IEDI na Imprensa - Recuo da indústria reforça pessimismo com a economia
Valor Econômico
Último trimestre do ano também pode terminar no negativo para o setor e o cenário delineado para 2022 não é muito diferente
Editorial
O recuo da produção industrial em outubro marcou mais um revés para a economia brasileira. O IBGE contrariou as previsões ao informar que a produção industrial encolheu mais 0,6% em outubro, repetindo o resultado ruim de setembro e marcando o quinto mês consecutivo de recuo. Ao longo do ano, a indústria só cresceu em janeiro e maio.
Em outubro, dos 26 setores pesquisados pelo IBGE, 19 tiveram queda na comparação com setembro. Entre os macrossetores, caíram mais os bens de consumo duráveis e o grupo de semi-duráveis e não duráveis, 1,9% e 1,2% respectivamente, refletindo a redução da renda da população e o desemprego ainda elevado. O segmento de bens intermediários também não se saiu bem e recuou 0,9%. Apenas o de bens de capital teve expansão, de 2%.
No acumulado do ano, a indústria mostrava em outubro crescimento de 5,7% na comparação com o mesmo período de 2020. Mas o número é positivo apenas devido à base de comparação deprimida do ano passado. Em 2020, a produção industrial caiu 4,5% em consequência da pandemia, e já vinha de um período ruim em 2019, quando diminuiu 1,1%.
Na realidade, a produção industrial está 4,1% abaixo do patamar anterior à pandemia, de fevereiro de 2020. Alguns segmentos expressivos estão com produção ainda menor, como o de alimentos, com queda de 13,6%; a fabricação de veículos, de 19,7%; e a de vestuário, 19,1%. Nada menos do que 65% dos segmentos da indústria estavam abaixo do nível pré-pandemia, a maior parte com queda de dois dígitos, de acordo com cálculos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
O baque do desempenho negativo da indústria nem deu tempo ao país para digerir a notícia de que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,1% no terceiro trimestre e a economia entrou em recessão técnica, porque já havia caído 0,4% no trimestre anterior.
Os dados do PIB já haviam mostrado que a indústria de transformação enfrentou três trimestres seguidos de retração. À baixa competitividade histórica se somaram a subida das commodities, a elevação do câmbio, os gargalos nas cadeias de produção, a crise hídrica que pressionou os custos de energia, a inflação e o desemprego altos e, mais recentemente, o reajuste dos juros. Os dois resultados somados potencializam a perspectiva de que o último trimestre do ano também pode terminar no negativo. Para piorar, o cenário delineado para 2022 não é muito diferente.
Os balanços da produção industrial em outubro e do PIB do terceiro trimestre reduziram os juros no mercado futuro e esfriaram as previsões de que o Comitê de Política Monetária (Copom) ajustaria a taxa básica de juros na reunião desta semana em percentual superior ao 1,5 ponto sinalizado anteriormente. A previsão de um ajuste maior havia crescido nas últimas semanas diante da escalada da inflação, apontada pela variação de 1,17% em novembro do IPCA-15, acumulando 10,73% em 12 meses.
Essa aposta perdeu força diante dos sinais de enfraquecimento maior da economia evidenciados nos resultados da indústria, apesar das afirmações otimistas do ministro da Economia, Paulo Guedes, que insiste em visualizar um crescimento em V. Para conturbar mais o horizonte, surgiu a nova variante ômicron do coronavírus, com repercussões ainda não claras na saúde da população global e na economia, com possível agravamento no fluxo das cadeias de produção.
Mesmo que o Copom siga o script mais comedido previsto, há que se contar com o efeito retardado da elevação dos juros que, desde março, já subiram 5,75 pontos e devem inibir a demanda, também enfraquecida pela hesitação que envolve a concessão do novo Auxílio Brasil. Outro fator negativo nas previsões é a reversão das políticas de afrouxamento monetário no mercado internacional. Não faltassem problemas já contratados há a expectativa de acirramento da tensão política com a aproximação das eleições presidenciais. Todos esses fatores justificam previsões cautelosamente pessimistas para os próximos meses.
Os erros da política econômica do governo, a instabilidade criada pela antecipação da disputa eleitoral pelo presidente Jair Bolsonaro e a condução atabalhoada das questões econômicas no Congresso, de olho principalmente em auferir vantagens na distribuição de verbas, cobram seu preço na economia, com impacto negativo no bem-estar da população.