IEDI na Imprensa - Setor extrativo ganha peso com revisão de pesquisa
Valor Econômico
Indústrias com maior dinamismo tecnológico perderam espaço com atualização do levantamento do IBGE
Lucianne Carneiro
As indústrias com maior dinamismo tecnológico perderam peso com a atualização da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a indústria extrativa ampliou sua participação na estrutura produtiva da indústria.
A primeira divulgação da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) após a atualização mostrou que a indústria automobilística teve recuo de sua participação de 10,11% para 6,19%, enquanto em máquinas e equipamentos essa retração passou de 4,90% para 3,84%.
Ao mesmo tempo, o setor extrativo, que pela pesquisa antiga respondia por 11,16% da indústria, agora corresponde a 14,56%. Já o segmento de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis ampliou fatia de 10,30% para 13,52%.
Na nova série da PIM-PF, os pesos dos setores são definidos a partir da Pesquisa Industrial Anual de 2019, enquanto na série antiga a base era a pesquisa do ano de 2010. Além de alteração nos pesos, a atualização da pesquisa da indústria, que ocorre de forma periódica, inclui nova amostra de empresas e inclusão e exclusão de atividades, por exemplo.
“Isso é sinal do processo de reprimarização da estrutura produtiva do país. Os setores de maior intensidade tecnológica como automobilística e ramos de bens de capital e eletrônicos ficaram menores”, defende o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) Rafael Cagnin.
Embora pontue que alguns ramos do setor extrativo também apresentem dinamismo tecnológico - em especial na área de petróleo, pelos investimentos da Petrobras -, Cagnin destaca que os setores que mais perderam espaço apresentam um conjunto amplo de insumos.
“Perderam participação aqueles setores para os quais o dinamismo tecnológico tende a ser mais importante, cujos produtos são mais complexos e por isso demandam conjunto amplo e diversificado de insumos, com capacidade de espalhar crescimento econômico”, diz.
Entre os segmentos que ganharam peso na indústria de transformação - como alimentos e derivados de petróleo -, ele destaca que são ramos no início da cadeia da indústria, após as atividades primárias.
“Essa atualização da estrutura de ponderação mostra o grau de importância dos vários segmentos industriais ao longo do tempo. Ao longo desses dez anos, segmentos industriais ganharam importância e outros perderam espaço”, explica o gerente da PIM-PF, André Macedo.
No caso da indústria automobilística, ele cita fatores conjunturais e estruturais para essa perda de peso, mas lembra que a relação do setor automobilístico com outros segmentos - como de borracha, plástico, vidro e metalurgia - amplia sua importância na economia.
“A indústria automobilística perde peso, mas tem ligação com outros setores. Essa capilaridade com atividades como borrachas e plásticos, produtos químicos e metalurgia faz com que seu peso seja muito maior que os 6%”, afirma Macedo.