IEDI na Imprensa - Indústria ajuda a puxar o PIB, mas crescimento é desigual
Valor Econômico
A expectativa é que a indústria siga em crescimento, mas existem problemas no horizonte
Editorial
O crescimento em maio deixou a indústria otimista. Depois de ter encolhido de fevereiro a abril, a produção industrial retomou o ritmo, cresceu 1,4% em relação ao mês anterior e deu um salto de 24% sobre igual período de 2020, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da expectativa mais cautelosa para junho, cujos dados ainda não foram fechados, as previsões para o restante do ano são positivas, e embalam a aposta de aumento da participação da indústria no Produto Interno Bruto, em um momento em que os serviços, sob efeito das medidas de distanciamento social para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, estão em baixa.
A comparação com 2020 tem que ser relativizada porque toma como referência o período em que a pandemia do novo coronavírus pegou em cheio a atividade econômica e jogou a produção calculada pelo IBGE aos níveis mais baixos da série histórica, iniciada em 2002. Nos dois primeiros meses da pandemia, desabou 27%. O avanço de 1,4% de maio não compensa o recuo de 1,5% registrado em abril, mas levou o nível da produção ao patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. A indústria, porém, ainda está 16,7% abaixo do nível recorde, de maio de 2011.
Alguns outros indicadores sinalizam que a indústria segue em expansão. O Índice Gerente de Compras (PMI) do setor industrial da IHS Markit para o Brasil, por exemplo, subiu de 53,7 pontos em maio para 56,4 pontos em junho. A indústria vem impulsionando o Índice de Confiança Empresarial (ICE) calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que atribui ao setor o aumento de 4,3 pontos registrado no indicador de maio para junho, para 98,8 pontos. Dos quatro grandes segmentos empresariais usados para cálculo do indicador, o setor industrial foi o único a apresentar pontuação acima de 100 pontos em junho, com índice de confiança de 107,6 pontos; os serviços registraram 93,8 pontos; o comércio, de 95,9 pontos; e a construção, de 92,4 pontos.
Com base nessas sinalizações já se espera o aumento da participação da indústria no PIB, especialmente da indústria de transformação, cuja fatia no valor adicionado do PIB avançou de 9,9%, no quarto trimestre de 2019, para 10,3% nos primeiros três meses deste ano, de acordo com cálculos do pesquisador sênior do Ibre/FGV, Samuel Pessôa (Valor 6/7). A indústria de transformação responde por mais da metade da indústria total no PIB.
Os números não significam a reversão da tendência de redução do peso da indústria na economia, que vem de longa data. No início do século, a transformação representava 15% do PIB. Mas sim, reflete a resposta à dinâmica desencadeada pela pandemia, que levou ao encolhimento do setor de serviços, em consequência do distanciamento social. A tendência é global, embora haja diferenciações conforme o ciclo de espalhamento da pandemia nos diferentes países. Levantamento elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostrou que o Brasil melhorou sua posição em ranking de 45 países. Com avanço de 5,2% no primeiro trimestre, ante igual período de 2020 e feito o ajuste sazonal, a indústria brasileira ficou na 13ª colocação, à frente de países como França, Japão, Alemanha e Estados Unidos. No primeiro trimestre de 2020, o Brasil estava no 24º lugar e, em 2019, em 38º.
Mas o desempenho da indústria é desigual. Dos 26 ramos pesquisados, 15 acompanharam a alta de abril para maio. O melhor resultado é o de produtos farmaquímicos e farmacêuticos, cuja fabricação cresceu 8%. Outros destaques são móveis, bebidas e alimentos. Praticamente estagnada ficou a produção de veículos. Recuaram entre outros setores os de máquinas e equipamentos, produtos têxteis e de madeira.
A expectativa é que a indústria siga em crescimento. Mas há alguns problemas no horizonte. Um deles é a escassez global de insumos e partes, que colocam em xeque a expansão de alguns segmentos, como a indústria de automóveis e veículos. Há dúvidas se a reforma tributária em estudo pelo governo vai contribuir para a tão esperada redução do custo Brasil ou pode até elevá-lo, como receiam alguns especialistas. Mais recentemente surgiu a ameaça da crise hídrica, que obriga as empresas a acelerarem o uso das fontes alternativas energéticas e, de imediato, eleva os custos de produção, que já vinham sendo pressionados pela alta do dólar e da inflação. A renovação do auxílio emergencial tirou uma nuvem do horizonte, mas restam a preocupação com a reformulação de um programa social mais duradouro e com o andamento da vacinação.