IEDI na Imprensa - Indústria de transformação é único destaque no segmento no PIB do 3º tri
Valor Econômico
Desempenho é puxado pela alta taxa de investimento e pelo consumo das famílias
Marsílea Gombata
Puxada pela alta taxa de investimento e pelo consumo das famílias, a indústria de transformação se destacou como único segmento positivo da indústria no terceiro trimestre. Economistas alertam, contudo, que a tendência é de desaceleração pela expectativa de política monetária mais apertada e menos estímulos fiscais.
“O que surpreendeu no terceiro trimestre é que somente a transformação veio positiva [no setor da indústria]. As outras atividades vieram negativas”, diz Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e coordenadora do Monitor do PIB.
“Vemos que [tiveram bom desempenho] tanto indústrias mais finais - máquinas e veículos, por exemplo-, como nas mais para o consumo de outras, como de fabricação de produtos químicos. Não se trata, portanto, apenas de crescer, mas crescer de forma mais robusta e disseminada.”
Ao longo do ano, a alta taxa de investimento vem puxando a indústria de transformação, afirma Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
“O investimento está reagindo. E isso não é pouca coisa, porque investimento é veículo de melhoria das condições de oferta. Gera demanda, mas também melhora as condições de oferta da economia. Seja ampliação de capacidade produtiva, seja modernização.”
“Os desembolsos do BNDES para a compra de máquinas e equipamentos também mostram que há um dinamismo do ponto de vista do investimento industrial e agroindustrial. A produção de bens de capital também está se expandindo e é um dos elementos que explicam esse reforço do crescimento industrial em 2024.”
Ele acrescenta que os dados mostram que a formação bruta de capital fixo está à frente do PIB total desde o quarto trimestre de 2023, em parte impulsionada pelo programa de Depreciação Acelerada, que visa à modernização do parque industrial. Além disso, diz, a indústria de transformação vem crescendo sistematicamente acima do agregado do PIB neste ano.
Outro motor por trás da alta da indústria de transformação tem sido o consumo das famílias, afirma Cagnin, impulsionado por estímulos fiscais e condições favoráveis de crédito neste ano.
Dentro da indústria, a construção civil desacelerou na passagem do segundo para o terceiro trimestre, mas cresceu na comparação com o mesmo período de 2023.
O fim do ciclo eleitoral, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre, pode ter pesado negativamente para esse resultado.
“Já vínhamos observando desaceleração no emprego nas obras de infraestrutura comandadas pelos municípios”, afirma.
Castelo diz que, apesar da desaceleração, o setor ainda mantém ritmo forte. Além disso, o mercado de trabalho no setor continua aquecido. “As sondagens da FGV mostram, inclusive, preocupação com falta de mão de obra qualificada, questão que aflige as empresas no momento.”
Castelo acredita que esse arrefecimento não continuará no próximo trimestre e espera que o setor cresça 4,4% neste ano.
Silvio Campos Neto, economista sênior e sócio da Tendências Consultoria, também prevê uma recuperação da construção no quarto trimestre. Mas prevê em 2025 impacto da alta da taxa básica de juros e também das de mercado.
A Tendências espera que a indústria como um todo desacelere de um crescimento de 3,4% neste ano para 2% em 2025. A de transformação deve passar de 3,3% para 1,6%, e a construção, de 5% a 3,5%.
Mas, apesar da perspectiva de maior aperto monetário, menos estímulos fiscais e desvalorização cambial, tanto a indústria de transformação quanto a construção contam com elementos que podem amenizar esse cenário.
“O próprio programa Depreciação Acelerada tende a trazer oxigênio a esse processo de expansão do investimento e amortece os efeitos iniciais dessa nova subida de taxa de juros”, diz Cagnin sobre a produção manufatureira. “Outro fator é a regulamentação da Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD), que tende a fortalecer a formação bruta de capital fixo com essa diversificação de funding.”
Na construção, diz Castelo, a alta da taxa de juros pode afetar o crédito imobiliário, mas não deve impactar de maneira tão forte o Minha Casa Minha Vida quanto segmentos de alta renda.
“Essa conjuntura não afeta de forma muito significativa o Minha Casa Minha Vida. O programa deve continuar sendo alavancador do mercado imobiliário, com condições muito favoráveis de financiamento e taxas de juros abaixo das de mercado. O protagonismo do programa em 2024 deve aumentar em 2025”, afirma.
Ela acrescenta ainda que no ano que vem o setor deve ser influenciado pelo próximo ciclo eleitoral, que começa com antecedência para que os Estados possam apresentar resultados em 2026.