IEDI na Imprensa - Setor externo reduz contribuição ao PIB com investimento e importações em alta
Valor Econômico
Não há consenso entre os analistas, mas tendência é que segmento tenha contribuição negativa ou muito abaixo da de 2023 no desempenho do PIB deste ano
Marta Watanabe
De forma oposta ao que aconteceu no início de 2023, o setor externo reduziu o PIB no primeiro trimestre deste ano como reflexo de aumento dos investimentos e também de vazamento de parte da demanda doméstica para importações. Não há consenso para a tendência para o PIB de 2024, mas, se a contribuição do setor externo não ficar negativa, essa ajuda diminuirá em relação ao ano passado, estimam economistas.
O PIB agregado cresceu 0,8% no primeiro trimestre contra os três meses anteriores, com ajuste sazonal, segundo o IBGE. No mesmo critério, as exportações cresceram 0,2%, e as importações, 6,5%.
Considerando a composição do PIB e corroborando a “sensação” de que a economia brasileira teve bom desempenho no primeiro trimestre, indica Luis Otávio Leal, economista-chefe de G5 Partners, a absorção interna contribuiu com 1,8 ponto percentual no crescimento do PIB, a maior taxa desde o segundo trimestre de 2022. O crescimento do PIB só não foi maior porque o setor externo tirou 1 p.p. do crescimento total, observa. Em igual período de 2023 a situação foi oposta. O setor externo praticamente garantiu todo o crescimento de 1,1% do PIB agregado, com ajuda de 1,1 ponto percentual da absorção externa e de 0,2 p.p da interna.
Rafael Cagnin, economista-chefe do IEDI, destaca que a contribuição negativa do setor externo também aconteceu quando se compara o desempenho contra igual período de 2023. Nessa comparação, o PIB agregado cresceu 2,5% de janeiro a março. As exportações avançaram 6,5%, mas as importações cresceram em ritmo maior, de 10,2%.
Carro chefe da economia tem sido o setor externo, este ano em ritmo menor”
— Sérgio Vale
O vigor das compras externas, diz Cagnin, foi particularmente intenso para o padrão do período recente e reflete o dinamismo do consumo e a retomada da indústria, com demanda por bens intermediários, mas também a recuperação do investimento. Ele lembra que a decomposição da Formação Bruta de Capital Fixo feita pelo Ipea mostra alta de 19,4% em máquinas e equipamentos importados no primeiro bimestre do ano contra igual período de 2023.
Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do FGV Ibre, também destaca os investimentos entre os componentes de demanda que resultaram em absorção doméstica maior que a esperada, ao lado consumo das famílias e do consumo do governo. “Como corolário, as importações cresceram em ritmo superior ao que esperávamos, levando a contribuição negativa do setor externo no início de 2024.”
Ribeiro destaca que as políticas de promoção da renda disponível, do crédito e dos investimentos serão importantes para maximizar a absorção interna, mas seus resultados sobre o PIB dependem da forma como essa “demanda extra” será suprida: com produção interna ou importações. Os dados do início do ano sugerem migração da demanda para importações.
A tragédia climática do Rio Grande do Sul, avalia Ribeiro, também pode fazer diferença. Haverá choque negativo no segundo trimestre, com posterior recuperação que tende a ser mais diluído no tempo e com impacto mais intenso na absorção doméstica, especialmente nos investimentos. O quadro geral, diz, conduz a tendência de contribuição negativa do setor externo no ano. A BRCG estima que o setor tire 0,2 p.p. do PIB do ano, que tem projeção atual de alta de 1,7%.
Para Leal, o efeito negativo do setor externo mostra que parte do consumo das famílias e dos investimentos no primeiro trimestre vazou para importação. A gestora estima alta de 2,1% no PIB em 2024.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a contribuição negativa do setor externo não deve permanecer até o fim do ano. Para ele, além de preços e câmbio ainda favoráveis, o petróleo também deve contribuir para bom desempenho dos embarques. Com isso, diz, a contribuição das exportações líquidas não será tão forte quanto foi mais recentemente, mas será “razoável, de cerca de metade do crescimento do PIB do ano”. “Continua sendo verdade que o carro-chefe da economia brasileira nos últimos anos tem sido o setor externo, embora este ano num ritmo menor.” A MB projeta crescimento de 2,2% do PIB em 2024, com 1,2 p. p. de contribuição das exportações líquidas e 1,0 p.p. da demanda doméstica.
No primeiro trimestre houve um consumo das famílias mais forte, principalmente como efeito do pagamento dos precatórios pelo governo federal ao fim de 2023, com cenário de importações maiores. Isso ajudou no “crescimento significativo” do varejo, serviços e indústria em janeiro e fevereiro.
“O consumo tende a diminuir no decorrer do ano. A tendência é que do segundo trimestre para frente já haja efeitos da política de juros e também do Rio Grande do Sul, o que deve levar as importações a comportamento mais moderado.” O efeito da mudança da meta fiscal para 2025 em conjunção com um cenário internacional mais arriscado nos EUA, diz, colocou um freio na queda de juros. A expectativa de a Selic chegar a 9% se ajustou para 10% e 10,5%, diz.