Análise IEDI
Ocupação: queda e menor qualidade
Os dados sobre o emprego divulgados hoje pelo IBGE mostram que
o impacto da recessão econômica sobre o emprego continua
severo. A taxa de desocupação atingiu 11,8% no trimestre
findo em agosto de 2016, mais um recorde da série da Pnad
contínua iniciada em 2012.
Um dos aspectos que tem chamado atenção é a evolução da população ocupada, cujo declínio tem sido bastante rápido desde o trimestre findo em setembro de 2015, quando apresentou o primeiro resultado negativo frente ao mesmo período do ano anterior. A redução de 179 mil pessoas neste período avançou para uma queda de 1,4 milhão pessoas no primeiro trimestre de 2016.
A informação mais recente, isto é, do trimestre findo em agosto do presente ano já aponta para uma retração da população ocupada de 1.991 mil pessoas, frente ao mesmo período do ano anterior. O corte de postos de trabalho tem sido um importante motor do aumento da taxa de desocupação em 2016. Outro fator de influência da taxa é a entrada de pessoas na força de trabalho (+1,2 milhão frente ao trimestre findo em ago/15).
Cabe enfatizar então que a primeira característica da evolução da população ocupada no país é seu expressivo e rápido encolhimento. Mas vale notar também que existe um processo em curso de realocação dos que seguem trabalhando de um tipo de ocupação para outro e de um setor para outro da economia.
Tomando o resultado do trimestre findo em agosto de 2016 em relação ao mesmo período do ano anterior, o tipo de ocupação que mais perdeu ocupados foi o trabalho com carteira assinada: -1,3 milhão de pessoas, seguido pelo setor público: -194 mil pessoas. O número de empregadores também se reduziu em 111 mil pessoas, refletindo a elevação do número de falência de muitas empresas devido à crise.
Apenas parcialmente, a retração nesses casos foi compensada pelo aumento do trabalho sem carteira assinada, de 122 mil pessoas frente ao trimestre findo em agosto de 2015, do trabalho por conta própria e do trabalho doméstico (86 mil e 85 mil pessoas respectivamente). O que se percebe, então, é a migração de ocupações formais, de melhor qualidade e cujos rendimentos tendem a ser mais elevados, para ocupações predominantemente informais e pior remuneradas.
Dentre os setores econômicos de liberação de mão de obra, a liderança cabe à indústria que no trimestre findo em agosto de 2016, teve queda de 1,4 milhão de pessoas frente ao mesmo período do ano anterior. Em seguida, e cada vez menos atrás da indústria, vêm o setor de informática, comunicação, financeiro, imobiliário e serviços administrativos e profissionais, onde o número de ocupados teve queda de 996 mil pessoas na mesma comparação.
Também o comércio e reparação de veículos fechou postos de trabalho (-279 mil pessoas frente ao trimestre findo em ago/15). Este setor que vinha conseguindo preservar empregos até a entrada de 2016, agora claramente sente os efeitos da crise. Outros setores que dispensaram mão de obra foram a agropecuária (-272 mil), construção (-103 mil) e outros serviços (-23 mil).
Compensou parcialmente o recuo nesses setores, a administração pública, defesa e serviços sociais, cujo número de ocupados cresceu 538 mil no trimestre findo em agosto de 2016 contra o mesmo período do ano anterior. Isso ocorreu não devido ao emprego público que, como vimos acima, teve queda neste período (-194 mil pessoas). Os demais setores de atração foram alojamento e alimentação (+232 mil), transporte, armazenagem e correios (+188 mil) e serviços domésticos (+151 mil).
Dessa dinâmica constata-se que fecharam postos de trabalho aqueles setores onde os ocupados tendem a apresentar maior produtividade, a exemplo da indústria e dos serviços de melhor qualidade, enquanto a ocupação cresceu naqueles onde o trabalho costuma ter menor produtividade.
Os últimos
resultados da pesquisa de emprego revelam, portanto, que os efeitos
negativos da recessão econômica não se dão
apenas na escalada do desemprego, que tende a restringir o crescimento
da demanda e dos mercados de bens e serviços, mas também
na menor qualidade dos postos de trabalho e na migração
da ocupação para atividades onde a produtividade
é menor.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE,
a taxa de desocupação alcançou 11,8% no trimestre
compreendido entre junho e agosto de 2016, 3,1 p.p. maior que a taxa observada
no mesmo trimestre do ano passado (8,7%). No trimestre móvel anterior
sem sobreposição (março a maio), a taxa observada
foi de 11,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 2.011,00, o que representou redução de 0,8% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e variação de -3,0% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.959,00, que corresponde a uma retração mínima de 0,1% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de 1,5% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 177,0 bilhões, variação de -0,8% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de –3,0% sobre o mesmo trimestre de 2015.
No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 90,1 milhões de pessoas, 0,8% a menos do que o registrado no trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre de 2015 foi de -2,2%. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,2% atingindo 102,2 milhões de pessoas, enquanto que o número de desocupados aumentou 36,6%, o que representa 12,0 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento nas categorias trabalhador doméstico (1,4%), trabalhador privado sem carteira (1,2%) e trabalhador por conta própria (0,4%). As demais tiveram retração: setor público (-1,7%), empregador (-2,7%), trabalho privado com carteira (-3,8%) e trabalhador familiar auxiliar (-22,7%).
Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre junho e agosto de 2015, estão: alojamento e alimentação (5,3%), transporte, armazenagem e correios (4,4%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,5%) e serviços domésticos (2,5%). Dentre os setores que tiveram retração da população ocupada, estão: outros serviços (-0,6%), construção (-1,4%) comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,6%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,9%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-9,4%) e indústria (-11,0%).