Análise IEDI
Boas perspectivas para o consumo
Em 2017, um dos fatores de grande importância nos primeiros passos para a reativação da economia tem sido a expansão da massa real de rendimentos, decorrente sobretudo de um intenso recuo da inflação. Muito tímido no primeiro trimestre do ano, seu crescimento vem ganhando força, como mostram os dados divulgados hoje pelo IBGE.
Segundo a Pnad Contínua, o resultado da massa de rendimentos atingiu 3,9% no terceiro trimestre de 2017 ante igual período do ano passado, já descontada a inflação. Este é um patamar de crescimento que faz toda diferença no processo de recuperação econômica, já que abre perspectivas de que setores industriais e de serviços voltados às famílias venham a ter dias melhores.
O fato novo neste último trimestre de que temos notícia é que a expansão da massa tem sido possível não apenas devido ao aumento dos rendimentos reais, como vinha ocorrendo, mas também pela evolução da ocupação. As variações interanuais abaixo mostram esse processo.
• Massa de rendimentos reais: +0,7% no 1ºT/17; +2,3% no 2ºT/17 e +3,9% no 3ºT/17;
• Rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos: +2,5%; +3,0% e +2,4%;
• População ocupada: -1,9%; -0,6% e +1,6%, respectivamente.
Este crescimento de 1,6% da população ocupada significou 1,4 milhão de postos de trabalho a mais do que em igual período do ano passado, tornando o quadro do emprego melhor do que aquele do final de 2016, quando o corte de vagas comparado a um ano antes se aproximava de 2 milhões.
Entretanto, é preciso reconhecer que a reação do emprego e da massa de rendimentos se dá em um contexto que ainda está muito longe do ideal. Dois aspectos justificam esta afirmação. O primeiro, é que a taxa de desocupação permanece muito elevada: 12,4%, mesmo tendo recuado do pico de 13,7% atingido no primeiro trimestre de 2017. Isso significa que ainda são 12,9 milhões de pessoas sem trabalho.
O segundo aspecto é que o emprego com carteira assinada continua caindo (-2,4% frente ao 3ºT/16). Esse resultado joga contra um maior dinamismo econômico porque é justamente esse tipo de ocupação que melhor conseguiria transformar ganhos de rendimento real em consumo. Isso porque o emprego formal é marcado por maiores salários, um fluxo regular de renda e maior acesso ao crédito.
O que vemos, por ora, é que os grandes responsáveis pelo crescimento da ocupação são aquelas categorias mais vulneráveis a um retorno à desocupação e a um fluxo irregular de rendimentos, a saber: trabalho sem carteira (+6,2% ou +641 mil vagas ante 3ºT/16) e trabalhador por conta própria (+4,8% ou +1,05 milhão de vagas). Seria importante que os ocupados nestas categorias migrassem paulatinamente para postos formais.
Do ponto de vista setorial, por sua vez, a evolução positiva da ocupação se mostrou bastante disseminada. Dos dez setores acompanhados pelo IBGE, apenas dois ainda apresentaram resultado negativo na comparação do terceiro trimestre de 2017 com igual período de 2016. Foram os casos da agropecuária (-4,4% ou -400 mil vagas) e construção (-3,8% ou -268 mil vagas).
Quem se destacou na criação de postos de trabalho foram alojamento e alimentação (+12% ou +562 mil vagas ante 3ºT/16), informática, comunicação, atividade financeira, imobiliária e administrativa (+5,1% ou +487 mil vagas) e comércio e reparação de serviços (+2,4% ou +410 mil vagas). A indústria, por sua vez, criou 245 mil postos de trabalho a mais do que no terceiro trimestre do ano passado.
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre julho e setembro foi de 12,4%. Tal taxa é 0,6 p.p. maior que a observada no mesmo trimestre do ano passado, de 11,8%. Em relação ao trimestre móvel anterior sem sobreposição (abril a junho de 2017), cuja taxa fora de 13,0%, o indicador recuou 0,6 p.p.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$2.115,00, elevação de 2,4% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$2.065,00). Já a massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 188,1 bilhões no trimestre encerrado em setembro, alta de 3,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$181,1 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 91,2 milhões de pessoas, expansão de 1,2% na comparação com o trimestre anterior sem sobreposição e de 1,6% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Nesta última base de comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 2,4%, atingindo 104,3 milhões, enquanto o número de desocupados se elevou 7,8%, chegando a 13,0 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o número de pessoas ocupadas apresentou crescimento nas seguintes posições: trabalho familiar auxiliar (9,6%), trabalho privado sem carteira (6,2%), trabalho por conta própria (4,8%), empregador (4,0%), setor público (1,4%) e trabalho doméstico (0,9%). As posições de trabalho privado com carteira, em contrapartida, apresentaram queda de 2,4%.
Na mesma base de comparação, os grupamentos de atividades que apresentaram expansão da ocupação foram: alojamento e alimentação (12,0%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,1%), outros serviços (5,0%), transporte, armazenagem e correios (2,6%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (2,4%), indústria (2,1%), serviços domésticos (0,5%) e administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (0,3%). Em contraste, as categorias que registraram retração foram: agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-4,4%) e construção (-3,8%).