Carta IEDI
A Moderação da Espiral Recessiva
Nesta Carta IEDI, aproveitamos a divulgação dos dados do PIB do primeiro trimestre de 2016 para avaliar, juntamente com informações até abril para indústria, comércio varejista e serviços, o atual quadro econômico e suas tendências recentes. Ao que tudo indica, a crise da economia brasileira perdeu força nesse início de ano.
Foram de muita importância para essa conjuntura “menos ruim” o câmbio mais competitivo, a estimular as exportações e a substituição de importações, e a própria dinâmica da crise, em que um longo período de aguda contração econômica torna cada vez mais inadiável a retomada de alguns projetos de investimento e de consumo.
Contudo, a interpretação desses resultados deve levar em conta algumas ponderações bastante pertinentes: os níveis de queda em 2016 ainda são muito expressivos e eles sucedem um período de perdas muito intensas. Por isso, o momento está mais para uma trégua da espiral recessiva do que para o início de uma recuperação.
No primeiro trimestre de 2016, o PIB total caiu apenas -0,3% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. Isso ocorre depois de contrações entre -1,2% e -2,0% ao longo de 2015 na mesma comparação. Esse movimento de arrefecimento das perdas também pode ser visto nas variações frente ao mesmo período do ano passado: -5,4% no primeiro trimestre de 2016 contra -5,9% no último de 2015.
Do lado da demanda, o destaque fica a cargo das exportações, que cresceram de forma robusta: +6,5% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, e +13% frente ao primeiro trimestre de 2015. Como as importações continuaram caindo (-5,6% e -21,7% nas mesmas comparações), constata-se uma contribuição importante do setor externo para a redinamização da economia.
Do lado da oferta, merece ser pontuado o fato de que, pela primeira vez desde que a crise se aprofundou no início de 2015, a queda da indústria de transformação não superou aquela do PIB como um todo na série com ajuste sazonal. Ambos caíram -0,3% frente ao último trimestre de 2015.
Por mais que seja um bom indício, isso só significa uma estabilização do ritmo das perdas do setor industrial, que se mantêm num patamar ainda muito sofrível. É isso que mostra o resultado do PIB da indústria de transformação para o primeiro trimestre de 2016 contra o mesmo período do ano anterior: -10,5%, não muito distante dos -11,3% e dos -12,0% de declínio do terceiro e quarto trimestre de 2015, respectivamente.
A redução da taxa de juros seria de grande importância para pavimentar uma trajetória de efetiva recuperação, não só por estimular investimentos e o consumo de bens duráveis, mas também por facilitar a gestão do passivo de muitas empresas, cujas dificuldades patrimoniais se agravaram nos últimos meses.
Outro dado a corroborar esse quadro de moderação da crise foi a evolução da produção física da indústria geral, para a qual já estão disponíveis os dados até abril. Dos quatro primeiros meses do ano, três apresentaram variações positivas frente ao mês anterior com ajuste sazonal.
Com isso, o resultado da indústria, frente ao mesmo período do ano anterior, de -10,5% do primeiro quadrimestre de 2016 foi um pouco menos adverso do que aquele do último quadrimestre de 2015 (-11,5%), ainda que esses patamares deixem claro o tamanho da crise em que o setor ainda se encontra.
Regionalmente, 10 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE acompanharam o desempenho geral e tiveram quedas menos agudas nesse início de 2016. Por seu peso elevado, ganha importância o caso de São Paulo, cuja produção declinou -11% neste início de 2016 contra -13,2% no último quadrimestre de 2015, frente ao mesmo período do ano anterior, mas seguiram a mesma tendência o Rio de Janeiro, todos os estados do Sul do país e a região Nordeste.
Como o comércio varejista é um importante canal de escoamento de muitos produtos industriais, o que acabamos de descrever para a indústria guarda relações com a estabilização do ritmo de piora do varejo. Suas vendas reais no acumulado de 2016 até abril caíram -6,9% frente ao mesmo período do ano passado, praticamente o mesmo resultado do último quadrimestre de 2015 (-6,8%).
Essa evolução foi bastante influenciada pelas vendas de hipermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujo declínio vem girando em torno de -3,0% desde o segundo quadrimestre de 2015. Outros três segmentos do varejo também retraíram menos, mas continuam na lona: combustíveis e lubrificantes (-9,8%), veículos e peças (-13,6%) e móveis e eletrodomésticos (-15,4%). Apenas as vendas de farmacêuticos conseguiram crescer (+1,5%).
Dos macrossetores da economia quem “melhor” tem resistido à crise presente, inclusive agora em que se acumulam sinais de moderação, continua sendo os serviços, cujas receitas reais, que tinham caído -5,5% no último quadrimestre de 2015, recuaram -4,9% no primeiro quadrimestre de 2016, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
É preciso, contudo, ter em mente que esse momento de crise menos intensa ainda está sujeito a riscos de uma nova deterioração. Nem a moderação nem a recuperação estão garantidas. Dentre esses fatores de risco ainda presentes estão a alta volatilidade do câmbio, acompanhada de valorização, a continuada e expressiva contração das concessões de crédito e uma piora ainda em processo do emprego.
PIB. Ainda não há nada de real acontecendo para uma reviravolta na economia do país, mas os dados do PIB deste início de ano trazem sinais de que um novo horizonte pode estar se formando. A sugestão de que a crise está perdendo força vem da retração livre de efeitos sazonais de apenas -0,3% do PIB do primeiro trimestre de 2016 frente ao trimestre anterior. Como cabe observar, em todos os trimestres de 2015, o declínio nesta mesma comparação situou-se em níveis muito maiores, entre -1,2% e -2,0%.
Dois fatores tiveram importância especial para a obtenção desse resultado. O primeiro deles foi a taxa de câmbio mais competitiva que, apesar do baixo crescimento do comércio internacional, vem conseguindo dinamizar as exportações brasileiras e estimular um processo de substituição de importações, ao garantir condições mais equânimes de concorrência com produtos estrangeiros.
No primeiro trimestre de 2016, as exportações cresceram de forma robusta: +6,5% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. As importações, por sua vez, caíram -5,6% na mesma comparação, repetindo o resultado do final de 2015 depois de uma continuada desaceleração desde o segundo trimestre do ano passado.
O segundo fator a operar nesse início de 2016 é a própria dinâmica da crise, que tende a engendrar condições relevantes para sua própria superação. Em outros termos, depois de longos e agudos períodos de contração econômica tornam-se cada vez mais inadiáveis a retomada de alguns gastos de investimento, para recompor a competitividade perdida, bem como de consumo, para a reposição de bens duráveis, por exemplo. As crises podem ser inevitáveis, mas nunca são eternas.
É isso que a estabilização ou a redução do patamar de queda em alguns componentes do PIB estão a indicar. O resultado mais favorável vem justamente do setor que, disparadamente, lidera a recessão, qual seja, a indústria de transformação, cujo revés foi de apenas -0,3% no primeiro trimestre do ano contra o período anterior, sem os efeitos sazonais. Para se ter ideia, no último trimestre de 2015, a queda havia sido de -2,3% na mesma comparação.
Esta foi a primeira vez, desde que a crise se aprofundou no início de 2015, que a queda da indústria de transformação não superou aquela do PIB como um todo. Na atual conjuntura, é uma vitória. Outros setores, ademais, também conseguiram reduzir suas perdas.
Do lado da oferta, o comércio (varejista e atacadista) arrefeceu sua queda de -2,6% no último trimestre de 2015 para -1,0% nesse início de 2016. Em transportes, armazenagem e correio, o patamar de queda passou de -1,9% para -0,4% no mesmo período. Já no caso de administração, saúde e educação pública e no caso de outros serviços o declínio se reverteu em crescimento: de -1,1% para +0,1% e de -2,2% para +0,1%, respectivamente.
Do lado da demanda, o consumo do governo foi o único componente a contribuir positivamente para o PIB ao lado das exportações: sua queda de -2,9% no quarto trimestre de 2015 foi revertida em alta de +1,1% neste primeiro trimestre de 2016. A formação bruta de capital fixo, por sua vez, caiu menos, passando de -4,8% para -2,7% no mesmo período.
O consumo das famílias, entretanto, não dá sinais de melhora porque o emprego e a renda continuam em franca queda e o crédito segue em retração. O declínio de -0,9% do último trimestre de 2015, com ajuste sazonal, parece ter sido um alívio passageiro, já que a retração de -1,7% neste início de 2016 retoma o patamar do terceiro trimestre de 2015 (-1,6%).
Frente a esses dados, estaríamos no limiar de uma recuperação? A resposta infelizmente é não, por enquanto. O momento atual deve ser interpretado como um estágio em que a crise começa a gerar condições para sua superação.
Para a efetiva recuperação da economia alguns fatores são essenciais: manutenção do câmbio no atual patamar, de forma a continuar impulsionando as exportações, e avançar na redução dos juros. Com isso, a demanda potencial que está se formando se tornará demanda efetiva. Ao sinalizar ao consumidor e ao investidor de que a tormenta está passando, a redução dos juros e a volta do crédito possibilitariam uma maior ousadia para que esses agentes retomassem projetos para além de seus gastos correntes.
Se o governo pudesse gerar uma demanda autônoma seria também muito bem-vindo. Em um momento de escassos recursos fiscais, o que é possível e desejável de ser feito é avançar nos programas de concessões públicas. Além de dinamizar alguns setores, as concessões também podem contribuir para o aumento da competitividade da economia do país.
Se estamos em uma antessala da recuperação, existem ainda riscos não desprezíveis de uma recaída. O maior deles é o aprofundamento da crise política, por ensejar nova depressão de expectativas, abortando a estabilização das perdas de setores mais elásticos ao ciclo econômico como o de bens de capital e o de bens de consumo duráveis.
Indústria. O desempenho da indústria em 2016 dá sinais de uma evidente descontinuidade da trajetória anterior marcada por quedas continuadas da produção. Dos quatro primeiros meses do ano, três apresentaram variações positivas na comparação frente ao mês anterior com ajuste sazonal (+0,4%, -2,9%, +1,4% e +0,1%, de janeiro a abril, em ordem). Como discutido na Carta IEDI n. 735, esse movimento tem sido acompanhado por praticamente todos os grandes setores da indústria, com destaque para o de bens de capital que liderara a retração em 2015.
A reincidência de elevações da produção neste início de ano, ao menos na margem, dá esperanças de que tenhamos chegado a uma fase menos aguda da crise. Os dados regionais da produção industrial mostram, contudo, que esse movimento, se estiver de fato ocorrendo, não é em toda parte.
Das 14 localidades acompanhadas pelo IBGE na série com ajuste sazonal apenas 4 tiveram desempenho positivo em abril frente a março. A característica frisante delas é que compreendem sobretudo os maiores centros industriais do país. De fato, a produção cresceu em São Paulo (+2,6%), Rio de Janeiro (+0,7%) e Minas Gerais (+2,4%). No entanto, todas essas localidades continuam apresentando quedas na comparação com abril de 2015, mas em um patamar menor.
Vejamos como têm se saído esses grandes centros, buscando identificar, em cada um deles, os ramos cujos resultados podem sugerir um arrefecimento do ritmo de contração da produção.
Em São Paulo, frente ao mesmo mês do ano anterior, o mês de abril assinalou uma queda muito inferior ao que vínhamos observando: -2,6% contra -13,8% do primeiro trimestre de 2016. Muito disso tem a ver com a antecipação da moagem de cana de açúcar no estado, o que levou a um crescimento de nada menos de 44,2% da sua indústria alimentícia.
A despeito disso, o ramo alimentício em São Paulo obteve crescimento em todos os meses de 2016 frente ao mesmo período do ano anterior. Este também foi o caso de farmoquímicos e farmacêuticos (+3,0% em abril). Outros três ramos saíram do terreno negativo e passaram igualmente a crescer em abril: bebidas (+8,6%), sabões, detergentes e afins (+1,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+0,1%).
Mais significativo é o número de ramos da indústria paulista cujo desempenho tem sido “menos ruim”: 9 dos 19 ramos pesquisados, dentre os quais estão produtos de borracha e plástico, minerais não metálicos, máquinas e equipamentos e produtos de informática e eletrônicos.
Em Minas Gerais, por sua vez, o resultado -4,1% em abril, frente ao mesmo mês do ano anterior, também foi bastante inferior aos -12,1% do primeiro trimestre de 2016. Dos 13 ramos pesquisados no estado, 5 conseguiram crescer em abril: alimentos (+16,1%), bebidas (27,3%), papel e celulose (+22%), outros produtos químicos (+6,0%) e coque e derivados de petróleo (+5,4%). Outros 4 reduziram suas perdas, como veículos, máquinas e equipamentos, têxteis e minerais não-metálicos.
Já no Rio de Janeiro, a queda foi de -9,5% frente a abril de 2015, muito próximo do resultado do primeiro trimestre de 2016 (-10,0%). Mas dos 14 ramos acompanhados no estado, 6 obtiveram crescimento da produção em abril. No caso de coque e derivados de petróleo (+3,1%), de produtos de borracha e plástico (+5,4%) e de produtos de metal (+8,7%) variações positivas têm predominado neste começo de ano. Apesar disso, a retração continua muito intensa em alguns ramos, como em veículos (-34%), outros equipamentos de transporte (-71%) e farmoquímicos e farmacêuticos (-29,6%).
Se os dados da indústria dos últimos meses podem ser lidos como sinais de arrefecimento da crise, continuam válidas algumas ressalvas. A primeira delas é que os resultados positivos em alguns segmentos ou localidades podem ser passageiros, porque ainda estamos longe de uma recuperação da economia.
A segunda ressalva é que a despeito de algumas desacelerações, muitas quedas continuam em patamares gravíssimos. Uma outra ressalva é que tais desacelerações também expressam um efeito estatístico, já que a base de comparação foi ficando muito baixa.
Comércio Varejista. O varejo, que era caracterizado por continuadas quedas nas vendas reais, passa do final do ano passado até aqui a intercalar bons e maus resultados. Isso é uma novidade positiva, muito embora a intensidade das quedas ainda sobrepuje aquela das elevações. Em outras palavras, a tendência em 2016 ainda é de declínio, mas com alguma moderação com relação ao que dominou o ano de 2015.
Em boa medida, esse comportamento se deveu ao segmento de alimentos e bebidas que, a despeito da subida dos preços, pode ter se beneficiado do reajuste do salário mínimo a recompor parte do poder de compra da população. Outro aspecto importante para a venda desses bens é sua essencialidade, que impõe um piso à redução de sua compra pelas famílias. É possível também que o ajustamento familiar venha se dando menos pela quantidade comprada e mais pela qualidade, mantendo o gasto no setor, porém substituindo produtos mais caros por similares mais baratos.
Em abril, as vendas reais do varejo no conceito restrito cresceram 0,5% frente a março, sem efeitos sazonais. Esta foi a segunda variação positiva do ano. O resultado de fevereiro também tinha sido positivo (+1,2%), enquanto os de janeiro (-2,0%) e março (-0,9%) foram negativos. Já no conceito ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, as vendas caíram -1,4% em abril.
Também se verifica a moderação do ritmo de piora do varejo no resultado de -6,9% no acumulado de janeiro a abril de 2016, em relação ao mesmo período do ano anterior, patamar equivalente àquele do último trimestre de 2015. No conceito ampliado, há até mesmo um arrefecimento: -9,3% contra -12,0% na mesma comparação.
Ainda com base nos dados em relação ao ano passado, é possível identificar aqueles setores que seguem ou não a tendência média de moderação. Como já mencionado, o segmento de hipermercados, alimentação, bebidas e fumo, com peso importante no comércio, é um dos que pararam de piorar. O declínio de suas vendas reais tem sido de -3,2% no terceiro e no quatro trimestre de 2015 bem como no acumulado de 2016 até abril. O aspecto ruim disso é que esse patamar de queda não é pouca coisa para o segmento.
Materiais de construção compreendem outro segmento cujas vendas em volume se estabilizaram num ritmo de queda expressivo. No último trimestre de 2015, seu desempenho foi de -14,0% e de -14,3% no acumulado dos quatro meses de 2016.
Já em outros segmentos a deterioração continua. Em alguns isso ocorre em ritmo acelerado, como em artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento. A retração real de -7,5% do final de 2015 avançou para -12,2% nos primeiros meses de 2016.
Em outros, o ritmo de piora é mais brando até porque as perdas já são bastante expressivas, como são os casos de artigos de escritório, informática (-15,5% no quarto trim. de 2015 e -16,2% no acumulado de jan-abr/16) e comunicação e livros jornais e papelaria (-14,4% e -15,5%, respectivamente) e tecidos, vestuário e calçados (-11,5% e -12,2%, respectivamente).
A evolução desses segmentos foi compensada por retrações menos intensas em outros. As vendas reais de veículos caíram -13,6% no acumulado de 2016 até abril contra -22,7% no último trimestre de 2015. Já as de combustíveis tiveram retração de -9,8% em 2016 e de -11,1% nos últimos três meses de 2015. Em móveis e eletrodomésticos por sua vez, esse arrefecimento foi muito marginal (-15,4% contra -16,8% nas mesmas comparações).
O único segmento a apresentar crescimento do volume de vendas continua sendo o de artigos farmacêuticos, ortopédicos, cosméticos e perfumaria, mas a taxas quase insignificantes diante de resultados em anos anteriores à crise. No acumulado de janeiro a abril cresceram apenas 1,5%.
Serviços. O setor de serviços, cuja crise vinha em nítida progressão desde o início do ano passado, conseguiu estabilizar o ritmo de sua queda. É o que se observa nesses primeiros meses 2016. Mas se isso significa o início de uma trajetória de recuperação, ainda é muito cedo para afirmar.
A retração das receitas reais do setor, que havia atingido -5,5% no último quadrimestre de 2015, recuou para -4,9% no primeiro quadrimestre de 2016, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Este arrefecimento, mesmo que favorável, é pouco e mantém o setor preso numa conjuntura muito adversa.
A despeito disso, os serviços é o macrossetor da economia que “melhor” tem resistido à crise presente, inclusive agora em que sinais de moderação também marcaram a evolução do comércio e da indústria. De fato, as retrações acumuladas em 2016 de -6,9% das vendas reais do comércio e, principalmente, de -10,5% da produção industrial indicam situações de gravidade maior do que em serviços (-4,9%).
O que notabiliza muito o comportamento do setor de serviços nesse começo de ano tem sido uma dança de cadeiras entre seus segmentos, em que uns assumem o lugar de outros numa trajetória de nítida piora. Isso reflete em alguma medida fases distintas das estratégias das famílias e das empresas diante do prosseguimento da crise.
Vejamos a seguir como a evolução de alguns segmentos de serviços ilustram esse ciclo de estratégias.
Dentre os serviços prestados às famílias, o subsetor de alojamento e alimentação foi o que primeiro sentiu os efeitos da crise (desde jun/14). A queda de suas receitas reais foi influenciada tanto pela elevação dos preços das refeições fora de casa como pelo fato de restaurantes e viagem serem considerados por muitas famílias como gastos supérfluos ou de mais fácil adiamento.
Por isso, os serviços de alojamento e alimentação tornaram-se o primeiro alvo do ajuste familiar diante da fase adversa da economia, mas sua retração de -6,2% no último trimestre de 2015 refluiu para -3,3% no acumulado de 2016 até abril. Certamente isso ocorreu porque foi ficando difícil para as famílias cortar ainda mais gastos que tanto já haviam caído.
A pressão do ajuste passou então a atingir de forma intensa o subsetor de outros serviços prestados às famílias. O mergulho das receitas reais desse segmento em 2015 foi extraordinário: +0,1%, -4,0% e -7,8% nos seus três quadrimestres em ordem, frente ao mesmo período do ano anterior. Depois de uma evolução de tal intensidade, a queda no primeiro quadrimestre de 2016 refluiu bastante: -1,9%.
Quanto às empresas, por sua vez, sua reação à crise afetou em primeiro lugar (desde mai/13) o subsetor de serviços técnico-profissionais, mais diretamente relacionados ao volume de seus negócios. Sua retração chegou a -11,2% no último quadrimestre de 2015, passando para -7,4% no primeiro quadrimestre de 2016, possivelmente devido à moderação da crise vivida pela indústria e comércio. Mas o fato é que apesar dessa evolução ainda caem muito.
Já o subsetor de serviços administrativos e complementares começaram a cair depois (a partir de jul/15) porque não estão diretamente vinculados ao desempenho das empresas, como os serviços de limpeza e segurança, por exemplo. Mas desde então levaram um tombo do qual ainda não se recuperaram. A evolução de suas receitas reais no segundo e terceiro quadrimestre de 2015 e no primeiro de 2016 foi a seguinte: -1,6%, -6,5% e -6,1%, em relação ao mesmo período do ano passado.
Por fim, os serviços de informação e comunicação por terem se tornado essenciais tanto às empresas como às famílias são um dos últimos segmentos a entrar em crise (desde set/15). Por isso, suas perdas ainda estão em processo de aceleração: -2,1% e -4,0% no último quadrimestre de 2015 e no primeiro de 2016, respectivamente.