IEDI na Imprensa - Indústria surpreende, cresce 1,8% e puxa investimento no PIB do 2º tri
Valor Econômico
Segmento de transformação lidera crescimento e leva o setor a um protagonismo que não ocorria desde o primeiro trimestre de 2022
Marsílea Gombata, Anaïs Fernandes, Lucianne Carneiro, Alessandra Saraiva e Rafael Rosas
Pela ótica da oferta, a indústria de transformação foi um dos destaques da economia brasileira no segundo trimestre. A indústria como um todo avançou 1,8% no segundo trimestre, ante o primeiro, e 3,9% na comparação com mesmo período de 2023.
O desempenho positivo é explicado pela indústria de transformação, que cresceu 1,8% ante o primeiro trimestre e 3,6% na comparação com mesmo período de 2023, por atividades de eletricidade e gás, água, esgoto, e gestão de resíduos, que cresceram 4,2% e 8,5%, respectivamente, e construção, que avançou 3,5% na variação trimestre contra trimestre anterior e 4,4% na anual.
As indústrias extrativas, por sua vez, caíram 4,4%, ante o primeiro trimestre. Mas, na comparação com mesmo período de 2023, houve alta de 1%.
A indústria de transformação foi uma das principais influências para a alta de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Em igual período, a alta dos serviços foi de 1%.
O crescimento de 1,8% foi a maior variação para o setor desde o primeiro trimestre de 2022. A atividade responde por 15,3% do cálculo do PIB.
A indústria manufatureira não era protagonista do crescimento da economia desde o primeiro trimestre de 2022, avaliou a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis.
“Naquele trimestre, os serviços cresceram 0,8%, e a indústria de transformação, 4,9%. Apesar de a indústria de transformação ter um peso muito menor que os serviços, a diferença é bem grande. Então dá para dizer que a indústria de transformação foi protagonista naquele trimestre”, afirmou.
A atividade da indústria de transformação puxou a alta de investimentos no segundo trimestre, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto de Economia Brasileiro da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“A indústria surpreendeu, ainda mais quando pensamos no impacto que as enchentes no Rio Grande do Sul poderiam ter tido. Temos visto bom desempenho no setor automobilístico, alimentos, e refino de petróleo”, afirma Matos.
A economista observa que quando a indústria vai bem, importa mais e investe mais. “Uma parte desse investimento de máquinas e equipamentos é da indústria de transformação. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) também mostra a indústria investindo. Os dados de bens de capital mostram a indústria comprando [mais]”, diz. “Quando a indústria vai bem, há um ciclo virtuoso [na economia]”.
Um impulso importante à alta da indústria e também do investimento no segundo trimestre foi a redução dos juros desde o ano passado, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
“É um movimento muito influenciado pela redução da taxa de juros que vimos no ano passado e no começo deste ano”, afirma, ao ressaltar o retardo do efeito da queda de juros sobre a economia. “Isso ajudou a destravar investimento e a produção dos bens de consumo duráveis.”
Segundo Cagnin, além dos juros, contribuíram para a alta do investimento condições mais favoráveis de financiamento. No segundo trimestre, a formação bruta de capital fixo (FBCF), indicador que mede o quanto empresas aumentaram os seus bens de capital, cresceu 2,1%, ante o trimestre anterior.
“Tivemos um papel mais incisivo do BNDES, que é importante quando falamos de investimentos no Brasil. Mas isso também é [parte de] um movimento geral de redução das taxas de juros, que contribui para empresas reduzirem o endividamento e abre espaço a investimentos.”
O economista diz que um motor da produção industrial neste ano vem sendo a produção de bens de capital, o que se reflete no PIB na formação bruta de capital fixo e, de certa forma, na construção civil.
Uma das razões por trás dessa alta baseada na produção de bens de capital é o nível de obsolescência de máquinas e equipamentos da indústria brasileira, afirma. A sondagem Idade e ciclo de vida das máquinas e equipamentos, divulgada no fim de julho pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que máquinas e equipamentos industriais brasileiros possuem, em média, 14 anos, e 38% estão próximos ou já ultrapassaram a idade sinalizada pelo fabricante como ciclo de vida ideal.
“Isso, com ociosidade da capacidade instalada muito baixa, vai pressionando para a retomada de investimentos”, diz.
Segundo Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, a combinação de ano eleitoral com atividade aquecida e variações bruscas de temperatura explica a alta inesperada na construção e no consumo de energia elétrica.
Para a atividade de construção, Rocha esperava alta de 1,6%. Para as de eletricidade e gás, esgoto, atividades de gestão de resíduos, por sua vez, a Principal Claritas previa crescimento de 0,6%.
“Neste ano de eleição municipal, os gastos de governos e municípios crescem, indicando uma toada mais rápida devido ao calendário”, diz. “Há muito desse consumo relacionado à força da atividade, mas também a variações de temperatura. O calor acima da média e mudanças abruptas, para muito frio ou muito quente, demandam mais energia elétrica.”
Roberto Secemsky, economista-chefe para Brasil do banco Barclays, argumentou em relatório a clientes que o comportamento da construção no segundo trimestre reflete o calendário político. Conforme as eleições municipais de outubro se aproximam, diz, é normal haver uma retomada dos gastos dos governos, incluindo projetos de infraestrutura.
Ele acrescenta ainda os esforços de reconstrução do Rio Grande do Sul, que podem ter ajudado a construção no trimestre.