IEDI na Imprensa - Preço em baixa derruba rentabilidade de exportador
Valor Econômico
Apreciação do real frente ao dólar ambém contribui para pressionar a margem para baixo
Marta Watanabe
Influenciada principalmente pela queda de 15,6% nos preços médios dos embarques, a rentabilidade dos exportadores brasileiros caiu 9,1% em junho contra igual mês do ano passado. A apreciação de 3,9% do real frente ao dólar, em termos nominais, também contribuiu para pressionar a margem para baixo. O custo da produção voltado para a exportação caiu 10,7%, mas não foi suficiente para mitigar os efeitos negativos de preços e de câmbio, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
O mês de junho fechou com queda de rentabilidade muito mais profunda do que a da média do primeiro semestre, período no qual a margem caiu 1,7% em relação a iguais meses do ano passado. De janeiro a junho houve queda média de 6,6% nos preços de exportação e de 4,8% no custo de produção. O câmbio ficou praticamente estável no período, com valorização de 0,1%.
Para Daiane Santos, economista da Funcex, os dados mostram que a preocupação com o efeito da elevação de preços dos insumos importados no custo de produção ficou para trás. A perspectiva é que os preços de embarque continuem tirando rentabilidade e o exportador termine este ano com queda de margem em relação ao ano passado. “E creio que não teremos movimentos cambiais que estabeleçam a rentabilidade e a competitividade do exportador até o fim de 2023.”
Levantamento da Funcex com os dez setores mais relevantes na exportação mostra que no primeiro semestre a queda de preço das exportações e também do índice de rentabilidade dos embarques brasileiros foi puxada pelos ramos de extração de petróleo e gás natural, extração de minerais metálicos e derivados de petróleo e biocombustíveis. Extração de petróleo e gás, por exemplo, teve queda de 22,5% nos preços médios de embarque e de 19% no índice de rentabilidade de janeiro a junho de 2023 contra mesmos meses do ano passado.
Welber Barral, sócio da consultoria BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior, ressalta que a base de comparação de preços nessas atividades é alta, já que no ano passado houve uma escalada de preços com a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia. “O que acontece agora é um ajuste de preços”, diz. Isso, completa, tem levado alguns setores a devolver o ganho de rentabilidade que tiveram no ano passado.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), ressalta que o ajuste nos preços de commodities, sobretudo do petróleo, contamina preços de derivados, de parte do setor químico e também de produtos industriais. Projeção recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), lembra ele, mostra que a expectativa é de que o preços das commodities energéticas caiam 20% em 2023 em relação a 2022. A tendência, portanto, avalia, não deve mudar, com o fator preço continuando a jogar contra a rentabilidade.
“É preciso lembrar que parte do processo de queda de preços de commodities se dá pela elevação das taxas de juros internacionais e pela mudança do contexto financeiro global que isso traz. As taxas de juros vão sendo repassadas com alguma defasagem e o impacto total ainda não foi sentido”, diz Cagnin. “O desempenho exportador vai contar menos com o efeito preço do que contou lá atrás.”
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), a exportação total brasileira em julho totalizou US$ 29,1 bilhões, com alta de 14,1% em volume e queda de 14,2% em preços em relação a igual mês de 2022.
Para o economista do IEDI, o câmbio também deve continuar sem ajudar a rentabilidade do exportador. Mesmo com a recente desvalorização do real frente ao dólar, diz, a média mensal do câmbio nominal ainda mostra apreciação da moeda nacional este ano.
Os ganhos de rentabilidade no primeiro semestre, mostra a Funcex, vieram exatamente dos setores cujos preços médios de exportação aumentaram. Destacam-se máquinas e equipamentos e veículos automotores, ambos com ganho de 13,6% na rentabilidade, com alta de 9,9% e de 9,8%, respectivamente, nos preços médios de exportação. Produtos alimentícios e o ramo de celulose e papel também tiveram ganhos de margem, de 6,4% e de 9,3%, respectivamente., sempre de janeiro a junho contra igual período do ano passado.