IEDI na Imprensa - Desemprego tende a crescer com retomada da economia
Valor Econômico
Pelo menos uma consultoria prevê que o índice poderá superar os 18% no início de 2021
O governo comemorou o anúncio do aumento da criação de empregos formais em agosto, registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. O número superou as expectativas do mercado. Foram criados 249,4 mil empregos com carteira assinada, o melhor resultado para o mês desde agosto 2010. Foi o segundo mês seguido de abertura de vagas, após quatro meses de destruição de empregos. Em julho, haviam sido criados 141,2 mil postos.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tirou proveito da divulgação do bom resultado e o tomou como confirmação da sua previsão de que a economia se recupera em “V”. “Estamos voltando para os trilhos”, afirmou ao participar “de surpresa” da divulgação. Ao notar que a maior fonte de novas vagas, com 92,8 mil postos, era a indústria, disse ainda em tom ufanista: “Vamos reindustrializar o Brasil”. Em seguida vieram a construção (50,5 mil vagas criadas) e o comércio (40,9 mil). Guedes reconheceu o efeito positivo do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (Bem), programa que permitiu suspender temporariamente contratos de trabalho e reduzir proporcionalmente jornadas de trabalho e salários; e antecipou que ele foi estendido por mais dois meses.
Mas os especialistas não compartilham o mesmo grau de otimismo. A criação de empregos ainda está bem aquém do total destruído pela pandemia, que somou cerca de 1,5 milhão de vagas formais e foi ainda mais severo com o trabalho informal, aniquilando quase 6 milhões de postos, segundo o Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE). O estoque de empregos formais somou 37,9 milhões em agosto, em comparação com 39,1 milhões em dezembro, de acordo com o Caged. Além disso, quase 7 milhões de vagas estão sendo mantidas por conta do BEm, e podem ser fechadas quando o programa acabar.
A reação do mercado de trabalho formal, apesar de positiva, não está sendo acompanhada pelo informal, e é pífia perto do contingente de desempregados. Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, dão a dimensão do problema. A Pnad Contínua do trimestre móvel terminado em julho mostrou que o índice de desemprego estava em 13,8%, referente a um contingente de 13,13 milhões de pessoas. Na pesquisa semanal que engloba o período de 6 a 12 de setembro, o índice chegou a 14,1%, somando 13,5 milhões de desempregados.
Essa é uma taxa média. Em alguns segmentos, o desemprego é bem mais elevado. A desocupação sempre foi maior entre os jovens. Com a pandemia, a tendência se acentuou e a desocupação chega agora a 29,7% na população entre 18 e 24 anos. Comércio, serviços domésticos, alojamento e alimentação estão entre os que mais perderam postos. Somente o comércio fechou 1,6 milhão de ocupações entre formais e informais no trimestre terminado em julho, segundo o IBGE.
A contradição entre o aumento de desempregados em momento de ampliação das vagas é apenas aparente e explicável. No auge da pandemia e das medidas de isolamento social, muitas pessoas deixaram de procurar emprego por receio de se contaminarem e porque sabiam que a maioria das empresas não estava contratando. O pagamento do auxílio emergencial do governo ajudou as pessoas a se preservarem. Isso conteve o índice de desemprego. Agora, com a flexibilização das restrições e a perspectiva de que o auxílio emergencial teve o valor reduzido e vai ser revisto, aumentou o número de pessoas em busca de emprego.
O movimento tende a se intensificar à medida que o tempo passa, como mostra o desemprego já na casa dos 14%. Pelo menos uma consultoria prevê que o índice poderá superar os 18% no início do próximo ano, mesmo com a melhoria da economia. Por outro lado, o desemprego elevado é um fator limitador da recuperação econômica uma vez que contém o consumo das famílias, aponta o Instituto de Desenvolvimento Econômico Industrial (IEDI). De fato, a massa de rendimentos reais do trabalho, segundo o IBGE, estava em R$ 185,6 bilhões na Pnad Contínua do trimestre móvel terminado em julho, a menor desde o início da série histórica em 2012, com queda de 13,3% na comparação em bases anuais.
Assim, se a recuperação econômica vai influenciar a melhoria do mercado de trabalho, o inverso também é verdadeiro. Cabe ao governo manipular suas ferramentas, inclusive a dosagem do auxílio emergencial, para obter o melhor resultado da equação.