IEDI na Imprensa - O que esperar para a balança comercial deste ano após o recorde de 2023
O Globo
Resultado é puxado por um grande volume de exportação do agronegócio, que conseguiu suplantar a queda do preço das commodities no mercado mundial
Luciana Casemiro
O saldo recorde da balança comercial de 2023, de US$ 98,8 bilhões, é o maior da série histórica iniciada em 1989. O resultado do ano passado, divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, é puxado por um volume extraordinário de exportação do agronegócio, que conseguiu suplantar a queda do preço das commodities no mercado mundial. O saldo de quase US$ 100 bilhões foi citado por Míriam Leitão na coluna publicada em 10 de dezembro.
Para este ano, a estimativa dos analistas é que o resultado não deve se repetir. Mas isto está longe de significar um prognóstico ruim. A projeção é que seja forte e supere o saldo de US$ 62,3 bilhões apurado em 2022.
— O resultado da balança comercial de 2023 é bastante expressivo e revela o forte desempenho do agronegócio. O saldo da balança, pouco inferior a US$ 100 bi, é positivo do ponto de vista da solvência externa, do crescimento econômico e da perspectiva para a taxa de câmbio e a inflação. Para 2024, vislumbro um saldo um pouco mais baixo, possivelmente, com uma contribuição menor do setor primário, mas talvez um crescimento das exportações de maior valor agregado, na esteira da redução dos juros e da alta dos investimentos, que devem beneficiar a indústria de transformação. A ver —avalia Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos.
A expectativa para a safra deste ano é boa, mas não superará a do ano passado. Fora isso, a Argentina, que teve uma quebra de safra em 2023 devido à seca, voltará a exportar este ano, abocanhando uma parte do nosso mercado e deixando de importar parte da soja. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já previu um crescimento menor para o comércio mundial, pondera a economista Lia Valls, responsável pelo Indicador de Comércio Exterior (ICOMEX) do FGV Ibre.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destaca que a queda das importações de US$ 606,7 bilhões para US$ 580,5 bilhões colaboraram para este saldo recorde. Esse resultado, avalia, pode ser afetado caso haja uma retomada dos investimentos em bens de capitais, já que a maior parte é importada.
Na avaliação do economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) , é justamente o setor de bens de capital, que acumula resultados negativos desde 2021, que deve avançar este ano.
— O último ciclo virtuoso da indústria foi em 2010. A queda na taxa de juros, a redução dos estoques, a perspectiva de melhora da demanda, com a maior formalização do mercado de trabalho, podem levar a decisão de retomada de investimentos. A Reforma Tributária também é uma boa sinalização. Vali levar dez para implementação total, mas um projeto de investimento também tem um prazo longo de maturação.