IEDI na Imprensa - Contribuição do setor externo neste ano será menor, afirmam analistas
Valor Econômico
Após três anos negativos, segmento amenizou queda de PIB em 2020
Marta Watanabe
Com queda de 1,8% nas exportações e de 10% nas importações, o setor externo deu contribuição positiva de 1,2 ponto percentual ao PIB de 2020, revertendo movimento de três anos consecutivos com impacto negativo, aponta o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Para 2021, as projeções de analistas apontam que essa ajuda do setor externo no crescimento será reduzida ou neutra.
Livio Ribeiro, pesquisador do Ibre, projeta contribuição zero do setor externo em 2021, como resultado de recuperação de exportação importante, de maneira geral, e também de uma retomada de importações que tende a ser parecida com a das exportações. Os desembarques, porém, observa Ribeiro, devem ter duas vertentes. “Uma, de recuperação da economia doméstica, que é algo que temos sistematicamente revisto para baixo, com cenários recentes mais preocupantes.” Há também, aponta, a questão dos números de absorção de máquinas e equipamentos, principalmente plataformas, que vêm um pouco por fora. “Por isso, juntando todos os fatores, o setor externo deverá ter contribuição perto da neutralidade.”
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, calcula que a exportação líquida ficou positiva em 1,3 ponto percentual em 2020 enquanto a demanda doméstica foi negativa em 5,4 percentuais, resultando no recuo de 4,1% no PIB do ano, na comparação com 2019. Para este ano ele projeta impacto positivo de 2,6 pontos percentuais da demanda doméstica. Como a estimativa é de exportação líquida zero, a variação estimada para PIB é de 2,6% de crescimento em 2021.
Enquanto em 2020 o setor externo foi influenciado pela exportação de commodities e por importações impactadas pela pandemia e pelo real desvalorizado, o que se espera para este ano, aponta Vale, é a retomada mais significativa na demanda doméstica.
“Podemos ter eventualmente surpresa positiva nas exportações líquidas e negativa na demanda doméstica em razão do que estamos vivendo em relação à pandemia, ao mesmo tempo em que há retomada do mundo lá fora, o que tende a ajudar a exportação.” Isso, em conjunto com a consequente alta nos preços de commodities e o câmbio desvalorizado como reflexo de incertezas políticas, indica que neste ano as exportações devem crescer. “A dúvida fica justamente na importação. Se de fato tivermos com esse câmbio desvalorizado uma economia mais fraca, a importação crescerá menos.”
Embora as expectativas para este ano sejam de retomada do crescimento do comércio internacional, a contribuição do setor externo em 2021 tende a ser reduzida em razão da elasticidade das importações em relação ao crescimento do PIB, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
As importações, diz o economista, tendem a crescer em taxa maior quando há variação positiva na demanda interna, o que leva o setor externo para o vermelho. Isso aconteceu, diz ele, de 2007 a 2013 e de 2017 a 2019.
Do lado das exportações, diz Cagnin, o câmbio competitivo e as baixas taxas de juros ajudam. “Mas é preciso tempo para a normalização das cadeias de fornecimento e para a indústria se redirecionar ao comércio internacional. Uma agenda firme e previsível para uma reforma tributária traria um incentivo a mais.”