IEDI na Imprensa - Déficit comercial de novembro traz alerta para questões ambientais e desafios estruturais, diz IEDI
Valor Econômico
Marta Watanabe
O déficit comercial de US$ 1,3 bilhão em novembro não coloca em risco o superávit robusto esperado para o ano de 2021 e não representa a evolução da balança comercial do país no ano. Mas traz alertas para o impacto de fatores que podem estar cada vez mais presentes, como as questões climáticas, e também para aspectos estruturais.
Essa é a avaliação de Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). O resultado negativo da balança de novembro, diz ele, tem dois motores – um deles, relacionado às importações de bens da indústria extrativa e outro, ao aumento do déficit da balança da indústria de transformação.
Nas importações na indústria extrativa, Cagnin destaca o gás natural, com 925% de alta nos desembarques em novembro em comparação com igual período do ano passado. Isso, afirma o economista, está relacionado com a saída contratada para contornar a crise hídrica.
Ele destaca, porém, que esse quadro aparentemente conjuntural pode se tornar estrutural. Problemas climáticos, diz ele, tendem a ser cada vez mais frequentes, e essa perspectiva de desequilíbrios ambientais demanda medidas no sentido de explorar melhor fontes mais limpas, como a eólica e a solar.
Outra questão, ressalta, está relacionada à indústria de transformação, setor no qual o enfraquecimento do dinamismo poderia ter levado à desaceleração das importações. O que se vê claramente, porém, aponta Cagnin, é que, de janeiro a novembro, há nas importações forte impacto de adubos e fertilizantes, combustíveis e medicamentos. Esses três ramos, diz Cagnin, explicam 51% do aumento das importações da indústria de transformação em novembro e 30% da elevação de janeiro a novembro.
O economista destaca que, assim como no gás natural, há também pressão de preços que contribuiu para o aumento no valor das importações desses produtos, como em combustíveis que seguem preços do petróleo e de medicamentos, que tendem a sofrer pressão em razão da pandemia. Ao mesmo tempo em que esses ramos escondem o enfraquecimento das importações da indústria de transformação, diz Cagnin, eles também resultam de questões estruturais que demandam medidas.
“São lacunas do nosso sistema. Temos reservas de petróleo, mas importamos combustíveis. Temos produção agrícola de porte, mas há dependência de adubos e fertilizantes”, exemplifica ele.
A desaceleração da atividade industrial que pode ser percebida por vários indicadores, observa ele, não é, portanto, fator preponderante para explicar as importações da indústria de transformação e as questões estruturais impedem que o setor externo contribuam tão positivamente quanto poderia.