IEDI na Imprensa - Indústria recua e ritmo ainda é inferior ao pré-pandemia
Valor Econômico
Resultado foi influenciado pelo desempenho do setor automobilístico e por máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Lucianne Carneiro
Os dados regionais da indústria brasileira em junho, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram mais uma vez um comportamento negativo da atividade, a despeito da variação nula da média da produção do país. Na passagem entre maio e junho, houve queda em 10 dos 15 locais pesquisados. Principal parque industrial do país, São Paulo teve recuo de 0,9%, influenciado pelo setor automobilístico e por máquinas, aparelhos e materiais elétricos.
Quando se compara com o período pré-pandemia, também são 10 dos 15 locais pesquisados que ainda têm patamar de produção inferior. “Esses dados mostram que há certa instabilidade em relação à compensação [das perdas da pandemia] e se observa um ambiente ainda muito cauteloso na indústria nacional”, diz Bernardo Almeida, gerente da Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional).
Dos dez locais em patamar de produção inferior ao de fevereiro de 2020, destacam-se a Bahia (-28,5%) e o Nordeste (-17,5%). Nos dois casos, há influência do fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, região metropolitana de Salvador. A terceira região com pior desempenho é o Pará (-13%). Também aparecem no campo negativo Espírito Santo (-7,6%), Mato Grosso (-4,9%), Ceará (-4,1%), Pernambuco (-4%), Paraná (-2,7%), Rio Grande do Sul (-1,5%) e Goiás (-1,4%).
No outro lado, as cinco que já conseguiram ultrapassar o patamar pré-pandemia são Minas Gerais (+15,5%), Amazonas (+9,4%), Santa Catarina (+6,1%), Rio de Janeiro (+4,2%) e São Paulo (+3,4%).
Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), os parques industriais do centro-sul do país colocaram um freio à expansão da indústria nacional, anulando o dinamismo positivo de outras regiões. O IEDI destaca o desempenho negativo de três dos quatro Estados do Sudeste - com exceção do Rio de Janeiro, que teve alta de 2,8% em junho, frente a maio - e nos três Estados do Sul.
“É no Norte e no Nordeste onde se concentraram as variações positivas de junho de 2021, e em alguns casos com taxas de crescimento substanciais. O destaque vai para a região Nordeste como um todo, que saiu de uma sequência de seis meses de queda consecutivos para registrar 6,4% na passagem de maio para junho”, aponta o relatório do IEDI.
“Ainda assim, o Nordeste tem um longo caminho a trilhar para retornar a níveis pré-pandemia.”
Principal parque industrial do país, com cerca de 34% de peso na atividade industrial nacional, o Estado de São Paulo voltou a registrar recuo em um contexto de desempenho instável ao longo de 2021. A produção avançou 1% em janeiro, recuou 1,5% em fevereiro e teve variação de 0,1% em março. Em abril, mês de amplas restrições de atividades no Estado, houve perda de 4,6%, em parte compensada pelo aumento de 3,3% em maio.
“Com a flexibilização das medidas de restrição de funcionamento em maio, a indústria paulista avançou e compensou parte do que tinha perdido em abril. Mas em junho se observa mais uma vez o impacto da conjuntura econômica, com ambiente de incertezas, baixo número de contratações e poder de consumo das famílias em queda”, explica o gerente da pesquisa, Bernardo Almeida.
No recuo de 0,9% da produção entre maio e junho, diz ele, a maior influência veio do setor automobilístico, que é o mais importante da indústria paulista, com peso de 16,1%.
“O setor de veículos foi a principal influência negativa neste resultado. Mas também contou a produção de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, que inclui eletrodomésticos e eletroportáteis”, afirma.