Análise IEDI
Poucos se salvam
A julgar pelos dados mais recentes divulgados pelo IBGE, o quadro do varejo nesses primeiros meses de 2017 foi negativo, não dando sinais de uma reversão dos maus momentos que vem passando nos últimos anos. As quedas imperam em qualquer que seja a comparação. Em seu conceito restrito, as vendas reais de março caíram -1,9% frente a fevereiro, na série com ajuste, e -4,0% frente a março 2016. Com isso, o resultado do primeiro trimestre não saiu do vermelho: -3,0% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Mesmo se considerarmos as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, que já viram dias piores, o desempenho do varejo, em seu conceito ampliado neste caso, não melhora muita coisa. Todos os resultados também se mantêm no negativo: -2,0% frente a fevereiro, com ajuste sazonal, -2,7% contra março de 2016 e -2,5% no acumulado do primeiro trimestre de 2017.
Mas nem tudo é desfavorável na pesquisa sobre o comércio varejista divulgada hoje pelo IBGE. Alguns segmentos do varejo conseguiram, neste começo de ano, entrar na faixa positiva de crescimento, recuperando uma fração de suas perdas passadas, como mostram as variações trimestrais na comparação interanual logo abaixo.
• Total do varejo restrito: -5,6% no 3º trim/16; -5,5 no 4º trim/16 e -3,0% no 1º trim/17;
• Tecidos, vestuário e calçados: -11,7%; -9,9% e +4,7%, respectivamente;
• Móveis e eletrodomésticos: -11,1%; -9,9% e +3,0%;
• Material de construção: -10,1%; -6,6% e +4,2%;
• Veículos e autopeças: -16,3%; -12,2% e -8,1%;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -1,9%; -3,7% e -3,1%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -10,4%; -4,3% e -5,3%;
• Materiais de escritório, informática e comunicação: -11,4%; -5,2% e -11,2%, respectivamente.
Alguma recomposição do crédito real concedido às famílias bem como a liberação dos recursos do FGTS podem estar na origem da melhora dos resultados em segmentos como móveis e eletrodomésticos e material de construção, cujo consumo foi bastante sacrificado no processo de ajustamento dos orçamentos familiares que vimos nos últimos anos.
Neste processo, tradicionalmente também se verifica o adiamento da compra de artigos de vestuário e calçados, o que agora pode estar sendo revertido à medida que a desaceleração da inflação vai abrindo algum espaço no orçamento das famílias para esse tipo de gasto. As vendas reais desse setor do varejo apresentaram o melhor desempenho no primeiro trimestre de 2017.
Entretanto, a situação nos demais segmentos não chega a ser tão favorável assim. Alguns, é verdade, têm conseguido amenizar suas quedas, mas continuam no vermelho. Este é o caso de segmentos de peso, como o combustíveis e lubrificantes, veículos e autopeças, além de artigos médicos, farmacêuticos e de perfumaria e livros, jornais e papelaria.
Em outros casos, 2017 não trouxe melhora alguma, a exemplo das vendas reais de materiais de escritório, informática e comunicação, bem como de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento. Nesta situação também pode ser incluído o segmento de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, já que seu resultado no primeiro trimestre de 2017 (-3,1%) é virtualmente o mesmo do último trimestre de 2016 (-3,6%), com o agravante de que desde março de 2003 (-13,2%) não apresentava uma queda interanual tão intensa quanto a de março do corrente ano (-8,7%).
De acordo com dados de março de 2017 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou retração de 1,9% em relação a fevereiro. Na comparação com março do ano passado houve queda de 4,0%, no acumulado do ano o resultado foi de -3,0% e nos últimos 12 meses, de -5,3%.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, apresentou redução de 2,0% sobre fevereiro, segundo dados livres de influências sazonais. Na comparação com março de 2016, o resultado foi 2,7% menor. Já no acumulado do ano e nos últimos 12 meses, as variações foram de -2,5% e -7,1%, respectivamente.
De acordo com os dados dessazonalizados, registrou-se alta nos seguintes itens em março frente ao mês imediatamente anterior: móveis e eletrodomésticos (6,1%), livros, jornais, revistas e papelaria (5,6%), combustíveis e lubrificantes (1,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,9%). As atividades que apresentaram variações negativas foram: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-6,2%), tecidos, vestuário e calçados (-1,0%), equipamento e material para escritório, informática e comunicação (-0,5%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,5%). Ainda nesta base de comparação, no comércio varejista ampliado houve expansão em materiais de construção (2,7%) e queda em veículos, motos, partes e peças (-0,1%).
Em relação ao mês de março de 2016, três itens que integram o comércio varejista restrito apresentaram crescimento: tecidos, vestuário e calçados (11,7%), móveis e eletrodomésticos (10,5%) e livros, jornais, revistas e papelaria (5,7%). Retrações foram verificadas em: equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-12,4%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-8,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,3%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,8%). No comércio varejista ampliado, materiais de construção teve variação positiva de 9,4% e veículos, motos partes e peças registrou alta de 6.1%.
Em 12 meses, todos os segmentos seguem com resultados negativos expressivos, com destaque para: livros, jornais, revistas e papelaria (-13,2%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-10,8%), combustíveis e lubrificantes (-8,3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-7,8%), móveis e eletrodomésticos (-7,8%) e tecidos, vestuário e calçados (-7,4%). No comércio varejista ampliado, as variações de material de construção e veículos, motos, partes e peças foram de -6,2% e -12,8%, respectivamente.
Em relação a março do ano passado, houve decréscimo no volume de vendas no varejo em 16 unidades da federação pesquisadas. As maiores variações negativas foram observadas em Goiás (-17,0%), Distrito Federal (-10,3%), Roraima (-9,5%), Espírito Santo (-8,9%), São Paulo (-8,9%), Sergipe (-8,5%), Ceará (-7,3%) e Rio de Janeiro (-7,1%). Quanto aos resultados positivos, os de maior intensidade foram observados em Santa Catarina (15,2%), Alagoas (5,8%), Tocantins (5,6%), Paraná (3,5%), Amapá (2,7%), Pernambuco (2,5%) e Amazonas (2,4%).
Quanto ao varejo ampliado, na mesma base de comparação, as maiores retrações foram verificadas em: Goiás (-15,5%), São Paulo (-7,9%), Rondônia (-7,4%) e Rio Grande do Norte (-5,8%).