IEDI na Imprensa - Investir em política industrial é caminho para geração de empregos
Metrópoles
Plano de Retomada da Indústria da CNI propõe investimentos em tecnologia, pesquisa, saúde e segurança sanitária no Brasil
Após um período de desindustrialização acelerada no Brasil, investir em políticas industriais modernas é essencial para recuperar a força do setor e solucionar problemas socioeconômicos do país, além de expandir a importância brasileira no mercado exterior. A jornada não será fácil, mas é possível de se alcançar com um conjunto de ações que visam ao crescimento da nação por meio da industrialização.
O setor industrial brasileiro responde hoje por 69,3% das exportações de bens e serviços e representa 66,4% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento no país, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A cada R$ 1 produzido pela indústria, são gerados R$ 2,44 na economia brasileira. Esse valor é o maior em relação a outros setores, como a agropecuária, por exemplo, que gera R$ 1,75. Outro fator relevante é que as indústrias participam em 21,2% dos empregos formais no país e empregam mais de 10 milhões de brasileiros, conforme o Perfil da Indústria Brasileira, da CNI.
Contudo, o setor industrial brasileiro teve uma participação moderada no Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, que foi de 23,9%. Esse porcentual já chegou a 48%, em 1985, de acordo com estimativas da CNI, com base em dados do IBGE.
Uma das razões apontadas para essa queda é a ausência de uma política industrial efetiva e de longo prazo. Nos tempos atuais, as políticas industriais respondem a desafios relevantes da sociedade, sendo orientadas por missões. Também levam em conta as grandes transformações em curso no mundo, como a digitalização, o combate à crise climática, a busca por aumentar nossa resiliência e reduzir vulnerabilidades.
“Por meio de uma multiplicidade de ações, a indústria consegue diminuir a desigualdade social do Brasil e criar uma mão de obra qualificada, melhor infraestrutura e investimentos na educação e saúde.”
Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI)
“É essencial que o país cresça para reduzir a pobreza e as desigualdades, melhorando a qualidade de vida da população, marca fundamental do verdadeiro desenvolvimento econômico, tecnológico e social que todos desejamos atingir”, completa Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.
Para apoiar a retomada do crescimento do País, a CNI projetou o Plano de Retomada da Indústria, com quatro missões prioritárias, que respondem a problemas sociais relevantes, além de apresentar 60 ações de alcance horizontal, para melhorar o ambiente de negócios brasileiro. A estratégia está construída em bases modernas, alinhada a um movimento que é mundial.
“Em meio à falta de um consenso na sociedade e uma estratégia estável de desenvolvimento de longo prazo, a indústria tem um papel fundamental, devido à sua importância em si e aos multiplicadores.”, pontua João Carlos Ferraz, ex-vice-presidente e diretor executivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ).
Impactos da falta de uma política industrial de longo prazo no Brasil
Mais do que promover o crescimento socioeconômico, a necessidade de uma política industrial efetiva no Brasil vem, também, como uma forma de corrigir erros do passado. Em paralelo à industrialização tardia — em comparação aos Estados Unidos e à Europa —, desde a década de 1990 o país vem sofrendo uma desindustrialização, que é o processo de redução da força da indústria, como pontua Júlio Gomes de Almeida.
Uma das causas desse processo é o “Custo Brasil”, expressão que se refere ao “conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que atrapalham o crescimento do país”, como define a CNI. O “Custo Brasil” subtrai R$ 1,5 trilhão das empresas todo ano, conforme estudo do Movimento Brasil Competitivo.
“O Custo Brasil implica desvantagens competitivas e custos adicionais para as empresas industriais brasileiras. Este cenário não teria sentido em caso de um ambiente com estabilidade econômica de longo prazo e em um país em consenso sobre os seus rumos de desenvolvimento”, completa Ferraz.
Esse custo está refletido, por exemplo, no investimento para se instalar uma siderúrgica no Brasil, que é 10,6% mais alto do que em outros países. O número é resultado dos “impactos diretos e indiretos dos tributos sobre bens e serviços”, afirma pesquisa da CNI com a E&Y.
A reforma tributária, que visa a simplificação do formato de pagamento de tributos no Brasil, é um dos caminhos para a neoindustrialização brasileira, termo que se refere ao processo de reindustrialização do país na era digital.
Ao implementar uma política industrial efetiva, o Brasil pode conquistar maior integração no comércio internacional, com o aumento de exportações e influência. Outras economias já seguiram esse processo: os 84 países que representam mais de 90% do PIB mundial criaram, nos últimos 10 anos, políticas ativas de apoio às respectivas indústrias.
“Se a indústria voltar a crescer, o PIB cresce mais ainda, porque tem uma capacidade de puxar o crescimento econômico e social brasileiro mais do que os outros setores”, acrescenta o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Júlio Gomes de Almeida.
“As economias mais desenvolvidas têm desenhado estratégias de fomento ao desenvolvimento produtivo e tecnológico que moldam as bases da indústria do século 21”, garante Robson Braga de Andrade, presidente da CNI. “As preocupações com a digitalização e a descarbonização da economia se materializam na forma de subsídios e incentivos fiscais à indústria e de medidas com viés protecionista, que podem se converter em concorrência desleal ou em novas barreiras ao comércio e aos investimentos.”
“É fundamental que o Brasil tenha uma clara e consistente estratégia de desenvolvimento industrial para enfrentar esse complexo cenário global.”
Robson Braga de Andrade, presidente da CNI
Plano de Retomada da Indústria da CNI
O Brasil está em busca da neoindustrialização, com estímulos para a renovação da indústria brasileira, para se tornar mais inovadora, sustentável e integrada ao mundo. Com o objetivo de contribuir para este movimento, a CNI apresentou o Plano de Retomada da Indústria, que contém propostas, de curto, médio e longo prazo, com incentivos à indústria, à inovação e à digitalização, seguindo também os preceitos de sustentabilidade, como descarbonização e energia limpa, entre outros.
O plano da CNI, já absorvido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), contribui para o desenho das políticas focadas em missões, geralmente de longo prazo, que escolhem problemas sociais relevantes, e buscam resolvê-los, com metas .
“São as políticas estatais que induzem e direcionam prioridades para o investimento privado, aqui e em todo o mundo. A atração de investimentos, a maior integração internacional, o aumento das exportações e a ampliação do acesso das empresas brasileiras ao mercado externo requerem políticas de apoio, como o adequado financiamento e garantias públicas para operações não cobertas pelo mercado privado, assim como a criação de um ambiente regulatório que estimule o desenvolvimento tecnológico e a inovação”, conforme destaca o presidente da CNI.
Missões da CNI:
Saúde e segurança sanitária
O objetivo é universalizar o acesso e promover o desenvolvimento competitivo da cadeia de produção e exportação de medicamentos, vacinas, testes, protocolos, equipamentos e serviços.
Defesa e Segurança Nacional
Tem como objetivo apoiar o desenvolvimento de elos estratégicos das cadeias do complexo industrial da defesa e segurança nacional, com foco em tecnologias de uso dual.
Descarbonização
Foca em desenvolver uma Economia de Baixo Carbono, com estímulos à descarbonização da indústria, à eficiência energética e à promoção da bioeconomia e da economia circular.
Transformação Digital
Objetivo de capacitar as empresas brasileiras, em especial as de pequeno e médio porte, para que possam ampliar a escala de mercado e, assim, habilitar-se a participar de cadeias globais de fornecimento.