado, que inclui veículos, autopeças e material de construção (+1% no conceito restrito). A indústria, por sua vez, registou um avanço de 0,8% na produção, sendo este o mês de maior dinamismo de 2018. O mês foi bom até mesmo para o setor de serviços, que até então mal dava sinais de recuperação. Seu faturamento real cresceu pela primeira vez em 2018: +1% frente a março com ajuste sazonal.
Diante dessas evoluções, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do crescimento do PIB, também obteve a melhor marca do ano, sugerindo uma expansão da economia de 0,5% em relação a março, já descontados todos os efeitos sazonais. Este resultado, contudo, só foi capaz de fazer frente ao declínio de março (-0,5%).
Deste modo, como maio deve ser um mês de perdas, a recuperação na primeira metade do ano pode depender da tração de apenas dois meses, abril e, quem sabe, junho. É melhor do que nada, mas é pouco especialmente para enfrentar possíveis volatilidades do segundo semestre devido às eleições. Assim, as expectativas de crescimento do PIB em 2018, segundo o boletim Focus do BC, recuaram de +2,7% em janeiro para +1,76% agora em meados de junho. Com isso, se reconhece que a recuperação, sabidamente lenta, foi perdendo ainda mais força.
Serve de algum consolo o fato de que os investimentos não parecem estar esmorecendo. O Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo registrou alta de 1,5% em abril frente a março. Com o que já são três variações positivas, levando a um resultado de +2% no trimestre findo em abril, descontados os efeitos sazonais, refletindo, em boa medida, a expansão das importações de bens de capital (+13,9% ante mar/18).
De todo modo, falta muito para virarmos a página da recente crise. Basta observar o quão longe ainda estamos dos picos anteriores do nível de atividade. Na indústria, o nível de produção física em abril de 2018 estava 14,6% abaixo do ponto mais elevado de sua série histórica, atingido em maio de 2011. No comércio, em seu conceito ampliado, a discrepância é de 11,5% ante ao máximo de agosto de 2012 (-6% no varejo restrito) e no setor de serviços, de 11,8% em relação ao pico de novembro de 2014.
Pelo menos os resultados do mês de abril, ao serem positivos, ajudaram a reduzir um pouco o longo caminho a ser trilhado para reaver as perdas dos últimos anos. Em alguns segmentos da indústria, comércio e serviços isso foi particularmente verdade já que conseguiram atingir um desempenho ainda mais forte.
No caso da indústria, bens intermediários foi o macrossetor mais favorecido em abril, pois obteve sua primeira variação positiva de 2018 na série com ajuste sazonal (+1,0%), mas foram os bens de consumo duráveis que cresceram mais acentuadamente: +2,8%, alavancados, entre outros ramos, pela produção de veículos (+4,7% ante mar/18). Bens de capital cresceram 1,4% e os bens de consumo semi e não duráveis, apenas 0,5%.
Apesar de positivo e mais robusto, o desempenho industrial poderia ter sido melhor em abril não fosse o baixo dinamismo da indústria paulista, que variou apenas 0,3%. Foram outras regiões, então, que puxaram o setor, com destaque para Nordeste (+5,6%), Minas Gerais (+4,4%), Rio de Janeiro (+6,0%) e Paraná (+3,3%). Ao todo, 10 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE ficaram no azul em abril.
No varejo, mais do que a magnitude das altas em abril, o aspecto mais favorável diz respeito a boas trajetórias, especialmente em três segmentos de peso no setor: supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+1% ante mar/18 com ajuste); veículos e autopeças (+1,9%) e material de construção (+1,7%). Embora não tenham sido poupados de episódios de perda de dinamismo, esses segmentos crescem desde abril do ano passado, registrando quedas apenas pontualmente.
No setor de serviços, que ainda ensaia os primeiros passos de recuperação, a evolução de seus segmentos deixa a desejar na maioria dos casos. Nos meses recentes, o melhor que se obteve foi no segmento de serviços prestados às famílias, que depois de um primeiro bimestre quase estagnado, voltou a crescer a taxas mais substanciais tanto em março (+2,8%) como em abril (+1,5%). Em outros segmentos, como nos serviços profissionais, administrativos e complementares, nos transportes, seus auxiliares e correios e em outros serviços, abril também foi positivo, mas as trajetórias têm oscilado entre altas e quedas desde o começo do ano.
Indústria
O desempenho industrial de abril foi responsável pela primeira variação positiva significativa em 2018, depois de um começo de ano muito fraco para o setor. Os dados divulgados pelo IBGE mostraram que o resultado deste mês colocou de volta nos trilhos da recuperação não apenas a indústria geral, como a grande maioria das indústrias regionais.
O crescimento de 0,8% frente a março, já descontados os efeitos sazonais, decorreu de variações positivas em todos os macrossetores industriais e em metade dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE. Além disso, do ponto de vista regional, as altas também foram difundidas, atingindo 10 das 15 localidades pesquisadas, sendo particularmente fortes, na Bahia, Rio de Janeiro e na região Nordeste como um todo.
Abril também foi um mês favorável se tomado na comparação interanual. A expansão da produção chegou a +8,9%, um desempenho excepcionalmente forte para os padrões atuais de recuperação, mas que é em grande medida explicado por um efeito calendário. Abril de 2018 teve três dias úteis a mais do que abril de 2017, o que turbinou seu resultado. Com esta ajuda, o resultado do primeiro quadrimestre de 2018 (+4,5%) ficou em linha com aquele do último quadrimestre do ano passado (+4,3%).
Dentre os macrossetores, bens intermediários foi o mais favorecido em abril. O resultado de +1,0% frente março foi a primeira variação positiva de 2018 na série com ajuste sazonal. Para bens de consumo duráveis, abril foi melhor que março, ao permitir uma aceleração para +2,8%, alavancada, entre outros ramos, pela produção de veículos (+4,7% ante mar/18), cujo desempenho também foi importante para a indústria geral.
Bens de consumo semi e não duráveis registraram altas em três dos quatro meses de 2018 de que temos notícias, porém mais modestas: +0,5% tanto em março como em abril. Já bens de capital sofreram uma desaceleração na passagem de março para abril, mas isso não comprometeu o sinal de seu desempenho, que se manteve positivo. Com isso, o macrossetor teve duas quedas e duas altas em 2018, sendo estas, porém, mais intensas, colocando seu nível de produção, em abr/18, 4% acima daquele de dez/17.
Regionalmente, mesmo tendo registrado evolução positiva, a indústria de São Paulo se destacou por ter crescido muito pouco em abril, apenas 0,3% frente a março, já descontados os efeitos sazonais. Assim, não fosse o desempenho paulista, bem como das cinco localidades em queda, a indústria brasileira teria avançado mais.
Mesmo podendo ter sido melhor, abril aponta para um dinamismo mais intenso no segundo trimestre de 2018, muito embora o resultado de junho ainda tenha que se provar favorável o suficiente para fazer frente aos efeitos adversos da paralisação do transporte de carga rodoviário que atingiu as últimas semanas de maio. Em outros termos, o segundo trimestre começa bem, mas pode-se perder o passo nos próximos meses.
O significado de abril vis-à-vis a morosidade do primeiro trimestre do ano é ilustrado a seguir pelas variações com ajuste sazonal de abril frente a março e do período janeiro-março de 2018 frente a outubro-dezembro de 2017.
A maioria das localidades, isto é, 10 da 15 acompanhadas pelo IBGE, deram sinal de ganho de velocidade em abril, seguindo o total Brasil, que passou de uma virtual estabilidade no primeiro trimestre (+0,1%) para o aumento de 0,8%, como mencionado anteriormente. Em muitos casos, inclusive, houve uma reviravolta, isto é, o declínio do primeiro trimestre foi revertido em elevação da produção em abril, como no Nordeste (-1,3% e +5,6%, respectivamente), Minas Gerais (-0,7% e +4,4%), Rio de Janeiro (-2,9% e +6,0%) e Paraná (-0,8% e +3,3%).
São Paulo também transitou do terreno negativo para o positivo nesta comparação, mas em um ritmo muito baixo, saindo de -0,7% no 1º trim/18 contra 4º trim/17 para apenas +0,3% em abr/18 contra mar/18, sempre com ajuste sazonal. Assim, a indústria paulista foge à regra não pela direção do movimento, mas por sua magnitude.
Ainda dentre as localidades com resultados favoráveis em abril, há aquelas que tinham conservado crescimento no primeiro trimestre do ano e agora apenas sinalizam com um dinamismo um pouco maior. Foram os casos da Bahia (+0,1% no 1º trim/18 e +7,0% em abr/18, com ajuste), Pernambuco (+1,8% e +2,1%, respectivamente), Rio Grande do Sul (+1,7% e +2,2%) e Santa Catarina (+1,2% e +1,9%).
O rol de indústrias regionais se completa com outras 5 localidades para as quais abril aponta para um esmorecimento. Em três delas, a retração do primeiro trimestre se manteve em abril, como no Ceará, Goiás e Mato Grosso. Amazonas e Pará, por sua vez, vinham bem, mas tropeçaram: +10,9% no 1º trim/18 e +4,1% em abr/18 no primeiro caso e +1,0% e -8,1%, respectivamente, no segundo caso.
Comércio
Assim como a indústria, o comércio varejista teve um desempenho satisfatório em abril, mas neste caso não só o aumento das vendas foi mais forte, já descontados os efeitos sazonais, como faz parte de uma sequência de resultados positivos que vigoram desde o início de 2018.
Enquanto a produção industrial variou 0,8% frente a março, as vendas reais do varejo cresceram 1% em seu conceito restrito e 1,3% no conceito ampliado, que incluem as vendas de automóveis, autopeças e material de construção. Tais resultados vieram depois de um mês de março também favorável, com alta de 1,1% em ambos os conceitos, indicando certa consistência na recuperação do setor.
De fato, o aspecto mais promissor no desempenho recente do varejo tem sido sua trajetória em que a alternância entre altas e quedas na segunda metade de 2017 deu lugar a sucessivas variações positivas desde janeiro de 2018 na série com ajuste sazonal. No caso do varejo restrito, há apenas uma exceção referente ao mês de fevereiro, quando as vendas ficaram estáveis (0%). Apesar disso, por ora, o terreno negativo tem sido evitado com sucesso.
Na comparação interanual temos o mesmo quadro: variações positivas desde abril de 2017 no conceito restrito e desde maio no conceito ampliado. Em abril de 2018, o resultado mais fraco nas vendas, de apenas 0,8%, sofreu influência de um efeito calendário, já que a Páscoa foi em abril do ano passado, mas em março do corrente ano.
Diante dessa evolução, o patamar de vendas do varejo em abril último encontrava-se 3% acima do nível de dezembro de 2017 (3,7% no conceito ampliado). 2018 segue, então, como um ano de reativação do comércio, em boa medida calcada no retorno do crédito às famílias a taxas de juros mais moderadas. Outros fatores que impactam o setor vêm melhorando, mas de forma muito restringida, como é o caso do emprego e também do rendimento real, em que a desaceleração da inflação não tem contribuído tanto quanto no ano passado.
O panorama entre os diferentes segmentos do varejo, por sua vez, mostra trajetórias mais ou menos consistentes segundo o caso.
As melhores evoluções vêm sendo apresentadas por três segmentos de peso no varejo: supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+1% ante mar/18 com ajuste); veículos e autopeças (+1,9%) e material de construção (+1,7%). Embora não tenham sido poupados de episódios de perda de dinamismo, esses segmentos crescem desde abril do ano passado, registrando quedas apenas pontualmente.
A maior parte dos segmentos, contudo, engataram em uma sequência de resultados majoritariamente positivos muito recentemente, como material de escritório, informática e comunicação (+4,8% ante mar/18 com ajuste), outros artigos de uso pessoal e doméstico (0%) e livros, jornais e papelaria (+0,9%), desde jan/18; móveis e eletrodomésticos (+0,7%), desde fev/18 e tecidos, vestuário e calçados (+0,3%) e artigos farmacêuticos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos (+1,7%), desde nov/17. Antes, todos mostravam uma trajetória mais errática, embora para alguns as altas fossem mais fortes ou mais numerosas.
Quem fugia à regra e dava poucos sinais de recuperação era o segmento de combustíveis e lubrificantes, com quedas recorrentes na série com ajuste sazonal de julho de 2017 a fevereiro de 2018 (com exceção de out/17). Nos últimos meses pareceu tentar compensar o tempo perdido e ensaiou uma reação relativamente vigorosa: +1,9% em mar/18 e +3,4% em abr/18. Com a paralisação dos caminhoneiros, porém, dificilmente este movimento recente terá continuidade no mês de maio.
Serviços
A contar pelos dados já divulgados, o mês de abril foi mais positivo do que se esperava, com alta na produção industrial, nas vendas do comércio e até mesmo no faturamento real do setor de serviços, que até então mal dava sinais de recuperação. Em abril, os serviços registraram seu primeiro avanço em 2018: +1% frente a março com ajuste sazonal. Um dado que mostra que o setor pode estar se aproximando da saída da recessão, mas que não deve se repetir em maio, dada a paralisação do transporte rodoviário de carga.
Assim, o setor retomou o nível de dinamismo do final de 2017, quando havia crescido 1% em novembro e 1,2% em dezembro, antes de submergir em janeiro do presente ano (-1,8%). Ademais, outro aspecto favorável do desempenho de abril foi que a reação se mostrou bastante disseminada, atingindo quase a totalidade dos segmentos de serviços. A única exceção foi informação e comunicação (-1,1% ante março, com ajuste).
Há ainda mais um fator de destaque: ocorreu a segunda alta na comparação interanual desde abril de 2015. A primeira havia sido em dez/17 (+0,6%), mas a de abr/18 foi bem mais intensa, chegando a 2,2%. As razões para a comemoração dessa reversão de sinal seriam muito maiores se não existisse um efeito calendário em ação. Como abril do corrente ano teve três dias úteis a mais do que abril de 2017, as variações interanuais indicam desempenhos mais robustos do que efetivamente foram.
Por isso, a perda de faturamento real do segmento de serviços de informação e comunicação também na comparação interanual (-1,6%) demonstra que este tem sido um dos principais entraves a uma evolução mais satisfatórias do setor como um todo. Outros segmentos, porém, vêm se saindo melhor, como mostram as variações com ajuste sazonal. Esta comparação têm a vantagem de evitar o efeito calendário mencionado anteriormente.
O segmento de serviços prestados às famílias, depois de um primeiro bimestre quase estagnado, voltou a crescer a taxas mais substanciais tanto em março (+2,8%) como em abril (+1,5%). Na origem deste comportamento estão os serviços de alojamento e alimentação, cujo resultado em abril último foi de +1,6%, contra a mera estabilidade de outros serviços prestados às famílias.
Já nos serviços profissionais, administrativos e complementares, abril assegurou o melhor resultado dentre os segmentos de serviços identificados pelo IBGE. A alta foi de 1,7% frente a março, dando continuidade a uma trajetória de acentuada oscilação iniciada em jan/2018, cujo resultado final, por ora, ainda não é favorável. O nível de seu faturamento real em abr/18 estava 0,2% abaixo daquele de dez/17. Quem têm atrasado sua reação são aqueles serviços menos qualificados, isto é, administrativos e complementares, que avançaram bem menos em abril (+1,1%) do que o componente de serviços técnico-profissionais (+5,2%).
Em outros segmentos, contudo, as trajetórias não têm sido muito animadoras, mas ao menos conseguiram registrar variações positivas em abril. É o caso de transportes, seus auxiliares e correios, cujo faturamento real, até então, só declinava em 2018 (-1,2%; -0,3%; -0,6% de janeiro a março e +1,2% em abril), depois de meses de crescimento em 2017. É o caso também do segmento de outros serviços, com queda por dois meses seguidos antes deste último mês de alta (-0,5%; -0,2% e +0,7% de fevereiro a abril).
Por fim, um comentário a respeito do agrupamento especial referente às atividades de turismo. Na série com ajuste sazonal, desde outubro do ano passado esses serviços vêm apresentando crescimento, à exceção de um único mês, fevereiro de 2018, quando retrocedeu de modo acentuado (-4,1%). Ainda assim, nestes sete meses o nível de seu faturamento conseguiu progredir 3,3%.