IEDI na Imprensa - Indústria recua pelo 3º mês e tem cenário desanimador
Valor Econômico
Queda em fevereiro é embalada por baixo crescimento econômico, política monetária restritiva e estoques altos
Marsílea Gombata e Lucianne Carneiro
A produção industrial teve em fevereiro a terceira queda mensal consecutiva, embalada pelo baixo crescimento econômico, pela política monetária restritiva e estoques altos. O cenário desanimador para o setor no primeiro bimestre do ano deve seguir ao longo de 2023, afirmam economistas.
A produção caiu 0,2% em fevereiro ante janeiro, com ajuste sazonal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), depois de recuar 0,1% em dezembro e 0,3% em janeiro. O desempenho de fevereiro ficou em linha com a mediana das estimativas de 30 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, de queda de 0,2%.
Na comparação com igual mês em 2022, a produção industrial caiu 2,4% em fevereiro. A expectativa mediana do mercado era de o indicador tivesse recuado 2,1% conforme levantamento do Valor. Com esses resultados, o setor industrial está 19% abaixo do nível recorde, alcançado em maio de 2011, e 2,6% abaixo do pré-pandemia, de fevereiro de 2020.
A divulgação de fevereiro é a segunda após a reestruturação da nova série histórica da Pesquisa Industrial Mensal, que inclui uma nova amostra de empresas, inclusão e exclusão de atividades e alterações nos pesos dos produtos.
Ao explicar as razões por trás da retração da indústria, André Macedo, gerente do IBGE, citou a taxa de juros em patamar elevado - que aumenta o endividamento e encarece o crédito -, a falta de insumos e a demanda fraca devido a milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.
Em fevereiro, duas das quatro grandes categorias tiveram queda frente a janeiro. A produção de bens duráveis caiu 1,4%. A produção de semi e não duráveis recuou 0,1% em fevereiro. A de bens de capital, por sua vez, teve leve alta de 0,1%. Já a produção de bens intermediários (que representa 55% da indústria) cresceu 0,5%.
A categoria de bens duráveis opera 18,6% abaixo do patamar pré-pandemia. Bens semiduráveis e não duráveis também operam abaixo de fevereiro de 2020 (-6,4%). Bens de capital e intermediários estão acima, 4,4% e 1,2%, respectivamente.
Nove dos 25 ramos pesquisados tiveram recuo na produção em fevereiro. As maiores contribuições negativas vieram de produtos alimentícios (-1,1%), químicos (-1,8%) e farmoquímicos e farmacêuticos (-4,5%), Também tiveram contribuições negativas relevantes os segmentos de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,5%) e de produtos de metal (-1,4%).
A queda de produtos alimentícios foi a principal influência para a queda de 0,2% da indústria brasileira como um todo. O movimento, segundo Macedo, do IBGE, está ligado a uma base de comparação alta e a fatores pontuais, como a produção de carne afetada pelo embargo das vendas à China.
Os dados divulgados ontem mostram que a indústria brasileira vem patinando e, no curto prazo, não há sinais de “drivers” de crescimento, afirma Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Os dados de fevereiro, alerta, mostram que bens de capital não vêm se saindo tão bem, o que sinaliza investimentos fracos dentro do próprio setor industrial. “Isso é ruim porque não dinamiza parte da indústria e é um indicativo preocupante para o futuro. Períodos muitos longos de baixo investimento no setor comprometem produtividade e competitividade.”
No curto e no médio prazo, as perspectivas não são “muito alvissareiras”, afirma Rodrigo Nishida, da LCA Consultores.
“Há uma conjuntura mais adversa para indústria, com política monetária mais apertada, endividamento das famílias comprometendo o consumo, investimento afetado por diluição de medidas adotadas no contexto eleitoral do ano passado, e cenário internacional mais difícil”, acrescenta. “Esse contexto geral do começo do ano deve marcar 2023 como um todo.”
A estimativa preliminar da LCA para a produção industrial de março é de alta de 1,1%, ante fevereiro, e de 0,9% na comparação com março de 2022.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) espera alta de 1,3% em março, ante fevereiro, e de 1,4% na variação anual.
A perspectiva de baixo crescimento da atividade econômica, o patamar elevado dos juros e os estoques altos da indústria de transformação apontam para desaceleração do setor neste ano, afirma Marina Garrido, do FGV Ibre.
O carregamento estatístico do resultado de fevereiro é de -0,5% para a produção industrial do primeiro trimestre, calculam os economistas Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, e Gabriel Couto, do banco Santander.
Neste ano, diz Rodolfo Margato, economista da XP, o PIB da indústria extrativa mineral deve crescer 2,2%, e o PIB da indústria de transformação, contrair-se 1%.
Ele projeta alta de 1% para o PIB total e queda de 0,1% para o PIB da indústria em 2023.