IEDI na Imprensa - Importações de bens de capital aceleram
Valor Econômico
Economia aquecida ajuda a puxar aumento de 20% até outubro; alta de juros pode atuar como freio
Estevão Taiar
Em linha com a atividade econômica aquecida, as importações de bens de capital no Brasil cresceram 20% no acumulado de janeiro a setembro deste ano, alcançando US$ 26,4 bilhões. Os números sinalizam uma expansão da capacidade produtiva da economia brasileira para os próximos anos, embora o novo ciclo de alta da Selic tenda a tirar força desse processo.
De acordo com os dados mais recentes da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), as importações da economia brasileira como um todo em 2024 cresceram 8% até setembro. A comparação é sempre com o mesmo período do ano anterior.
O movimento também foi impulsionado pela atividade econômica, mas ocorreu em ritmo bastante inferior ao desembarque de bens de capital, também levantado pelo Mdic. A projeção de economistas do setor privado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano é de 3%, segundo a estimativa mediana da edição mais recente do relatório Focus, coletado pelo Banco Central (BC). Já o Ministério da Fazenda e o BC projetam alta de 3,2%. O Banco Mundial divulgou ontem que projeta alta de 2,8% (ver Taxação de bilionários pode gerar US$ 250 bi, mas seria ineficaz para América Latina, diz Banco Mundial).
“[A importação de] bens de capital cresce significativamente”, disse o diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do Mdic, Herlon Brandão, na entrevista coletiva, concedida na sexta-feira da semana passada, para comentar os dados da balança comercial referentes a setembro. “A economia cresce e demanda mais bens importados.”
A expansão das importações de bens de capital no ano vem sendo puxada pelo volume, com alta de 22,1%, contra queda de 3,3% nos preços. Em outras palavras, se os preços tivessem ficado estáveis, o crescimento do valor seria ainda maior. Levantamento realizado pelo Mdic a pedido do Valor mostra que, nos nove primeiros meses de 2024, as importações cresceram em todas as dez categorias desse tipo de bem. A maior alta, de 79%, foi observada em outros equipamentos de transporte, para US$ 2,4 bilhões. Já máquinas e equipamentos foram a categoria com maior valor importado: US$ 10,6 bilhões, com crescimento de 16,9%.
“Estamos falando de ampliação da capacidade produtiva da economia brasileira, e isso é positivo”, afirma Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria.
“Há uma retomada dos investimentos e da indústria, o que é bom inclusive do ponto de vista de controle da inflação, porque essa retomada significa aumento de oferta”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Em seu Relatório de Inflação (RI) divulgado no fim de setembro, o BC já afirmava que a “forte alta” da importação de bens de capital tinha sido um dos fatores responsáveis pelo crescimento “a taxas elevadas pelo terceiro trimestre consecutivo e de forma razoavelmente disseminada” da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Com isso, a FBCF, que é uma medida do que o país investe em máquinas, equipamentos e inovação, atingiu o maior valor desde o primeiro trimestre de 2015.
Para a autoridade monetária, o aumento das importações de bens de capital está associado “ao crescimento da indústria de transformação e dos investimentos” e corrobora o “quadro de aquecimento da economia doméstica”. Na ocasião, a autoridade monetária revisou para cima as projeções para o crescimento em 2024 tanto da FBCF, de 4,5% para 5,5%, quanto do PIB, de 2,3% para 3,2%.
Além do bom desempenho da atividade econômica, o crescimento das importações de bens de capital é atribuído pelos economistas, entre outros fatores, ao Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e à expansão dos investimentos realizados pelo governo federal. Como mostrou o Valor em setembro, os investimentos da União alcançaram nos sete primeiros meses de 2024 o maior patamar dos últimos nove anos, atingindo R$ 32 bilhões.
Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirma que a expansão especificamente das importações de máquinas e equipamentos, que são a maior parte de bens de capital, tem dois movimentos principais. O primeiro é o novo “direcionamento” realizado pela China, que, depois de Estados Unidos e União Europeia adotarem postura mais protecionista, vem priorizando a exportação desses bens para países como o Brasil. O segundo é a “falta de competitividade” do setor no Brasil em relação à produção origem na China, devido ao custo de insumos, de capital e tributário.
Um fator que, na avaliação de economistas, poderá impulsionar ainda mais as importações de bens de capital até o fim do ano que vem foi a entrada em vigor, em setembro, do instrumento de depreciação superacelerada da indústria. O mecanismo prevê R$ 3,4 bilhões até o fim de 2025 para que empresas deduzam, em até dois anos, do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) investimentos realizados em máquinas e equipamentos.
A depreciação superacelerada é considerada pelo vice-presidente e titular do Mdic, Geraldo Alckmin, a principal medida da Nova Indústria Brasil (NIB), conjunto de propostas para o setor industrial lançado pelo governo federal no começo deste ano.
Mesmo assim, o BC afirmava no RI que o nível dos investimentos da economia como um todo, públicos ou privados, permanecia “consideravelmente abaixo dos máximos históricos” e que a relação entre FBCF e PIB se encontra “abaixo do valor médio da série histórica”.
Além disso, “diante de condições monetárias mais restritivas”, as estimativas da autoridade monetária para 2025 são de crescimento de 2% para FBCF e PIB - abaixo das projeções para este ano. Em setembro, o BC elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, alertando para “resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo (economia operando acima do potencial), elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas”. Além disso, a autoridade monetária sinalizou novas altas. O mercado projeta por exemplo que a taxa básica de juros terminará 2024 em 11,75%, segundo a estimativa mediana coletada pelo BC no Focus.
“Isso joga areia na engrenagem”, diz Cagnin, do IEDI. “Nem chegamos a ver o repasse integral do ciclo anterior de cortes para a taxa final cobrada dos tomadores de empréstimos e já estamos em novo ciclo de alta.”
A Tendências Consultoria calcula alta de 3% para a FBCF em 2025, contra crescimento projetado de 4,2% para este ano. Mas em 2026 a expansão poderá “voltar a ganhar tração”, segundo Alessandra, caso o quadro fiscal fique “minimamente controlado”. Esse quadro minimamente controlado seria a ausência de aumentos adicionais nas projeções para a trajetória da dívida pública - o que permitiria ao BC iniciar já no ano que vem novo ciclo de cortes da Selic. A Tendências projeta que a Selic alcançará 12% no início de 2025, mas encerrará o ano que vem em 10,5%.