Análise IEDI
Trajetória em boa direção
Depois de dois anos seguidos de regresso, o quadro do crédito terminou 2017 em rota de normalização. Inadimplência, juros e spreads recuaram ao longo do ano e as concessões em algumas modalidades voltaram a crescer. A melhora relativa foi mais nítida nas operações com as pessoas físicas, o que explica em parte a recente reação do consumo. Porém, no crédito corporativo os sinais positivos ainda são muito incipientes.
O total das concessões de crédito, já deflacionadas pelo IPCA, registrou evolução de +3,6% no acumulado de 2017, em contraste com o declínio de 4,0% em 2015 e de nada menos do que 12,3% em 2016. O responsável por esse desempenho no ano passado foi claramente o crescimento de 8,6% das concessões reais às famílias.
No crédito às empresas, o máximo que se conseguiu foi uma queda menos aguda do que em 2016. Assim, já são quatro anos em que suas concessões reais ficam no vermelho: -0,4% em 2014, -5,2% em 2015, -14,9% em 2016 e -2,4% em 2017. Neste período (dez17/dez14), o estoque real desse tipo de financiamento encolheu cerca de 10%, contribuindo para o tombo do investimento fixo durante a crise.
O perfil setorial da evolução do crédito às empresas são apresentou grande alteração em 2017 frente ao ano anterior. Medido pelo Banco Central a partir do estoque das operações, o declínio dos empréstimos concedidos à indústria manteve-se como um dos mais intensos: -10,5% em termos reais, seguido pelos empréstimos à agropecuária (-8,2%) e ao setor de serviços (-3,4%) como um todo.
É importante observar, contudo, que ao menos no último trimestre de 2017 houve uma reação do financiamento às empresas, rompendo uma longa trajetória de contração. A alta das concessões reais chegou a 7,2% frente ao quarto trimestre de 2016, puxada exclusivamente pelo crédito livre (+10,1%), isto é, por aquelas operações cujos termos são livremente pactuados entre credores e demandantes, já que as modalidades de crédito direcionado se mantiveram no negativo (-13,2%).
Abaixo, as variações interanuais das concessões de novos empréstimos, já corrigidas pela inflação, mostram também que o crédito às famílias teve uma evolução favorável ao longo de todo 2017, atingindo um nível de crescimento razoável na segunda metade do ano. No caso de suas modalidades com crédito livre, o resultado foi ainda melhor: +11,1% ante o 4º trim/16.
• Concessões totais: -0,5% no 1º trim/17; +1,6% no 2º trim/17; +4,5% no 3º trim/17 e +8,5% no 4º trim/17;
• Concessões totais às pessoas jurídicas: -9,3%; -6,1%; -1,7% e +7,2%;
• Concessões totais às pessoas físicas: +7,0%; +8,4%; +9,6% e +9,5%, respectivamente.
Assim, muito em função dos empréstimos junto às famílias e, mais recentemente, também às operações junto às empresas, a situação do crédito no país começa a avançar na boa direção, abrindo a possibilidade de dar uma contribuição maior à recuperação da economia em 2018. O caminho a ser trilhado, entretanto, ainda é longo, como bem mostra o mergulho da relação crédito/PIB dos últimos anos, que passou de 53,6% em dez/15 para 47,1 agora em dez/17.
Ajudaria muito nesse processo que as taxas de juros cobradas dos empréstimos refluíssem mais rapidamente, acompanhando não apenas o declínio dos níveis de inadimplência, mas também um ambiente de juros básicos (Selic) sensivelmente menores.
Vale mencionar que ao longo de 2017, enquanto a Selic caiu praticamente pela metade, (de 13,75% a.a. para 7% a.a.), os juros médios dos empréstimos totais, em termos nominais, recuaram menos de ¼, passando de 52,2% a.a. para 40,3% a.a. entre dez/16 e dez/17, consideradas apenas as operações de crédito livre. A inadimplência, por sua vez, ficou 14% menor.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central mostram que o saldo das operações alcançou R$ 3.086 bilhões em dezembro de 2017, o que representa participação de 47,1% sobre o PIB, comparativamente a 49,6% no final de 2016.
A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.558 bilhões, aumento de 0,2% frente ao mesmo mês do ano anterior, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 851 bilhões, variação positiva de 5,2% na mesma comparação. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas apresentou queda de 2,0%, também na comparação com o mesmo período de 2016, ficando em R$ 732 bilhões.
O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu R$ 1.503 bilhões em dezembro, indicando retração, em termos nominais, de 3,0% frente ao mesmo mês do ano anterior. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 798 bilhões, apresentando, na mesma base de comparação, elevação de 6,2%, enquanto o saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 705 bilhões, recuo de 11,6%.
Em dezembro, foram concedidos R$ 322,5 bilhões em novas operações de crédito, variação nominal positiva de 7,3% frente ao montante de R$ 300,5 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$ 289,8 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 32,7 bilhões de recursos direcionados, aumento de 11,2% e 18,0%, respectivamente.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 118,0 bilhões), cartão de crédito (R$ 91,9 bilhões), crédito não rotativo (R$ 33,5 bilhões) e cheque especial (R$ 29,2 bilhões). No que se refere às empresas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$ 30,6 bilhões), capital de giro (R$ 18,4 bilhões), cheque especial (R$ 17,8 bilhões) e conta garantida (R$ 17,0 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 6,9 bilhões), financiamento imobiliário (R$ 6,2 bilhões), BNDES (R$ 989 milhões) e microcrédito (R$ 900 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 7,0 bilhões) e BNDES (R$ 7,7 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para a indústria atingiu R$ 670,2 bilhões, o que significa uma retração nominal de 10,4% frente a dezembro de 2016. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 11,6% na mesma comparação, atingindo o valor de R$ 363,1 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 715,3 bilhões, queda nominal de 3,3% em relação ao ano anterior, com destaque para as variações de comércio (-8,1%) e transporte (-6,1%). Por fim, o setor agropecuário resultou em R$ 22,3 bilhões, valor 8,1% menor, em termos nominais, do que o registrado em dezembro de 2016.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 25,6% a.a. em dezembro, (-1,3 p.p. no mês e -6,6 p.p. em doze meses. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 40,3% a.a. (-11,9 p.p. em relação ao mesmo do mês do ano anterior), sendo de 31,9% para pessoas físicas e de 16,8% para pessoas jurídicas. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,1% a.a. (diminuição de 1,5 p.p. na mesma base de comparação), sendo 8,0% para pessoas físicas e 10,8% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de dezembro manteve a trajetória de queda marcando em 3,2% (variação de -0,5 p.p. frente a dezembro de 2016). A inadimplência de pessoas físicas em novembro foi de 3,8% e a de pessoas jurídicas de 3,3%.