Análise IEDI
O crescimento real é menor
Os dados desagregados por regiões da produção industrial divulgados hoje pelo IBGE possibilitam fazer duas observações. A primeira é que os resultados parecem indicar que há uma retomada da atividade industrial neste início de ano, como pode ser atestado pelos resultados em estados com participação importante na indústria nacional. Em São Paulo, a produção cresceu 1,1% em fevereiro com relação a janeiro (segundo mês consecutivo de variação positiva: 0,7% em janeiro). Em Minas, o desempenho da indústria em fevereiro foi maior (3,4%) e no Rio, maior ainda (5,1%) – todas as variações calculadas a partir da série com ajuste sazonal.
Em segundo lugar, os dados para São Paulo em fevereiro (1,1%) mostram que a produção industrial do País não está crescendo a uma taxa próxima de 2,0%, como pode dar a entender o resultado divulgado pelo próprio IBGE para a indústria em geral no segundo mês deste ano (1,9%). Isso porque a indústria paulista, por ser mais estruturada e diversificada, está menos sujeita a oscilações da produção decorrentes de um bom ou ruim desempenho de um setor específico. Aliás, isto é o que se pode notar na evolução da produção em muitas das localidades pesquisadas pelo IBGE ao longo dos últimos onze meses terminados em fevereiro deste ano: um movimento alternado de variações positivas e negativas.
Além do acima exposto, algumas outras considerações são pertinentes. A recuperação da atividade industrial nos dois primeiro meses do ano (sobretudo em fevereiro) reflete, pode-se dizer, mais uma “acomodação” da substituição da produção doméstica pelo bem importado do que uma reversão desse processo; ou ainda, é muito provável que a indústria nacional esteja se beneficiando um pouco mais do bom momento pelo qual passa a economia brasileira – com relação ao que se observou desde abril de 2010, quando a indústria praticamente ficou estagnada –, o que não significa que após a “invasão das importações” ocorrida nos últimos dez meses, a presença dos importados no País esteja sofrendo uma reversão.
Chama a atenção também a desaceleração da produção industrial na região Nordeste. Apesar dos bons resultados de Ceará e Pernambuco em fevereiro, a indústria nordestina vem perdendo ritmo e apresentando taxas negativas de variação – como pode ser observado nas taxas calculadas em um mês com relação ao mesmo mês do ano anterior. De novembro de 2010 a fevereiro deste ano, a evolução da produção industrial da região Nordeste foi a seguinte, –2,0%, –5,4%, –6,1% e –9,1%, nessa ordem. Nessa comparação, as produções no Ceará e em Pernambuco também são negativas nos dois primeiros meses de 2011. É possível que esse comportamento da indústria nordestina esteja sendo dado por fatores pontuais. Por exemplo, o resultado de fevereiro (–9,1%) decorreu, em grande medida, devido à queda da produção de produtos químicos (–42,7%), de petróleo e produção de álcool (–10,6%), setores que apresentam especificidades bastante peculiares nos seus processos produtivos.
De acordo com os dados divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal – Regional do IBGE, na passagem de janeiro para fevereiro a produção industrial cresceu em nove dos catorze locais pesquisados. Os estados de Goiás, Pernambuco, Rio de Janeiro, Amazonas, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Rio Grande do Sul e São Paulo de 8,0%, 5,1%, 4,6%, 3,4%, 2,2%, 1,4%, 1,2%, 1,1%, respectivamente. As maiores quedas ficaram por conta dos estados do Paraná (–10,5%) e Bahia (–8,8%). Acompanharam tal tendência os estados de Pará (–2,0%), região Nordeste (–1,1%) e Santa Catarina (–0,2%).
Na comparação mês contra mesmo mês do ano anterior, os estados de Espírito Santo, Amazonas, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina assinalaram crescimento. Em sentido contrário apresentaram queda os estados da Bahia, região Nordeste, Pernambuco, Goiás, Ceará e Pará: –15,6%, –9,0%, –3,4%, –2,2%, –1,6%, –1,5%, respectivamente. Com avanço acima da média nacional (6,9%), destacaram-se os estados de Espírito Santo (14,3%), Amazonas (11,1%), Paraná (9,4%), Minas Gerais (8,8%), Rio Grande do Sul (7,9%) e Rio de Janeiro (7,0%). Apenas os estados de São Paulo (6,8%) e Santa Catarina (4,1%) apresentaram crescimento inferior a média nacional.
A produção industrial acumulada entre janeiro e fevereiro apresentou crescimento em nove das quatorze localidades. As ampliações mais significativas no desempenho regional foram registradas pelos estados do Paraná (13,8%), Espírito Santo (11,7%). Obtiveram também crescimentos nessa mesma comparação os estados de Minas Gerais (6,0%), Amazonas (5,7%), São Paulo (5,3%), Rio de Janeiro (3,5%), Santa Catarina (3,4%), Rio Grande do Sul e Pará (1,2%). No que diz respeito ao indicador acumulado nos últimos 12 meses, o crescimento de 8,6% da produção nacional deveu-se a variação positiva de todas as localidades. Os destaques foram os estados do Espírito Santo (17,8%), Paraná (15,3%) e Goiás (12,5%).
Goiás. Em fevereiro, frente janeiro, com dados já descontados dos efeitos sazonais, a produção industrial goiana apresentou avanço de 9,1%. No confronto com fevereiro de 2010, constatou-se recuo de 2,2%. No acumulado dos dois primeiros meses de 2011, a produção industrial obteve queda de 1,6%. Os setores de: Alimentos e bebidas (–1,9%), Metalurgia básica (–5,0%) e Indústria extrativa (-1,7%), apresentaram queda em sua produção.
Pernambuco. A partir de dados livres de efeitos sazonais, observa-se que a indústria capixaba, na passagem de janeiro para fevereiro, registrou crescimento de 8,0%. Na comparação fevereiro de 2011 contra igual mês de 2010, houve decréscimo de 3,4%, taxa influenciada pelos setores: Alimentos e bebidas (–9,9%), Metalurgia básica (–17,6%) e Refino de petróleo e produção de álcool (–14,2%). Na comparação acumulada no ano, o estado registrou queda de 3,7%, taxa impulsionada pelo setor de: Metalurgia básica (–18,9%) e Alimentos e bebidas (–5,6%).
Bahia. Em fevereiro, a indústria baiana apresentou a maior queda dentre os estados pesquisados, (–8,8%), com dados livres de efeitos sazonais. Na comparação mensal (mês/ mesmo mês do ano anterior), o estado registrou queda de 15,6%, taxa impulsionada pelos setores de: Produtos químicos (–48,0%), Refino de petróleo e produção de álcool (–12,7%) e Metalurgia básica (–19,8%). A produção industrial no período entre janeiro e fevereiro de 2011 foi de –12,1%, graças ao desempenho da indústria de Produtos químicos (–37,7%), Refino de petróleo e produção de álcool (–13,6%) e Metalurgia básica (–11,3%). Por outro lado, o único setor a apresentar taxa positiva foi Alimentos e bebidas (15,0%).