Análise IEDI
A indústria e o superávit de 2016
O saldo da balança comercial brasileira encerrou 2016 com um novo superávit, mas ainda muito em função à contração das importações devido à crise econômica doméstica. As exportações totais também caíram, só que menos do que em 2015. Contudo, se dependessem de manufaturados e semimanufaturados as vendas externas do país teriam crescido no acumulado do ano passado.
O superávit da balança comercial de 2016 atingiu o patamar de US$ 47,7 bilhões, isto é, mais do que duas vezes superior àquele de 2015 (US$ 19,7 bilhões), reforçando o ajustamento externo da economia brasileira. Com isso, nosso superávit comercial retornou a patamares vigentes antes da crise global, como o de 2006 (US$ 46,5 bilhões).
A evolução das importações teve papel fundamental, já que apresentou declínio de 19,8% frente a 2015 ao somar US$ 137,5 bilhões. Vale lembrar que essa queda foi menos intensa do que a de 2015 em relação a 2014 (-25,2%). Na origem desse arrefecimento, estão as importações de intermediários, cuja queda de -21,6% foi reduzida para -14,6% no ano passado. Todas as demais categorias de bens importados mantiveram em 2016 o mesmo padrão de acentuada queda de 2015.
Mas o superávit total não se explica apenas pelas importações. O desempenho das exportações também ajudou, já que a retração de -15,1% em 2015 recuou para apenas -3,1% em 2016 (US$ 185,2 bilhões). Não fossem os bens básicos, as vendas externas do Brasil teriam crescido, pois tanto manufaturados como semimanufaturados tiveram alta nas exportações.
Isso mostra mais uma vez que é a indústria que vem promovendo o rápido e vigoroso ajuste das contas externas. Em 2015, pela contração de suas importações e em 2016 não só por isso, mas também pelo aumento ainda que modesto de suas exportações.
Dentre os semimanufaturados, que lograram uma alta das exportações de 5,2% em 2016, o maior avanço das vendas externas coube a açúcar bruto (+39,8%), que, assim como no caso do açúcar refinado, foram beneficiadas pela elevação dos preços internacionais.
Já em relação aos manufaturados, cujas exportações cresceram 1,2% em 2016, destacaram-se a indústria automobilística, especialmente devido a veículos de passageiros (+38,2%) e de carga (+27,1%), em função da oportunidade aberta por uma taxa de câmbio mais competitiva no começo do ano, e a agroindústria, com açúcar refinado (+23,2%) e suco de laranja não congelado (+9,5%).
Outros bens manufaturados que também tiveram resultado positivo em 2016, compreendem aviões (+6,0%), tubos flexíveis de ferro/aço (+4,3%), máquinas p/terraplanagem (+3,9%), calçados (+3,5%), polímeros plásticos (+3,3%), pneumáticos (+3,1%), além das plataformas para extração de petróleo (+86,9%).
Com isso, mesmo que muito lentamente, a participação dos manufaturados na pauta exportadora do país vai se recompondo. Entre 2015 e 2016 passou de 38% para 40%, mas continua muito aquém dos seus níveis históricos. Para efeito de comparação, tomemos sua participação no ano de 2000: nada menos do que 59%.
De acordo com dados do MDIC, o saldo da balança comercial brasileira em dezembro apresentou superávit de US$ 4,416 bilhões frente a um saldo de US$ 6,240 bilhões no mesmo mês do ano passado. As exportações alcançaram US$ 15,941 bilhões, o que representa uma retração de 5,0% frente ao mesmo mês do ano passado. As importações, por sua vez, somaram US$ 11,525 bilhões, 9,3% maior que o mês de dezembro anterior.
No ano de 2016, o saldo comercial teve superávit de US$ 47,692 bilhões. O ano de 2015, por sua vez, apresentou superávit de US$ 19,679 bilhões. As exportações de 2016 somaram US$ 185,247 bilhões, queda de 3,4% na média diária, frente a 2015. Quanto as importações, estas somaram US$ 137,555 bilhões, recuo de 20,4%, pela média diária, sobre o ano de 2015.
Exportações por fator agregado. As exportações em dezembro atingiram US$ 15,941 bilhões. Deste valor, US$ 5,906 bilhões corresponderam a exportação de produtos básicos, US$ 2,653 bilhões a produtos semimanufaturados, US$ 6,984 bilhões a produtos manufaturados.
Em relação ao mês de dezembro de 2015, a média diária das exportações teve retração de 5,0%. com variações de básicos (-8,7%), manufaturados (-6,7%) e semimanufaturados (7,5%).
Destaques exportações. No grupo dos produtos básicos, na comparação com dezembro de 2015, os seguintes itens se destacaram: milho em grão (-83,4%), algodão em bruto (-50,1%), petróleo em bruto (-21,3%), carne bovina (-15,4%), carne de frango (-5,5%), farelo de soja (-3,8%) e soja em grão (-3,1%). Positivamente, nota-se os seguintes produtos: fumo em folhas (63,0%), minério de cobre (49,8%), minério de ferro (38,8%), carne suína (36,3%) e café em grão (18,4%).
Para os manufaturados, os destaques são os seguintes: bombas e compressores (-40,8%), aviões (-28,5%) e motores e geradores elétricos (-27,8%). Do lado positivo, destaca-se suco de laranja congelado (63,8%), torneiras/válvulas (55,7%), veículos de carga (49,9%), automóveis de passageiros (38,3%) e açúcar refinado (27,3%).
Para os semimanufaturados, quando comparado com dezembro do ano passado, temos as seguintes variações: ouro em forma semimanufaturada (63,2%), madeira serrada (35,3%), açúcar em bruto (34,4%).
Importações por categoria de uso. As importações totais em dezembro somaram US$ 11,525 bilhões, dos quais US$ 1,403 bilhão (-15,7%) referentes ao grupo de bens de capital, US$ 7,058 bilhões (20,7%) a bens intermediários, US$ 1,938 bilhão a bens de consumo (19,6%) e US$ 1.125 bilhão (-15,0%) a combustíveis e lubrificantes.
Na comparação com o mês de dezembro de 2015, a média diária de importação cresceu 9,3%. A maior variação negativa ficou por conta de bens de capital (15,7%), seguido por combustíveis e lubrificantes (15,0%). Do lado positivo, bens intermediários teve destaque (20,7%) e bens de consumo (19,6%).
Destaques importações. Para bens de capital, houve queda dos seguintes itens: equipamentos de transporte industrial (aviões, litorinas, helicópteros, locomotivas diesel/elétricas, veículos de combate a incêndios, veículos automóveis, dumpers); e bens de capital, exceto equipamentos de transporte industrial (barcos-farois, máquinas elétricas, aparelhos mecânicos, aparelho p/filtrar gás, máquinas p/fresar metais, máquinas p/elevação de cargas)
No segmento de bens intermediários cresceram as vendas de alimentos e bebidas, peças para equipamentos de transporte, peças e acessórios para bens de capital e insumos industriais elaborados.
Em bens de consumo, as principais quedas foram observadas nas importações de automóveis de passageiros, aparelhos de audição, “stents”, artigos de prótese, gravador/reprodutor de imagem, marca-passos (bens de consumo duráveis), aparelho celular, medicamentos, azeite de oliva, salmão do atlântico, alhos frescos/refrigerados, feijão em grãos, maçãs frescas, batatas preparadas/congeladas, arroz parboilizado e imunoglobulina (bens de consumo semiduráveis e não duráveis).