IEDI na Imprensa - Indústria brasileira de transformação perde ainda mais espaço no mundo
Valor Econômico
Valor adicionado do setor no país avançou 4,8% em termos reais em 2021, ante aumento de 7,2% na média global no mesmo período, aponta levantamento
Marta Watanabe
O valor adicionado da indústria de transformação no Brasil cresceu 4,8% em termos reais em 2021, após queda de 4,6% em 2020, sob efeito da pandemia de covid-19. O desempenho, porém, ficou abaixo da média mundial, cujo valor adicionado cresceu 7,2% no ano passado, mais do que compensando o recuo de 1,3% no ano anterior.
Enquanto no cenário global houve um dos melhores resultados da década, abaixo apenas de 2010, quando houve alta de 9%, o Brasil segue rota descendente na sua posição no ranking global de valor adicionado da indústria de transformação - MVA, na sigla em inglês para Manufacturing Value Added. Os dados são da United Nations Industrial Development Organization (Unido) e mostram a necessidade de se revitalizar a indústria brasileira, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
“Os dados mostram que não basta crescer, é preciso avançar em ritmo coerente com o resto do mundo. Dado que a trajetória do Brasil é cadente faz alguns anos, o quadro mostra deficiências mais profundas e estruturais”, diz. Entre 2020 e 2021, aponta, a participação brasileira no MVA mundial caiu de 1,31% para 1,28%. Em 2005, lembra, o país tinha a nona maior indústria de transformação do mundo. Em 2020 caiu para a 14ª posição e, em 2021, para a 15ª.
Entre os diferentes países, a China preservou em 2021 sua posição de líder no ranking das maiores indústrias de transformação, atingindo sua maior participação já registrada, de 30,5% do MVA. O topo do ranking se completa com EUA (16,8%), Japão (7%) e Alemanha (4,8%).
Seguindo trajetória diversa da do Brasil, compara Cagnin, a Índia ocupou em 2021 o posto de quinta maior indústria manufatureira do mundo, com fatia de 3,1% do MVA global, quase o dobro da de 2005. Outro país de destaque, diz, é Taiwan, com parcela que aumentou de 1% em 2005 para 1,6% em 2021, quando subiu para a décima posição na classificação da Unido.
Além de uma agenda de competitividade para a indústria, que inclui a aprovação de uma reforma tributária, é preciso, diz, uma política de desenvolvimento industrial que considere a composição da indústria de transformação.
O economista destaca que na saída da pandemia, a recuperação da indústria mundial foi capitaneada por ramos de alta intensidade tecnológica, como a indústria farmacêutica e também o complexo eletrônico, em razão da aceleração do processo de digitalização, e que também funciona como um eixo de modernização e alavancagem da produtividade da indústria. “O Brasil acumulou poucas competências nesses ramos”, diz.
Os dados da Unido, indica, mostram queda na participação da média e alta intensidade tecnológica no MVA total do Brasil. A fatia caiu de 35,5% em 2015 para 33,7% em 2021. A média do grupo ao que o Brasil pertence nesse levantamento da Unido, o das economias industriais de renda média, foi de 39,3%. No agregado do setor no mundo, a fatia foi de 45,1%.
O anuário da Unido relativo a 2021, diz Cagnin, destaca o fortalecimento industrial como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU. Segundo indicadores da Unido considerando o ODS 9, correspondente à indústria, inovação e infraestrutura, o desempenho do Brasil foi decrescente e ficou aquém do grupo ao qual pertence e também da média mundial.
A participação da indústria de transformação brasileira no PIB, exemplifica, caiu de 10,5% em 2015 para 10,2% em 2021, aponta a Unido. A média do grupo ao qual o Brasil pertence ficou em 22,9% em 2021, enquanto no agregado mundial foi de 16,9%. O MVA per capita do Brasil encolheu no mesmo período de US$ 927 para US$ 875. Isso equivale a 42% do MVA per capita dos países industrializados de renda média e quase 50% do valor da média mundial.
O Brasil, pondera Cagnin, se saiu relativamente bem quando se fala em intensidade de CO2 emitido pela indústria. A matriz energética contribui de forma favorável para o país, ressalta. Entre 2015 e 2019 (última data com dados disponíveis), a média do Brasil em quilograma de CO2 por dólar de valor adicionado na indústria, a preços de 2015, caiu de 0,47 para 0,43, igualando-se à média mundial ao fim do período.