Análise IEDI
Indústria: o melhor resultado desde 2007
A Carta IEDI a ser divulgada hoje traz os resultados da balança comercial no acumulado ao ano até o terceiro trimestre. A análise concentra-se sobretudo no desempenho do comércio exterior da indústria de transformação, a partir da agregação de seus setores por intensidade tecnológica, seguindo a metodologia desenvolvida pela OCDE.
Em síntese, foi a expressiva redução do déficit da indústria de transformação que continuou permitindo que o Brasil acumulasse um saldo positivo cada vez maior em sua balança comercial. Tal resultado do comércio de produtos manufaturados foi ensejado principalmente pela contração das importações, mas o fato novo é que finalmente as exportações apresentaram crescimento no total desses nove meses de 2016. Vejamos alguns números que ilustram essa evolução:
• Saldo total da balança comercial: superávit de US$ 10,2 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2015 e de US$ 36,1 bilhões em igual período de 2016 (+253%).
• Saldo da balança comercial da indústria de transformação: déficit de US$ 29,9 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2015 e de US$ 3,6 bilhões em igual período de 2016 (-87,8%).
• Importações de produtos manufaturados: US$ 118,9 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2015 e US$ 93,2 bilhões em igual período de 2016 (-21,6%).
• Exportações de produtos manufaturados: US$ 88,9 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2015 e US$ 89,5 bilhões em igual período de 2016 (+0,7%).
As causas por de trás desses resultados incluem, sem dúvida, a severa crise por que passa a economia brasileira, de forma a reduzir muito as importações do país e a impelir as empresas nacionais a aumentar suas exportações como forma de compensar, mesmo que parcialmente, o encolhimento do mercado doméstico. A essas pressões se somou outro fator poderoso, a saber, a desvalorização da taxa de câmbio na passagem de 2015 para 2016, desencadeando um processo de substituição de importações e estimulando as exportações.
O baixo dinamismo do comércio internacional e a elevada capacidade ociosa que tem caracterizado muitos setores em nível mundial acirraram a concorrência e fizeram com que o câmbio mais competitivo levasse alguns meses para surtir efeito sobre as exportações.
Em valor, a reação das exportações da indústria de transformação aparece no acumulado de janeiro a setembro de 2016, quando obteve alta de 0,7% frente ao mesmo período do ano anterior. À exceção da indústria de média-baixa intensidade tecnológica (-7,3%), todas as demais faixas tiveram aumento das exportações: alta intensidade (+9,2%), média-alta (+1,3%) e baixa intensidade (+3,3%).
As importações de bens manufaturados, por sua vez, continuam apresentando patamares elevados de queda, resultado da recessão doméstica e de um processo de substituição de importações. No acumulado até o terceiro trimestre do ano, o declínio foi de 21,6%, sendo que em todas as faixas por intensidade tecnológica houve retração expressiva: -18,1% na alta tecnologia, -20,3% na média-alta, -28,2% na média-baixa e -22,9% na indústria de baixa intensidade tecnológica.
Logo abaixo adiantamentos os principais resultados de nossa Carta IEDI e apresentamos os aspectos relevantes do comércio exterior brasileiro na comparação entre acumulados até setembro, e utilizando a classificação da indústria de transformação por intensidade tecnológica da OCDE:
• A indústria de alta intensidade tecnológica teve déficit de US$ 13,5 bilhões (o menor dos últimos seis anos). No período, suas exportações (US$ 7,6 bilhões) cresceram (9,2%), mas ainda é a faixa que menos exporta. Os produtos farmacêuticos tiveram déficit maior do que em 2015, enquanto déficit dos bens do complexo eletrônico foi menor. Já os produtos da indústria aeronáutica permanecem como os únicos dessa faixa com superávit, ampliando as vendas para o exterior (+21,4%).
• A indústria de média-alta intensidade apresentou déficit de US$ 22,7 bilhões, também o menor dos últimos seis anos. Tal resultado derivou do aumento na exportação (US$ 23,2 bilhões) e da queda das importações (US$ 45,7 bilhões). Dentre os setores que compõem esta faixa, cresceram as exportações da indústria de máquinas e equipamentos mecânicos (+4,7%), da indústria automotiva (+7,2%) e do segmento de material ferroviários e outros de transporte (+42,5%). No caso do ramo automotivo, veículos automotores, reboques e semi-reboques, a balança comercial voltou a ter superávit (US$ 560 milhões), o que não ocorria desde 2008.
• A indústria de média-baixa intensidade tecnológica voltou a ter superávit (US$ 3,2 bilhões), após seis anos com saldo negativo no acumulado até setembro. Tal melhora, contudo, foi acompanhada de queda nas exportações (-7,3%). Esse resultado reflete o comportamento nos fluxos comerciais dos dois principais tipos de bens desta faixa: derivados do petróleo, combustíveis e afins; e produtos metálicos, com destaque para commodities industriais.
• A indústria de baixa intensidade tecnológica obteve o maior superávit dentre as quatro faixas (US$ 29,3 bilhões), mas já foi maior no acumulado de janeiro-setembro de anos anteriores. As vendas externas de alimentos, bebidas e fumo – principal item da balança da indústria de transformação do País – cresceram 5,9% frente a 2015, enquanto as de produtos madeireiros, de papel e celulose e produtos gráficos recuaram de modo discreto (-0,4%). Em ambos os casos, o superávit cresceu devido ao recuo das importações. Destaca-se também a queda de nada menos que 37,6% das importações de têxteis, couros e calçados.