IEDI na Imprensa - Indústria de alta tecnologia volta a crescer após 5 anos seguidos de queda
Valor Econômico
Desempenho foi superior ao avanço de 3,8% da indústria de transformação em 2024 e segundo melhor resultado entre os grupos industriais
Rafael Vazquez
A indústria de alta tecnologia cresceu 6,6% em 2024, na primeira expansão após cinco anos seguidos de queda. O desempenho foi superior ao avanço de 3,8% da indústria de transformação em 2024 e segundo melhor resultado entre os grupos industriais, e não muito distante do líder, a indústria de média-alta tecnologia, que cresceu 6,9%, segundo dados compilados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
As indústrias de alta tecnologia mais destacadas no Brasil são a de fabricação de aeronaves, produtos farmoquímicos e farmacêuticos, e produtos de informática, eletrônicos e ópticos, enquanto a produção de média-alta tecnologia envolve automóveis, armas, material de uso médico e odontológico e fabricação de máquinas e equipamentos.
Segundo aponta o economista do IEDI, Rafael Cagnin, estas duas indústrias de maior intensidade tecnológica foram ajudadas por bases de comparação mais modestas após anos anteriores ruins para boa parte dessas atividades, mas o vigor apresentado inclusive no último trimestre de 2024 é um elemento a ser destacado. No caso da alta tecnologia o crescimento foi de 15,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, e no caso da média-alta, 12,1%.
“No último mês de 2024, a faixa de alta intensidade tecnológica avançou 20,3% em relação a dezembro do ano anterior, o que foi disseminado entre seus ramos segundo o IBGE, incluindo a fabricação de aeronaves e seus componentes”, comenta o economista do IEDI. “Essa expansão puxou os aumentos de 15,6% no quarto trimestre e de 6,6% no acumulado do ano da indústria de alta intensidade. Nessa comparação entre 2024 e 2023, a montagem de aviões recuou, mas com a fabricação de suas partes e peças crescendo.”
O estudo do IEDI aponta ainda que a fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos foi o ramo do segmento de alta intensidade que mais cresceu na comparação entre meses de dezembro (27,1%), tendo crescido também na passagem de novembro para dezembro, 2,9%.
Por outro lado, Cagnin observa que a alta da taxa Selic, atualmente em 13,25% e projetada pelo mercado para subir até o patamar de 15% neste ano, deve enfraquecer a demanda dos mercados que são atendidos por estes grupos da indústria brasileira de maior intensidade tecnológica. “A alta e a média-alta congregam muitos ramos sensíveis aos níveis de juros”, diz. “Por isso é interessante analisar esta evolução segundo a intensidade tecnológica dos ramos industriais. Está muito relacionada à fase de redução das taxas de juros, ao menos até meados do ano passado, aumento do crédito, expansão do emprego e programas de transferência de renda.”
Além disso, conforme mostra o acompanhamento do IEDI, a performance positiva do segmento de alta tecnologia da indústria permanece aquém quando se observa períodos mais longos. “É importante notar que a média-baixa é o único grupo por intensidade tecnológica que supera patamares pré-pandemia. Cresceu 3,9% frente a 2019. Entre seus ramos, o de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis foi o que mais avançou no período ao crescer 18,4% no período”, diz Cagnin.
Já a indústria de média tecnologia, representada por atividades como fabricação de produtos de borracha e material plástico, construção de embarcações, minerais não metálicos e metalurgia, não chega a ficar no negativo na comparação com 2019, mas está praticamente no mesmo patamar do momento pré-pandemia ao registrar crescimento mínimo de 0,1%.
“É a alta tecnologia que ainda está mais longe dos níveis de 2019. O gap é de -5,2%, em boa medida devido ao setor de aviação, cuja queda frente a 2019 é de quase 40%”, destaca Cagnin, ressaltando que o ramo de material de escritório e informática fez um contraponto, com crescimento de 15,3% no período.
Para o economista do IEDI, especialmente agora em 2025 diante do aumento das incertezas no âmbito externo, seja pelos conflitos e questões geopolíticas, seja pela guerra comercial retomada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o cenário deve ser de acirramento da concorrência internacional para ramos da indústria de maior intensidade tecnológica. “Por isso, seria oportuno que o país continuasse garantindo condições para esta parcela da indústria seguir se expandido como ocorreu no ano passado”, conclui.