Análise IEDI
Balanço de pontos fortes e fracos
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que, em maio de 2017, a produção industrial avançou tanto na comparação com o mês de abril (+0,8%), já descontados os efeitos sazonais, como frente ao mesmo mês do ano passado (+4,0%). Esse desempenho, contudo, traz consigo um conjunto de pontos fortes e fracos que sugerem que a recuperação industrial ainda é um jogo que está sendo jogado e que nada está garantido quanto ao crescimento industrial deste ano.
Quanto ao resultado geral, um ponto forte é o fato de que, na série com ajuste sazonal, a alta de maio consiste no segundo mês consecutivo de variação positiva, depois de um começo de ano ruim. Outro ponto forte é que o crescimento de 4,0% ante maio de 2016 foi o mais intenso desde fevereiro de 2014.
Em contrapartida, é claramente um ponto fraco que o aumento de produção acumulado em abril e maio seja o suficiente apenas para anular a queda mais intensa de março (-1,6%). Como os resultados de janeiro (0%) e fevereiro (+0,1%) foram medíocres, o que se pode dizer é que em 2017 a indústria parou de reduzir produção, mas ainda não se habilita a dar partida à recuperação do que foi perdido nos últimos três anos quando sua produção caiu quase 20%.
Além disso, se, de um lado, a indústria geral já registra algum crescimento no acumulado de 2017 (+0,5%) – algo que não ocorre na indústria de transformação (-0,2%) –, na manufatura, especificamente, o placar setorial continua muito dividido: 12 setores já passaram da estabilidade e começaram a recuperar perdas, enquanto outros 13 permanecem no negativo.
Sinais em direções opostas também caracterizam a evolução recente de cada um dos macrossetores industriais, cujos resultados no primeiro trimestre de 2017 e no bimestre abril-maio, frente a igual período do ano anterior, podem ser vistos abaixo.
• Indústria Geral: +1,0% no 1º trim/17 e -0,1% em abr-mai/17;
• Bens de Capital: +5,0% e +1,5%, respectivamente;
• Bens de Consumo Duráveis: +11,1% e +10,9%;
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: +0,5% e -3,6%;
• Bens Intermediários: -0,4% e -0,1%, respectivamente.
A produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis vem apresentando um ritmo mais intenso de crescimento que a indústria geral, qualquer que seja a comparação. Este é um aspecto favorável do quadro atual, já que estes macrossetores foram os que mais sofreram na crise. Entretanto, o ponto fraco desse desempenho é sua grande dependência de alguns poucos setores.
De fato, no caso de bens de capital, é elevada a contribuição da produção de bens de capital para a agricultura (+18,4% em abr-mai/17) e de transportes (+3,7%), o que tem relações estreitas com uma safra excepcionalmente positiva do início deste ano e com o avanço das exportações.
Já no caso de duráveis, o bom desempenho se deve principalmente ao setor de veículos (+20,3% em abr-mai/17), alavancado pela ampliação de suas exportações, e ao segmento de eletrodomésticos (+5,1%), influenciado por um conjunto de fatores que citamos em uma ordem que nos parece refletir sua importância: saque das contas inativas do FGTS, demanda reprimida por dois anos de crise aguda, recomposição parcial do crédito às famílias e desaceleração da inflação.
Estes quatro fatores acima identificados também podem estar na origem dos bons resultados em alguns setores de semi e não duráveis, sobretudo, têxteis (+7,8% em abr-mai/17), vestuário (+4,6%) e calçados (+8,2%). Como a produção desses bens está relativamente espalhada pelas regiões do país e é bastante empregadora, este é um aspecto de destacada importância. É um pesar que o setor de alimentos (-7,9%) não faça parte desse grupo. Na verdade, não só alimentos, mas também farmacêuticos (-5,7%) e combustíveis (-11,8%), que refletem bem o dinamismo da demanda interna, continuam em declínio. Este é um ponto bastante negativo.
Por fim, bens intermediários ainda não saíram do vermelho, mas se aproximaram muito da estabilidade (-0,1% em abr-mai/17) devido aos resultados de setores exportadores, como celulose (+6,2%), mas também metalurgia básica (+7,2%), que finalmente parece estar deixando para trás uma fase muito ruim. Estes são os destaques positivos. Do lado negativo estão os insumos para construção (-9,8%), que caem tanto agora como antes, e alimentos intermediários (-11,5%), cuja situação vem se agravando.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de maio registrou variação de 0,8% frente a abril na série livre de influências sazonais, após ter apresentado alta de 1,1% no mês anterior. Na comparação com maio de 2016, a indústria assinalou alta de 4,0%. Dessa forma, a indústria acumulou acréscimo de 0,5% nos primeiros cinco meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2016. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior registrou variação negativa de 2,4%.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de consumo duráveis (6,7%) e bens de capital (3,5%) mostraram as taxas positivas mais acentuadas. Os segmentos produtores de bens de consumo semi e não-duráveis (0,7%) e de bens intermediários (0,3%) também apontaram a expansão nesse mês, porém menos significativa.
Na comparação com igual mês do ano anterior, bens de consumo duráveis (20,7%) assinalou, em maio de 2017, a expansão mais acentuada, seguido pelo setor produtor de bens de capital (7,6%), bens intermediários (2,9%) e bens de consumo semi e não-duráveis (1,4%).
No acumulado do ano, as categorias de uso que registraram maior dinamismo foram: bens de consumo duráveis (11,0%) e bens de capital (3,5%). Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo semi e não-duráveis (-1,2%) e de bens intermediários (-0,3%) assinalaram as taxas negativas no índice acumulado do ano de 2017.
Setores. A alta do índice da indústria entre abril e maio foi resultado do crescimento de 17 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (9,0%), produtos alimentícios (2,7%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (4,0%). Entre os seis ramos que reduziram a produção nesse mês, os desempenhos de maior relevância para a média global foram assinalados por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,2%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,6%).
Na comparação com maio de 2016, a produção industrial mostrou avanço de 4,0%, influenciada pelo aumento da produção de 18 dos 26 ramos pesquisados. Veículos automotores, reboques e carrocerias (27,9%) exerceu a maior influência positiva, seguido por equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (25,9%), máquinas e equipamentos (8,9%), indústrias extrativas (2,8%), metalurgia (6,1%), produtos do fumo (40,6%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (14,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (11,1%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (13,2%) e produtos têxteis (9,5%). Por outro lado, entre as sete atividades que apontaram redução na produção, as principais influências foram: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (- 7,0%), produtos de minerais não-metálicos (-3,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (- 5,3%) e outros equipamentos de transporte (-8,5%).
No índice acumulado para o período janeiro-maio de 2017, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou avanço de 0,5%, com variação positiva em 13 dos 26 ramos. Entre os setores, o principal impacto positivo foi observado em veículos automotores, reboques e carrocerias (13,0%) e indústrias extrativas (6,3%). Outras contribuições positivas relevantes vieram de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (19,7%), metalurgia (4,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (6,6%) e máquinas e equipamentos (2,6%). Entre as atividades que apontaram redução na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,1%) e produtos alimentícios (-4,6%) exerceram as maiores influências negativas na formação da média da indústria.