IEDI na Imprensa - PIB do 1º trimestre não foi tão bom quanto parece, avaliam economistas
O Globo
Especialistas apontam que o desempenho esteve exageradamente concentrado no agro e que os outros setores da economia seguiram com performances perto da estabilidade
Rafael Vazquez
O crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre surpreendeu positivamente ao ser impulsionado pela expansão de 21% da agropecuária na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Alguns economistas ouvidos pelo Valor, porém, apontam que o desempenho esteve exageradamente concentrado no agro e que os outros setores da economia seguiram com performances perto da estabilidade. Além disso, a indústria teve a segunda queda consecutiva, sendo a terceira seguida na indústria de transformação. A formação bruta de capital fixo, que mede os investimentos no país, ainda acentuou o declínio.
“O todo foi positivo. A agropecuária crescer 21% foi um resultado muitíssimo forte, embora saibamos que tem uma sazonalidade importante no primeiro trimestre. Mas a indústria ainda está numa situação muito complicada porque a taxa de juros ainda está muito alta”, disse Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A indústria registrou queda 0,1% no primeiro trimestre ante o trimestre anterior. Dentro do setor, a indústria de transformação caiu 0,6% e a construção caiu 0,8%, enquanto a indústria extrativa cresceu 2,3% e a indústria ligada serviços públicos como gás, água, esgoto e gestão de resíduos expandiu 1,7%.
“O resultado do PIB do primeiro trimestre é menos positivo do que parece”, afirmou o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin. “Foi muito concentrado do ponto de vista do dinamismo. O mercado interno está pior do que estava no ano passado. O consumo das famílias ficou quase estagnado ao crescer 0,2% e o investimento [formação bruta de capital fixo] quase que triplicou a sua queda”, acrescentou.
A formação bruta de capital fixo, segundo os dados do IBGE, caiu 3,4% no primeiro trimestre ante os três meses imediatamente anteriores, quando já havia anotado queda. “São dois trimestres seguidos de perda de investimento, que é fundamental para ter maior produtividade no futuro e condições de oferta mais adequadas”, complementa Cagnin.
Economistas do mercado financeiro também observaram que o resultado, embora seja obviamente positivo, não muda o panorama geral da economia brasileira como um todo, que é de um país ainda andando de lado economicamente.
“No meu cálculo, o PIB agrícola contribuiu com mais 80% do resultado [de crescimento de 1,9% no primeiro tri]. Já diz muito. Quando se olha o lado da demanda, que é consumo das famílias e do governo, investimento e exportação e importação, os desempenhos ficaram perto da estabilidade e o investimento caiu. Então, apesar do número geral ter sido bastante acima da expectativa, não foi por conta de surpresa na demanda doméstica que segue o caminho de desaceleração iniciado em 2022”, avaliou a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro.