IEDI na Imprensa - Entenda como a indústria do Brasil ficou para trás no ranking global
Valor Econômico
Setor ficou na 64ª posição de um ranking da produção manufatureira de 117 países em 2023
Anaïs Fernandes
Apesar da melhora no último trimestre do ano passado, a indústria de transformação do Brasil ficou na metade inferior (64ª posição) de um ranking da produção manufatureira de 117 países em 2023, elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) a partir de dados da United Nations Industrial Development Organization (Unido).
A indústria de transformação brasileira caminhou em direção oposta à global, com queda de 0,9% em 2023, contra alta de 1,1%.
Boa parte dessa assimetria pode ser explicada pelo perfil setorial do dinamismo da indústria mundial no ano passado, aponta o IEDI. Os dados da Unido mostram uma liderança da indústria de alta e média-alta tecnologia a nível global, com a produção avançando, por exemplo, 3,9% no quarto trimestre de 2023, ante igual período de 2022, mais que o dobro do resultado do setor como um todo, segundo o IEDI.
“Embora, no mundo desenvolvido, o ritmo dos investimentos não seja mais o mesmo, são processos de modernização produtiva, digitalização, indústria 4.0, o que ajuda a dinamizar essa parcela da indústria. E há ainda os novos produtos, como veículos elétricos, que têm componentes de maior intensidade tecnológica”, diz Rafael Cagnin, economista do IEDI.
O desempenho das indústrias de alta tecnologia no mundo foi beneficiado pela recuperação nos setores automotivo, de outros equipamentos de transporte e da produção de computadores e eletrônicos, aponta o levantamento do IEDI.
No Brasil, por outro lado, ramos mais tecnológicos registraram, no agregado, queda de 6,3% no quarto trimestre de 2023, ante igual período de 2022, de acordo com dados do IBGE analisados pelo instituto.
“Tem um processo tecnológico acelerado ocorrendo no mundo, com a incorporação de novas tecnologias mais digitais e sustentáveis, o que vem dinamizando a indústria geral. No Brasil, é o oposto, e o país fica para atrás no agregado global”, afirma Cagnin.
Para o Brasil conseguir entrar em uma “nova fase de expansão industrial”, que dê conta de mudanças estruturais em direção a avanços no campo tecnológico, é preciso planejamento estratégico, com melhora das condições de competitividade e do ambiente de negócios, diz Cagnin.
Ainda que pendente de regulamentação, a reforma tributária aprovada no ano passado deve endereçar esse último ponto, enquanto o programa da Nova Indústria Brasil (NIB), lançado este ano pelo governo federal, teria potencial de acelerar os passos no sentido de uma indústria brasileira mais moderna, na avaliação de Cagnin.
“No processo de ir concretizando as missões estabelecidas pelo programa, atividades de maior intensidade tecnológica podem ganhar velocidade. Trata-se de colocar a indústria como impulsionadora de atividades mais inovadoras e próximas da fronteira [tecnológica]”, diz.
Ele pondera que ainda é preciso monitorar como essas missões serão, de fato, implementadas. “Começamos a desenhar esse processo, ainda é um pouco etéreo, não muito concreto, mas outras experiências no mundo também ocorreram assim. É importante que isso sobreviva de um ciclo político para outro, porque são políticas de médio-longo prazo”, afirma.