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                          "O Brasil Começou a Acordar"

                          Publicado em: 13/03/2002

                          "O BRASIL COMEÇOU A ACORDAR"
                          Revista Isto É Dinheiro n° 237 - 13/03/2002

                          ENTREVISTA  

                          IVONCY IOSCHPE

                          Presidente do Iedi diz que, depois de muitos anos preocupado apenas com a estabilidade, o governo decidiu abraçar políticas de desenvolvimento 
                            

                          Leonardo Attuch

                            

                          O gaúcho Ivoncy Ioschpe, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), é um daqueles empresários que, na primeira metade do governo Fernando Henrique, seria tachado de dinossauro. Presidente do conselho de um dos principais conglomerados metalúrgicos do País, a Iochpe-Maxxion, ele faz parte do seleto grupo de barões da indústria que, desde o início do Plano Real, vem alertando o governo para o risco de explosão do déficit externo. Mas Ioschpe já percebe sinais de que a direção dos ventos mudou em Brasília. O próprio ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, admitiu buscar inspiração nas teses do Iedi para formular propostas de política industrial. Todos os candidatos à sucessão têm prometido combater o rombo externo, que é a principal causa das baixas taxas de crescimento da economia nos últimos anos. Ioschpe, aos 62 anos, só não tem a ilusão de convencer o ministro da Fazenda, Pedro Malan. “Nesse caso, é uma questão de fé”, afirma. “Ele acredita que basta se comportar bem para receber dinheiro externo e colocar as contas em dia”. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à DINHEIRO.

                          DINHEIRO – O Iedi tem sido uma voz crítica ao modelo econômico atual, baseado na dependência externa. Esse quadro começa a mudar?
                          IVONCY IOSCHPE – Nosso problema não é com o modelo econômico. A estabilidade econômica é fundamental e sempre teve o nosso apoio. Mas a abertura feita no Brasil foi muito diferente do que se fez no resto do mundo. Em outros lugares, a liberalização tinha o objetivo de conquista de comércio e equilíbrio das contas externas. No Brasil, predominou uma visão de estabilização. O que aconteceu? Abrimos a economia de maneira muito forte, sem obter nada em troca. Resolvemos o problema da inflação, mas passamos a conviver com outro risco tão ou mais sério: o estrangulamento da área externa, que tem relação direta com os juros altos e vem travando o crescimento. É o famoso stop-and-go. Sempre que a economia cresce, há mais importações, o dólar sobe e os juros também. Mas o governo está acordando.

                          DINHEIRO – O sr. fala do slogan “exportar ou morrer”...
                          IOSCHPE – Claro. Nós já defendíamos no Iedi que uma das condições de sobrevivência da economia brasileira é obtenção de grandes superávits externos. É só ver o que aconteceu na Argentina, um país que nunca conseguiu resolver seu problema externo. As questões internas, como o ajuste fiscal, as privatizações e a desregulamentação, talvez tenham sido melhor resolvidas lá do que no Brasil. Mas é aquela velha frase: se a inflação machuca, a crise cambial mata. O Brasil precisa de grandes saldos na balança comercial.

                          < ele acha que é só se comportar
                          que o dinheiro vem”|left>>DINHEIRO – Acima de US$ 10 bilhões por ano?
                          IOSCHPE – Por volta disso. É uma questão matemática. O endividamento externo no Brasil se tornou tão alto que só pode ser coberto com mais empréstimos, que tornam o País refém do sistema financeiro, mais investimentos, que também geram remessas de dividendos, ou com grandes saldos comerciais. Esta é obviamente a melhor alternativa. O risco Brasil está ligado à capacidade de pagamento do País.

                          DINHEIRO – No começo do Plano Real, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, dizia que superávits comerciais eram coisa do passado ...
                          IOSCHPE – Ele foi um enorme irresponsável. O Brasil está pagando a conta que ele deixou. Na lógica da estabilização, essa abertura até fazia sentido, por um ano talvez. Mas com a estabilidade consolidada, ele deveria ter se preocupado em como pagar esse processo. Não fez nada disso. Nós importávamos qualquer quinquilharia.

                          DINHEIRO – Esse problemas estão sendo resolvidos?
                          IOSCHPE – Ainda há grandes desafios. Na área eletrônica, nós temos um déficit de US$ 8 bilhões, que vai a US$ 20 bilhões em poucos anos. Não é um chute. É um número já projetado. O Brasil é devedor nos mercados mais dinâmicos do comércio internacional. Nós fizemos um estudo e constatamos que, no início da década de 90, a pauta de exportações brasileira coincidia com a pauta mundial. Dez anos depois, houve uma inversão completa. O Brasil não cresceu nada nas exportações de produtos dinâmicos, que serão cada vez mais vendidos no futuro, e a indústria nacional ficou fora desses mercados. É o efeito da falta de uma política industrial.

                          DINHEIRO – Boa parte da equipe econômica considerava o termo política industrial um palavrão. Empresários eram vistos como dinossauros. O sr. já está mais otimista?
                          IOSCHPE – O governo, de fato, tinha uma visão preconceituosa. Mas hoje as coisas mudaram. Eu conversava outro dia com o ministro Sérgio Amaral e ele dizia que se inspira muito nas idéias do Iedi. Nossas teses estão começando a ser adotadas, pelo menos, por um setor do governo.

                          DINHEIRO – O sr. espera convencer o ministro Pedro Malan?
                          IOSCHPE – Não, jamais. O Malan tem outra religião, e fé é uma coisa que a gente não discute.

                          DINHEIRO – E o Armínio Fraga?
                          IOSCHPE – Acho que ele já se deu conta de que o sistema financeiro internacional não vai resolver os problemas dos países em desenvolvimento. O Malan acreditava nisso. Bastaria um país se comportar direitinho para receber dinheiro externo e colocar suas contas em dia. Nós, do Iedi, entendemos que o Brasil não é um país qualquer. Tem dimensão continental, possui um mercado interno muito grande e não pode continuar com uma política de dependência contínua.

                          DINHEIRO – Essa dimensão continental significa que o Brasil deve produzir tudo internamente?
                          IOSCHPE – Alguns dizem que o Brasil só deve produzir aquilo em que é competitivo. Mas um país continental não tem especialização. É como os Estados Unidos, o Canadá ou a Austrália. Para o Chile ou o Uruguai, é até possível especializar a produção. Mas nós temos um mercado interno que pode dar sustentação ao desenvolvimento de várias indústrias. O governo tem que criar condições para que todos os setores tenham condições competitivas. A industrialização brasileira foi um processo que tem pouco mais de 50 anos e o que se alcançou foi fantástico. E veja que, em 50 anos, nós perdemos vinte.

                          DINHEIRO – Os anos 90 também foram uma década perdida?
                          IOSCHPE – Pelo aspecto de desenvolvimento industrial, sim. O governo Fernando Henrique teve coisas boas, como a estabilização e a postura diplomática internacional, mas não se pode esquecer que a média de crescimento foi muito baixa, perto de 1,5%. Tirando o crescimento populacional, não houve expansão da renda nem do mercado de consumo. Não dá para dizer que foi bom. E o que é mais grave: o Brasil perdeu oportunidades no período em que o mundo mais cresceu.

                          DINHEIRO – Agora o Brasil precisa exportar mais, com o comércio mundial estagnado. Será possível?
                          IOSCHPE – Ficou muito mais difícil. Os Estados Unidos e o Japão estão em recessão. A Europa anda de lado e a América Latina não é nenhuma maravilha. Mas acho que o Brasil pode recuperar o tempo perdido. Só que para isso é preciso uma inserção competitiva no mercado internacional mais inteligente. Veja o caso dos Estados Unidos. Eles não são competitivos de A a Z, mas protegem o seu mercado interno.

                          DINHEIRO – O que eles fizeram na questão do aço foi correto?
                          IOSCHPE – Segue a lógica da proteção do mercado e do emprego. Não significa dizer que é justo. Nós fizemos um estudo no Iedi sobre as estratégias de vários países. Experimente tentar exportar para a Coréia qualquer produto feito lá. Não tem jeito. Ninguém entra. No Japão e na Europa, é também muito difícil. Você sabe por que os europeus dão tantos subsídios agrícolas?

                          DINHEIRO – Supostamente para preservar empregos.
                          IOSCHPE – É a lógica social. O raciocínio deles é simples. O que é mais barato: fixar o homem no campo ou construir favelas em torno de Paris? É uma defesa do interesse nacional, em países que podem se dar ao luxo de fazer isso.

                          DINHEIRO – Não seria o caso então de o Brasil conter importações, em vez de apenas tentar expandir as exportações?
                          IOSCHPE – Não somos contra a abertura. Não queremos que a sociedade brasileira pague pela falta de competitividade de algumas empresas. Mas também não queremos o outro extremo. Vamos importar tudo que venha de qualquer lugar do mundo? E o seu emprego, como fica? O Brasil precisa de políticas industriais que atraiam novos investimentos para que se produza aqui o que hoje é importado. Essa é uma outra tese do Iedi: a da substituição competitiva de importações.

                          DINHEIRO – Qual a diferença da substituição de importações tradicional?
                          IOSCHPE – No passado, o Brasil se industrializou vendo o que não se produzia aqui e impondo tarifas altas. A sociedade brasileira pagava o preço. Não é o que queremos. Se o produto A hoje não é feito no Brasil, vamos ver o que é possível para que ele seja fabricado localmente com custos competitivos em nível internacional. É diferente do que se fez no País em muitos setores. Veja o caso da indústria automobilística. Trouxemos várias empresas, com bilhões em subsídios, sem aumentar o volume de produção interno.

                          DINHEIRO – Como o governo deveria agir?
                          IOSCHPE – Há várias alternativas. Uma empresa que recebe incentivos para se instalar no Brasil tem que se comprometer a abrir espaço para produtos nacionais no exterior. Mas a prioridade deveria estar concentrada em áreas onde o Brasil é cronicamente deficitário. É o caso das áreas química e de eletrônicos. Um dólar a menos que você importa é o mesmo que um dólar a mais exportado. O que conta é o saldo.

                          DINHEIRO – Nas plataformas de vários candidatos, o combate ao déficit externo é uma questão prioritária. Já há um consenso?
                          IOSCHPE – Qualquer candidato tentará combater esse problema, porque é a única forma de garantir a governabilidade e reduzir o custo financeiro da economia brasileira. Com as taxas de juros atuais, é impossível pensar em ser uma economia de Primeiro Mundo. O Brasil está transferindo renda para o exterior de forma estúpida. Agora, mesmo que todos os candidatos queiram abraçar as teses de política industrial, alguns conhecem isso mais profundamente.

                          DINHEIRO – Por exemplo ...
                          IOSCHPE – O José Serra, naturalmente, é um dos maiores especialistas do País nessas questões. Conhece a fundo políticas fiscais.

                          DINHEIRO – Isso quer dizer que ele é seu candidato?
                          IOSCHPE – Nosso instituto não tem qualquer vinculação política.

                          DINHEIRO – O sr. é favorável à ALCA - Área de Livre
                          Comércio das Américas?
                          IOSCHPE – Acho que o Congresso teria que entrar nessa discussão para delimitar o campo de negociação do governo. É o mesmo que aconteceu nos Estados Unidos, quando o Parlamento definiu o que pode e o que não pode ser negociado. É muita coisa em jogo. Estamos falando de investimentos, do crescimento e do emprego de cada um de nós.

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