IEDI na Imprensa - Indústria continua com freio de mão puxado e pode piorar com guerra no Leste Europeu, aponta IEDI
Valor Econômico
Um dos pontos de preocupação é a logística, com alterações nas rotas entre a Ásia e a União Europeia
Lucianne Carneiro
A indústria brasileira continua com o freio de mão puxado e pode piorar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Ele fez as considerações ao comentar os resultados da produção em janeiro, divulgados nessa quarta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com queda de 2,4% frente a dezembro.
Na avaliação do analista, problemas já existentes por conta da pandemia – como o encarecimento do custo de produção e o desarranjo das cadeias produtivas – tendem a se intensificar e vão conviver com restrições à demanda, como renda menor, impacto dos juros altos no crédito e concorrência com a recomposição dos gastos com serviços.
“A indústria continua com o freio de mão puxado e pode piorar com a guerra. Temos o encarecimento do custo de produção, por problemas de insumo e o desarranjo das cadeias produtivas, que devem se arrastar ainda mais com a guerra. Além disso, estamos com uma taxa de desemprego de dois dígitos há anos, e uma inflação que fez disparar os preços de alimentos e combustíveis, e todo o resto sofre. Além disso, os gastos com serviços estão recompondo sua parcela na cesta de consumo das famílias”, afirma Cagnin.
Independentemente do conflito geopolítico, aponta o economista, já havia uma preocupação com o efeito do aumento dos juros para o crédito por causa da distância entre a alta da taxa e seu impacto na economia. A queda de 11,5% dos bens duráveis em janeiro, frente a dezembro – a maior entre as quatro categorias econômicas da indústria – mostra esse efeito dos juros, que tende a se intensificar.
“Há uma defasagem de cerca de seis meses entre a alta de juros e seu efeito maior na atividade. Já vimos esse impacto em janeiro nos bens duráveis e isso tende a aumentar”, observa ele, lembrando que ainda há o efeito das incertezas econômicas e políticas para as decisões de compras e de investimentos.
Como outros analistas, Rafael Cagnin diz que ainda não é possível avaliar o tamanho do impacto da guerra na indústria brasileira, mas reforça que a alta de commodities agrícolas e metálicas afeta “de forma transversal” o setor. Para além doa preçoa dos combustíveis, por exemplo, a alta do petróleo pressiona a indústria petroquímica e seus derivados, como plásticos e borracha. Enquanto commodities metálicas como níquel e alumínio, além do minério de ferro, também são insumos importantes da indústria.
“O primeiro efeito é na pressão de custos, seja pelos preços das commodities agrícolas e metálicas, além do petróleo e do gás, ou pelas rupturas de cadeias produtivas. Tudo isso piora um quadro já preocupante desde 2021”, explica o economista.
Um dos pontos de preocupação é a logística, com alterações nas rotas entre a Ásia e a União Europeia. “Quando tem ruptura, seja por questão sanitária ou por guerra, tem forte mudança em logística. Isso pode atrasar ou inviabilizar algumas rotas, ou o custo pode exigir que se busque outros fornecedores”, diz ele.