IEDI na Imprensa - Alta modesta da indústria acende sinal de alerta
Valor Econômico
Setor cresce 0,1% em agosto, mas maioria dos ramos pesquisados encolhe no mês
Marcelo Osakabe e Lucianne Carneiro
Após ser destaque do PIB no segundo trimestre, a indústria brasileira viu o ritmo de atividade estagnar em agosto e acendeu um sinal de amarelo, na avaliação de economistas. Apesar da piora do cenário, eles consideram ainda que o setor deve registrar crescimento perto de 3% em 2024.
A produção do setor cresceu 0,1% em agosto ante julho, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, do IBGE. O resultado é classificado como estabilidade pelo instituto e ocorre após uma alta de 4,4% em junho e queda de 1,4% em julho.
O desempenho de agosto ficou na mediana das estimativas de 25 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data. Em 12 meses até agosto, a indústria acumula crescimento de 2,4%.
Entre setores, a indústria de transformação recuou 0,3% em agosto, o segundo resultado negativo consecutivo. Já as extrativas avançaram 1,1%, recuperando parte da queda de 5,8% acumulada nos dois meses anteriores.
“Embora o saldo dos últimos três meses seja de crescimento, é o segundo mês de queda e com a maior parte das atividades de indústria com taxas negativas. Há sinais de alerta importantes”, afirmou André Macedo, gerente da pesquisa no IBGE.
Algumas atividades se destacam nesse resultado negativo da indústria de transformação, segundo André Macedo, como em veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,3%); produtos diversos (-16,7%); impressão e reprodução de gravações (-25,1%).
Sob a ótica das categorias econômicas, houve contração de 4% dos bens de capital em agosto e de 1,3% dos bens duráveis. Já a produção de bens intermediários apresentou crescimento de 0,3% na passagem entre julho e agosto, e não duráveis, 0,4%.
Macedo alerta que, embora tenha retomado o sinal positivo em agosto, 18 dos de 25 ramos industriais mostraram recuo em sua produção. A variação de 0,1%, diz, foi possível graças ao peso da indústria extrativa.
Ainda que tenha permanecido estável em agosto, a indústria caminha para ter um resultado positivo em 2024, nota Rodrigo Nishida, da LCA Consultores. O carrego estatístico para o ano já está em 2,5%. Ele prevê, no entanto, algum crescimento adicional nos próximos meses, levando a uma alta na casa de 3% neste ano.
Ano pode terminar com alta firme, mas sobretudo pelo desempenho passado”
— Rafael Cagnin
A performance do setor, ressalta o economista, ocorre de forma generalizada entre os diversos segmentos, o que é importante especialmente no caso da manufatura, que tem decepcionado nos últimos anos. Fatores como alta do imposto de importação em alguns segmentos e planos setoriais como o Nova Indústria Brasil (NIB), Mover (do setor automotivo) podem estar ajudando também, avalia.
Já Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) avalia que a estabilidade em agosto da sinaliza dificuldade em encontrar elementos que deem impulso após o primeiro semestre positivo. “A trajetória incipiente no curto prazo mostra que o bom desempenho com que a indústria deve acabar o ano é mais devido à base de comparação fraca do que fatores atuais.”
Ele ressalta que as maiores quedas em agosto atingiram justamente as estrelas de 2024. O segmento de bens duráveis ainda cresce no acumulado dos últimos três meses, mas o de bens de capital apagou os ganhos de junho e julho.
“O ano pode terminar com alta firme, mas sobretudo pelo desempenho passado, não presente. Olhando adiante, alguns fatores também podem mitigar, como os incêndios, que prejudicaram a indústria de álcool e açúcar; a estiagem, que encareceu a energia elétrica e pode reduzir a demanda dos consumidores; e as altas da Selic”, diz.
Após o dado, a Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revisou a projeção da produção industrial de 2,2% para 2,9% em 2024. A entidade também, no entanto, chamou atenção para a novo ciclo de aumento da Selic, que tende a pesar contra a continuidade do processo de recuperação em curso para a indústria de transformação.