Análise IEDI
A aceleração das importações e o saldo da indústria por intensidade tecnológica
O FMI divulgou recentemente seu relatório World Economic Outlook, atualizando suas projeções para o desempenho da economia mundial para 2018. O crescimento do PIB mundial para este ano deve chegar a 3,9%. Se efetivado, este resultado será o melhor desde 2011. Além disso, o comércio internacional também deve ser reforçado: de 4,9% em 2017 para 5,1% em 2018, apesar da postura mais protecionista dos EUA e do aumento das tensões políticas no mundo.
Este cenário, embora não esteja livre de riscos, traz uma boa notícia para as vendas externas do Brasil em um ano em que a reativação do nível geral de atividade econômica deve implicar aumentos acentuados em nossas importações. Assim, ao longo de 2018, é bem provável que tenhamos um quadro no qual o ritmo de crescimento das exportações seja superado pelo das importações, como já indica o resultado do primeiro trimestre.
As exportações totais do Brasil (US$ 54,4 bilhões) cresceram 7,8% enquanto suas importações (US$ 40,4 bilhões) avançaram ainda mais: 12,1% ante o mesmo período do ano anterior. Com isso, o superávit global da balança comercial (US$ 14 bilhões) refluiu, porém marginalmente, -3,1% em relação ao do primeiro trimestre de 2017.
O comércio exterior da indústria de transformação parece, contudo, ter tido um dinamismo mais equilibrado, à primeira vista, com suas exportações (US$ 33,9 bilhões) subindo 12,6% e suas importações (US$ 36,4 bilhões) 11,8%, de modo a gerar um déficit pouco maior (+2,1%) do que aquele do primeiro trimestre do ano passado.
Entretanto, as exportações industriais só conseguiram crescer a este ritmo devido à contribuição de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 1,5 bilhão, que além de excepcional consiste em uma exportação meramente contábil. Sem esta operação, as vendas externas da indústria de transformação teriam avançado 7,6%, isto é, em um patamar inferior ao de suas importações.
De todo modo, manteve-se o quadro de aumento persiste dessas exportações que vem ocorrendo desde o início de 2016. Este desempenho exportador e o resultado geral do comércio externo da indústria de transformação no primeiro trimestre de 2018 serão analisados na Carta IEDI de hoje, que emprega a metodologia da OCDE para agrupar diferentes ramos industriais em faixas por intensidade tecnológica. A seguir, apresentamos uma síntese dos principais resultados do trabalho.
A indústria de alta intensidade tecnológica registrou déficit de US$ 5,0 bilhões em janeiro-março de 2018, implicando elevação de 4,1% frente a igual período de 2017, mesmo com as exportações crescendo 12,7%. Os produtos da indústria aeronáutica tiveram seu superávit (US$ 1,3 bilhão) reforçado, pelas exportações (+19,3%). Não fosse isso, o déficit da alta intensidade teria avançado ainda mais. Todos seus demais componentes (complexo eletroeletrônico e indústria farmacêutica) ampliaram fortemente seus déficits em função de avanços consideráveis em suas importações.
A faixa de média-alta intensidade, cujo saldo é tradicionalmente negativo, assim como a alta intensidade, teve seu déficit elevado em 16,4% frente ao primeiro trimestre de 2017 (para US$ 7,3 bilhões). Tal resultado ocorreu com aumento de 10,2% em suas exportações, que, a despeito do ritmo confortável de crescimento, segue em desaceleração, e de 12,8% em suas importações. A maioria dos seus segmentos, como veículos automotores, reboques e semi-reboques, máquinas e equipamentos elétricos e produtos químicos aumentaram suas exportações, mas de modo menos acentuado desde meados do ano passado. Do lado das importações, todos apresentaram crescimento, com destaque para a aceleração de veículos e máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos.
A indústria de média-baixa intensidade tecnológica, por sua vez, obteve superávit de US$ 1,0 bilhão no quarto inicial de 2018, em contraste com o déficit experimentado em igual trimestre de 2017. Essa melhora expressiva decorreu do incremento de 35,6% em suas exportações (US$ 9,3 bilhões), em grande medida devido à exportação contábil da plataforma de petróleo. Já suas importações cresceram 17,7%. Tais números refletem dois principais segmentos: derivados do petróleo, combustíveis e afins, cujas exportações cresceram 44,2%, mas sem impedir o aumento no déficit; e produtos metálicos, que lograram superávit de US$ 3,0 bilhões, só 1,3% maior que o do primeiro trimestre de 2017.
Quanto à indústria de baixa intensidade tecnológica, como de costume, registrou o maior superávit dentre as quatro faixas do primeiro trimestre (US$ 8,7 bilhões), no mesmo patamar que em início de 2017. Suas exportações cresceram (+1,9%), porém abaixo de suas importações (+6,4%). Os destaques nas vendas externas foram a alta expressiva de madeira, papel e celulose (+35,6%) e o declínio de alimentos, bebidas e tabaco (-6,2%). Pelo lado das importações, nota-se crescimento expressivo de tecidos, couro e calçados desde o começo de 2017, atingindo no primeiro trimestre de 2018 a marca de +22,1% frente a igual período do ano anterior.