IEDI na Imprensa - Com expectativa de queda maior da importação, superávit deve vir mais forte
Valor Econômico
Cenário também aponta para um recuo mais expressivo também das vendas para o exterior
Marta Watanabe e Estevão Taiar
A importação, que de janeiro a agosto já acumula queda de 12,3%, deve se acelerar até o fim do ano e ancorar um superávit comercial para 2020 mais robusto do que o saldo de US$ 48 bilhões em 2019. Como a expectativa é de queda também nas exportações, segundo analistas, o superávit deve vir acompanhado de queda de corrente de comércio. No acumulado até agosto, essa retração representa volta a um nível de dez anos atrás nesse indicador, diz o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
De janeiro a agosto as exportações brasileiras somaram US$ 138,6 bilhões, com queda de 6,6% pela média diária contra igual período de 2019. Já as importações ficaram em US$ 102 bilhões. O superávit comercial até agosto somou US$ 36,6 bilhões, com alta de 14,4%. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Economia. Em agosto o superávit atingiu US$ 6,6 bilhões, o maior para o mês em toda a série histórica.
Com base nos dados o governo deve revisar neste mês as estimativas de comércio exterior para o ano, informa o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão. “É possível que as quedas de exportação e importação [em relação a 2019] sejam menores do que projetamos.” A Secex calcula atualmente para 2020 um superávit de US$ 55,4 bilhões e uma corrente de comércio de US$ 349,6 bilhões.
A estimativa de superávit comercial do governo não está descolada das projeções de analistas. Eles ressaltam, porém que o saldo se baseará principalmente em queda de importações. Em cálculo preliminar, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que a balança deve terminar o ano com superávit em torno de US$ 55 bilhões, com queda de importações estimada de cerca de 18%. O executivo lembra que o tombo ainda deve ser grande nos próximos meses em razão de bases de comparação relativamente altas. No ano passado, diz ele, a média de importações por dia útil foi de US$ 701 milhões. Nos meses de outubro, novembro e dezembro, porém, as médias por dia útil foram mais altas, de US$ 785 milhões, US$ 740 milhões e US$ 705 milhões, respectivamente. “Eram meses em que as importações refletiram a expectativa positiva de retomada de crescimento em 2020”, lembra ele.
No lado das exportações, diz Castro, a perspectiva também é de queda, mas um pouco mais amena, de 11,7%, em 2020. Ele ressalta que a soja, que vem se destacando na exportação, já teve cerca de 95% do volume total embarcado no ano. Essa ajuda sazonal, portanto, deverá acabar em setembro.
Para Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest, a importação em queda é o principal fator para um superávit de pelo menos US$ 55 bilhões em 2020. Segundo ele, não há nenhuma perspectiva de aumento neste ano da importação, que deve seguir pressionada por câmbio e demanda doméstica fraca. A recuperação de desembarques deve vir somente em 2021, dependendo do nível de atividade econômica.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), destaca que a intensa queda na corrente comércio, indicador do dinamismo da economia de um país. “Considerando a tendência de evolução, a corrente de comércio regrediu dez anos”, diz ele.
Segundo os dados da Secex, a soma de exportações e importações atingiu US$ 240,7 bilhões de janeiro a agosto deste ano, aproximando-se da marca de US$ 240,5 bilhões de igual período de 2010. Nos últimos dez anos, diz Cagnin, considerando esse período, o indicador só foi pior pontualmente em 2016, quando no acumulado até agosto somou US$ 214,8 bilhões. “Muito disso deve-se aos ramos industriais, cujas exportações e importações caem e não é de hoje.”
Para reverter o quadro diz Cagnin, é preciso consenso em torno da reforma tributária. “Isso porque o nó do custo Brasil, que compromete nossa competitividade e nos afasta do restante do mundo, é em grande medida um nó tributário. Sem essa agenda, a integração do país na economia global ficará cada vez mais comprometida.”