IEDI na Imprensa - Com indústria estagnada no mundo, Brasil sobe no ranking
Valor Econômico
País ganha 20 posições em levantamento realizado pelo IEDI mesmo com contração de 2023 e sobe para 58ª colocação
Marcelo Osakabe
Mesmo registrando contração em sua produção fabril pelo terceiro trimestre consecutivo, a indústria brasileira subiu 20 posições no ranking global de desempenho da produção física, elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Ainda assim, a indústria nacional segue longe dos primeiros lugares. O país subiu da 78ª para a 58ª posição na edição mais recente do ranking, referente ao terceiro trimestre do ano passado e elaborado a partir de dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido, na sigla em inglês). A melhora ocorre mesmo com uma queda de 0,9% da indústria manufatureira no período, na comparação com igual período de 2022.
Essa situação aparentemente contraditória é explicada quando se olha o panorama global da manufatura, que patina - no agregado, a produção no mundo cresceu apenas 0,4% no período. Já a quantidade de países que entraram no vermelho cresceu. Dos 115 países participantes do levantamento, 57% dos registraram contração de sua produção física no terceiro trimestre de 2023, ante 23% no mesmo período de 2022.
Nações importantes, que ocupam posição de destaque nos rankings de valor agregado, tiveram desempenho pior que o brasileiro e ficaram abaixo do país no ranking do período, como Alemanha (67ª posição), Coreia do Sul (76ª), Itália (81ª) e Japão (84ª).
“O que é de particular do Brasil é que a produção local pisou mais forte no freio. Desde o terceiro trimestre de 2021, o país tem resultado menores que o agregado mundial”, nota o economista do IEDI, Rafael Cagnin.
No Brasil, é a indústria de média-baixa tecnologia que tem puxado a produção
Na dianteira do levantamento, está Macau (China), com alta de 58,2% em sua produção industrial no período - sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Na sequência, vêm Belarus (14,1%), Mongólia (13,8%) e Bangladesh (12,7%). A Rússia também é destaque, com crescimento da indústria de 6,8%, a despeito dos embargos ocidentais, e ficou com a sétima posição no ranking.
Cagnin explica que a indústria global patina desde meados de 2022, em um contexto de aperto monetário nas principais economias para lidar com a alta da inflação, o que provocou desaceleração do crescimento, mas também choques como a guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, bem como alguns resquícios de gargalos de cadeias produtivas por causa da pandemia. Na Europa, onde a conjunção desses fatores afetou de forma mais intensa os países, a produção manufatureira caiu 1,7% no terceiro trimestre.
No recorte entre continentes, apenas a Ásia teve variação positiva no período, de 1,8%. A América do Norte contraiu 0,8%, e a América Latina, 1,4%. Na região, a Argentina ocupou a 81ª posição, com retração de 3% no período. Já o México, que tem recebido boa parte dos investimentos do “nearshoring” (busca de fornecedores mais próximos), ficou com a 43ª posição, ao ter alta de 0,4% no período.
Outro fator em que o Brasil difere do mundo é o recorte por intensidade tecnológica. Lá fora, são os setores de média-alta e alta tecnologia que puxaram o desempenho da indústria manufatureira, com alta interanual de 2,2%, puxado por atividades como setor automotivo (7,5%), equipamentos elétricos (4,6%) e computadores e eletrônicos (3,1%). Já o restante dos ramos recuou 0,7% no mesmo período.
“No mundo, esses setores se destacam justamente porque são neles que acontece o grosso da modernização produtiva ou tecnológica. Isso dá dinamismo em termos de colocação de novos produtos no mercado - como a indústria automobilística, que transita para modelos híbridos ou elétricos. Estes também são os setores que são beneficiados pela política industrial mais ativa em alguns países”, nota Cagnin.
Já no Brasil, é a indústria de média-baixa tecnologia que tem puxado a produção, com alta de 3% no terceiro trimestre. São destaque nestes setores a produção de alimentos, bebidas e fumo (1,3% e 4,8%, respectivamente) e coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (2,7% e 6,2%).
A indústria local de média-alta tecnologia, por sua vez, recuou 8,1%. Faz parte desse segmento a produção de carros, que registrou queda de 12,1% no período após o pacote de ajuda do governo no primeiro semestre.
“São setores que conseguem capturar parte da competitividade das commodities. Mas não é apenas isso. Ao terem cadeias mais curtas, também são menos penalizados pela falta de investimentos e pelo ambiente geral que prejudica a competitividade das indústrias de maior intensidade tecnológica, seja por questões mais estruturais, como a tributária, seja por causa dos juros altos, que encarece o crédito ao consumidor.”
Apesar desse quadro, o economista nota que 2024 começa com uma perspectiva mais favorável para a indústria, tanto pela continuidade do processo de queda dos juros, que deve chegar ao crédito ao longo do ano, como pelo quadro robusto do emprego e pela inflação controlada, aliado a questões mais pontuais, como o programa de renegociação de dívidas.
Do lado das empresas, algumas iniciativas carecem de tempo para começar dar frutos, continua, como no caso da reforma tributária ou das medidas do governo federal dentro do plano de reindustrialização do país.
Outras, como um BNDES voltando a ter maior presença em linhas de crédito para o desenvolvimento produtivo e a inovação, podem contribuir mais rapidamente com um cenário mais favorável para a indústria local. “Essas previsões de começo de ano são complicadas, mas as sinalizações que temos para este ano são positivas”, resume.