IEDI na Imprensa - Juros devem pesar mais para indústria de transformação a partir do 2º semestre, prevê IEDI
Valor Econômico
Marsílea Gombata
A indústria de transformação deve sentir o peso do aumento da taxa de juros a partir do semestre que vem, afirma Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). O PIB da indústria teve expansão de 2,2% no segundo trimestre frente ao primeiro, feito o ajuste sazonal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse crescimento é explicado pelos desempenhos positivos de 3,1% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, de 2,7% na construção, de 2,2% nas indústrias extrativas e de 1,7% nas indústrias de transformação.
“Vemos que os drivers de maior dinamismo continuam sendo construção e os serviços industriais de utilidade pública. A indústria de transformação foi o ramo que menos cresceu, ficando abaixo do agregado total”, afirma Cagnin.
Segundo o economista, a combinação de reabertura da economia com a alta de serviços ajudou a segurar a atividade da indústria. “Houve medidas anticíclicas que o governo adotou, como saque extraordinário do FGTS, antecipação do 13º, ampliação da margem do crédito consignado sobre a renda. Isso compensou um pouco a perda de renda da população por conta da aceleração inflacionária”, afirma.
“Além disso, houve controle da questão da pandemia, o que vem permitindo normalização do setor serviços e efetivação de uma demanda reprimida de serviços pessoais e viagens na parcela da população que conseguiu preservar emprego e renda na pandemia. Isso evitou, em parte, que a indústria crescesse um pouco mais.”
Ele argumenta que essa parcela da população que redirecionou o consumo para serviços, não o fez para bens duráveis e de maior valor. “Tanto que a produção industrial de bens de consumos duráveis não está se saindo bem, está com o freio [de mão] puxado”, diz.
“Isso tem a ver com a demanda, mas também com a desorganização das cadeias produtivas. Há linhas de produção que envolvem montagem de produtos com muitas partes e componentes mais expostas a gargalos.”
Cagnin prevê que, na segunda metade do ano, ventos contrários pesarão com mais força sobre a indústria de transformação.
“O repasse desse ciclo de alta das taxas de juros, por exemplo, que não chegaram ainda nas taxas de empréstimos. Isso é importante porque muitos bens que a indústria produz são duráveis e envolvem financiamento. Sejam bens de consumo duráveis ou bens de capital. Depende muito do nível de juros na economia”, conclui.