IEDI na Imprensa - Crédito do BNDES a setor automotivo chega a R$ 3,6 bilhões em 2024
O Globo
Volume é o maior desde 2016. O apoio do banco à indústria geral soma R$ 47 bi até novembro, 48% mais que em 2023
Glauce Cavalcanti
O BNDES somou R$ 5,4 bilhões em aprovações de crédito direcionadas ao setor automotivo nos dois últimos anos, primeira metade do atual governo. Desse total, R$ 2,2 bilhões foram destinados a empresas de autopeças, enquanto R$ 3,1 bilhões seguiram para montadoras no país.
O volume de recursos para o setor em 2023 e 2024 supera em 10,2% o registrado nos quatro anos anteriores, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi de R$ 4,9 bilhões. Somente no ano passado, foram R$ 3,6 bilhões em crédito aprovado para o setor automotivo, o maior volume já registrado desde 2016. Embora fique ainda pouco acima de um terço do pico de R$ 9,9 bilhões de 2013.
O salto desse par de anos, explica o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, resulta de um conjunto de políticas públicas de estímulo a esse setor, destacando a Nova Indústria Brasil e o Mover, programa de incentivo à inovação e à descarbonização da frota de veículos, que ultrapassa R$ 130 bilhões em investimentos anunciados por companhias do setor.
“Ao mesmo tempo que o investimento no setor automotivo fomenta uma cadeia produtiva de alto valor agregado, também estamos incentivando a produção de carros híbridos e elétricos, contribuindo de forma decisiva para a transição energética e a descarbonização”, destaca Mercadante em nota divulgada pelo BNDES.
Indústria lidera operações
No ano passado, até novembro, dado mais recente, o banco de fomento registrou R$ 47 bilhões em crédito aprovado para a indústria como um todo. Embora o dado ainda não seja do ano fechado, já representa avanço superior a 48% na comparação com o total registrado em 2023, que foi de R$ 31,7 bilhões.
No ano passado, até novembro, dado mais recente, o banco de fomento registrou R$ 47 bilhões em crédito aprovado para a indústria como um todo — Foto: Pixabay
No ano passado, até novembro, dado mais recente, o banco de fomento registrou R$ 47 bilhões em crédito aprovado para a indústria como um todo — Foto: Pixabay
A indústria liderou as aprovações de crédito pelo BNDES no ano passado, com um desempenho que, até setembro pelo menos, ficava atrás apenas do patamar registrado em 2016.
As montadoras fecharam 2024 com 2,55 milhões de veículos produzidos, aumento de 9,7% na comparação com o ano anterior, segundo dados apurados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Essa marca levou o Brasil a recuperar a oitava posição no ranking de maiores produtores mundiais, ultrapassando a Espanha. Segue, no entanto, distante do pico de 2,9 milhões de veículos registrado em 2018 e 2019, portanto antes da pandemia.
Os emplacamentos subiram 14,%, para 2,63 milhões. E o ritmo de vendas também avançou, com 14,2 milhões de veículos comercializados entre novos e usados, o melhor resultado da história do país, de acordo com a Anfavea.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), destaca que 2024 foi um ano positivo para a indústria geral no país, com uma expansão de 3% até dezembro e, pela primeira vez em dez anos, sobre uma base que não foi de contração.
— O bom desempenho da indústria e do setor automotivo está mais atrelado ao último ciclo de queda da taxa de juros, com um movimento conjuntural que levou o consumidor a voltar a comprar veículos, a partir de melhorias regulatórias que permitiram também aos bancos das montadoras expandirem a oferta de crédito, além da política industrial — diz ele.
“Em 2024, a concessão de crédito foi um grande aliado do setor, que cresceu 36% as operações financiadas, representando 45% do total das vendas”, afirmou o presidente da Anfavea, Márcio Leite, em vídeo divulgado pela associação.
No último ano, houve ainda a entrada das montadoras chinesas, com veículos elétricos e estratégia agressiva de ganho de participação de mercado, pontua o economista do IEDI.
Desafios em 2025
A alta em importações — o volume registrado em 2024 foi o maior em dez anos, com déficit na balança comercial do setor — é visto como um dos desafios para a indústria automotiva neste ano, afirma Leite. “Para 2025, nós vamos ter um desafio em relação à taxa de juros, que pode impactar o mercado automotivo”, disse no vídeo.
A atuação do BNDES, destaca Cagnin, é estratégica no sentido de colaborar para a transformação da estrutura da indústria automotiva brasileira, sob o guarda-chuva da Nova Política Industrial e das metas de inovação e descarbonização. São avanços que trarão mudanças mais qualitativas do que quantitativas, diz ele, demandando que essa política seja mantida no longo prazo.
— Este ano, vamos ver como ficará. A queda do dólar, em algum momento, terá de ser repassada aos componentes importados na cadeia automobilística. Mas a alta dos juros afeta o custo dos financiamentos. Há incertezas no cenário interno, sobre a dívida pública, mas também externo, sobretudo com o governo Trump e a perspectiva da adoção de políticas mais protecionistas.