Carta IEDI
Menor crescimento industrial na entrada de 2021
No início deste segundo ano de pandemia, a indústria brasileira manteve-se em rota de crescimento, mas em uma velocidade menor do que vinha apresentando no final de 2020. Em jan/21, sua produção variou +0,4% ante o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, segundo o IBGE. A aceleração dos casos de Covid-19, o fim dos programas emergenciais e o desemprego em patamares recordes são fatores que contribuíram para este esmorecimento.
Este desempenho na margem, que capta melhor as tendências mais recentes, correspondeu à metade do crescimento de dez/20 (+0,8%) e a quase um terço daquele de nov/20 (+1,1%), além de vir acompanhado de declínio em 58% dos ramos industriais. Tomada apenas a indústria de transformação, a variação foi de -0,1% em jan/21, a primeira taxa negativa desde abr/20.
Um fator que atenuou a desaceleração veio dos estoques. O indicador da CNI passou de 45,5 pontos para 48,3 pontos entre dez/20 e jan/21. Ou seja, embora ainda não aponte expansão (acima de 50 pontos), ocorreu certa atenuação no quadro dos estoques.
Neste contexto, a avaliação dos empresários industriais sobre as condições atuais de seus mercados vem se tornando menos otimista desde o início de 2021. O indicador da FGV passou de 119,9 pontos em dez/20 para 116,3 pontos em jan/21 e então para 114,5 pontos em fev/21. Já o indicador da CNI saiu de 59,5 pontos em dez/20 para 53,2 pontos em fev/21 e retornou à região de pessimismo agora em mar/21: 48,9 pontos. A contar por estas percepções, o desempenho industrial do restante do primeiro trimestre do ano também deve ter sido fraco.
Quanto a jan/21, o IBGE mostra que a produção registrou retrocesso em metade dos macrossetores industriais. Bens intermediários registraram a maior queda: -1,3% ante o mês anterior, livre de efeitos sazonais. Com isso, eliminou a alta de dez/20 e indicou estar parado desde a entrada do último trimestre do ano passado, já que variou -0,2% tanto em out/20 como nov/20.
Frente a jan/20, tal como a indústria como um todo, a produção de bens intermediários apresentou desaceleração, passando de +8,2% em dez/20 para +2,3%. Muito disso deveu-se a intermediários de alimentos, de derivados de petróleo, de veículos e de metalurgia. Por sua vez, A indústria em seu agregado teve evolução semelhante, de +8,2% para +2,0% neste mesmo período.
Bens de consumo duráveis registraram seu primeiro recuo desde abr/20: sua produção caiu -0,7% em jan/21 na série com ajuste sazonal. Na comparação com jan/20 registrou -4,2%, o pior resultado entre os macrossetores nesta comparação, devido a veículos, outros equipamentos de transporte e eletrodomésticos da linha marrom.
Na parcela da indústria que resistiu melhor à desaceleração e preservou o sinal positivo, o melhor desempenho coube a bens de capital, com +4,5% ante dez/20, com ajuste sazonal. Em relação a jan/20, também foi quem mais cresceu: +17%, mesmo com o efeito calendário negativo que marcou jan/21 (dois dias úteis a menos do que jan/20).
Também ficaram no azul os bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção subiu +2% ante dez/20, com ajuste. Apesar disso, vale observar que este macrossetor vem alternando altas e quedas desde o último trimestre do ano passado. Este período coincide com a redução do auxílio emergencial pago às famílias e sua posterior extinção em 2021. Frente a jan/20, houve queda de -0,4%, devido aos setores de carnes e de bebidas.
Diante dos obstáculos neste início de ano, as projeções do Boletim Focus do Banco Central para a produção industrial em 2021 como um todo vêm assinalando redução. A mediana das expectativas, que era de +5,03% no final de jan/21, passou a +4,37% no início de mar/21.
Resultados da Indústria
Em janeiro de 2021, a produção industrial cresceu +0,4% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. É a menor taxa desde que o setor deu início à sua trajetória positiva iniciada no mês de mai/20. Já superado o choque da pandemia em mar-abr/20 e com bases de comparação menos deprimidas, a indústria entra em uma nova fase de dinamismo, cujas taxas tendem a melhor refletir suas efetivas condições de crescimento.
Com a redução do auxílio emergencial pago às famílias, que ajudou a aquecer o mercado consumidor doméstico, e nova aceleração do número de casos de Covi-19, a recuperação industrial dá sinais de desaceleração na virada do ano. Depois de manter crescimento em torno de +1% ao mês, com ajuste sazonal, em out-nov/20, registrou +0,8% em dez/20 e então +0,4% em jan/21, como mencionado anteriormente.
Apesar da acomodação recente, o setor como um todo conseguiu superou em 3,7% o nível de produção de fev/20, sobrepujando, assim, o impacto negativo da Covid-19 nos meses de mar-abr/20. Vale mencionar, porém, que a indústria permanece 13% abaixo do pico de produção anterior à crise de 2014-2016. Esta defasagem nos lembra que a indústria sobrepôs dois períodos de graves adversidades nos últimos anos e ainda está longe de superá-las.
A indústria também evitou o terreno negativo na comparação com o mesmo período do ano anterior, ao registrar alta de +2,0% em jan/21. Cabe observar que, em 2021, o mês de janeiro (20 dias) teve dois dias úteis a menos do que em 2020. Esta foi a quinta vez consecutiva que a produção industrial não caiu nesta comparação no contexto na pandemia.
Em relação aos macrossetores, na comparação de jan/21 com dez/20, descontados os efeitos sazonais, houve crescimento em dois dos quatro macrossetores acompanhados pelo IBGE. A reação mais intensa coube, mais uma vez, a bens de capital, com +4,5%, enquanto bens de consumo duráveis recuaram -0,7%. Bens intermediários também perderam produção na passagem do mês, registrando -1,3%, enquanto bens de consumo semi e não duráveis cresceram +2,0%.
Na comparação de jan/21 com jan/20, variações positivas também marcaram o desempenho de dois dos quatro macrossetores industriais. Enquanto o total da indústria cresceu +2,0% nesta comparação, bens de capital e bens intermediários conseguiram apresentar dinamismo superior: +17,0% e +2,3%, respectivamente. Bens de consumo duráveis, a seu turno, caíram -4,2% e bens de consumo semi e não duráveis, -0,4%.
O macrossetor de bens de capital foi quem melhor se saiu na comparação com jan/20, registrando alta de +17,0%, devido ao aumento da produção de: bens de capital para equipamentos de transporte (+15,9%), impulsionado, principalmente, pela maior fabricação de caminhão-trator para reboques e semirreboques, bens de capital para construção (+59,7%), para fins industriais (+10,2%), agrícolas (+26,0%) e de uso misto (+5,3%). Em direção oposta, o único impacto negativo veio do subsetor de bens de capital para energia elétrica (-3,7%).
O aumento interanual de +2,3% na produção de bens intermediários derivou, sobretudo, do crescimento em produtos associados às atividades de produtos de minerais não-metálicos (+11,7%), de produtos de metal (+11,8%), de produtos têxteis (+26,9%), de produtos de borracha e de material plástico (+9,5%) e de outros produtos químicos (+5,7%), entre outros. Entre as pressões negativas, estavam os intermediários de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,9%), produtos alimentícios (-6,7%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,5%).
Já bens de consumo semi e não duráveis, cujo resultado foi de -0,4% ante jan/20, receberam contribuição negativa sobretudo do grupamento de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-4,1%). Por outro lado, os subsetores de semiduráveis (+6,2%), de não-duráveis (+3,1%) e de carburantes (+1,6%) registraram taxas positivas.
Por fim, quanto a bens de consumo duráveis, sua produção recuou -4,2% em jan/21, em grande parte, devido aos retrocessos de eletrodomésticos da “linha marrom” (-24,2%), motocicletas (-47,9%) e automóveis (-1,5%). Em sentido oposto, o macrossetor foi influenciado positivamente pelo avanço na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (+12,2%) e dos grupamentos de móveis (+12,3%) e de outros eletrodomésticos (+25,3%).
Por dentro da Indústria de Transformação
O aumento de +0,4% da produção industrial geral em jan/21 ante dez/20, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhado de variação de -0,1% na indústria de transformação e de +1,5% do ramo extrativo.
Em relação a jan/20, tal como a indústria geral (+2%), o desempenho da indústria de transformação não só voltou a ficar positivo, tal como ocorrera nos meses anteriores, como foi novamente mais robusto: registrou alta de +2,3%. No caso do ramo extrativo, porém, houve variação de +0,3%, implicando certa amenização do quadro, depois de cinco meses de perdas.
Frente a dez/20, na série com ajuste sazonal, o acréscimo de +0,4% da indústria geral foi acompanhado por 11 dos 26 ramos pesquisados. As principais influências positivas foram registradas por produtos alimentícios (+3,1%), produtos diversos (+14,9%), celulose, papel e produtos de papel (+4,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+1,0%) e móveis (+3,6%), além das indústrias extrativas (+1,5%).
Em oposição, registraram variações negativas: metalurgia (-13,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-10,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,4%), outros equipamentos de transporte (-16,0%), máquinas e equipamentos (-2,3%), produtos do fumo (-11,3%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-4,9%) e produtos têxteis (-2,5%), entre outros.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou variação de +2,0% na produção em jan/21, variações positivas marcaram o desempenho de 18 dos 26 ramos, 52 dos 79 grupos e 57,9% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que, em 2021, o mês de janeiro teve dois dias úteis (20 dias) a menos do que em 2020 (22).
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram de: máquinas e equipamentos (+17,7%), produtos de metal (+12,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,8%), produtos de minerais não-metálicos (+11,5%) e produtos de borracha e de material plástico (+9,5%), entre outros. Em contrapartida, entre os resultados negativos ficaram: produtos alimentícios (-5,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,5%) e outros equipamentos de transporte (-36,7%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de jan/21 decresceu -4,1%. Desde a segunda metade de 2019, os resultados têm sido majoritariamente negativos, em função das adversidades do comércio mundial provocadas pelos conflitos entre EUA e China, crise argentina e, posteriormente, pela pandemia de Covid-19. Entretanto, a partir de out/20 houve amenização deste quadro. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +13,1% na comparação com jan/20. Foi a terceira alta depois de meses de recuos sucessivos.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, manteve-se em níveis muito próximos entre dez/20 (79,3%) e jan/21 (79,9%) sugerindo pouco espaço para avanços mais substanciais de produção na entrada do corrente ano. Em fev/21 recuou para 79,1%.
Cabe observar que o nível de utilização não está distante da média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%, embora esteja abaixo do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016. No 1º trim/14, a utilização da capacidade estava em 82,6%.
Segundo a pesquisa da CNI, por sua vez, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação encontrava-se em 80,5% em jan/21, isto é, praticamente o mesmo patamar de dez/20 (80,7%), já descontados os efeitos sazonais. Com isso, o indicador já superou seu patamar em fev/20 (78,8%), ou seja, do pré-choque da Covid-19, e encontra-se em linha com sua média histórica (80,53%). Vale apontar que também neste caso, devido à sobreposição de crises, o nível atual está abaixo daquele do 1º trim/14 (82%)
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria em jan/21 variou +2,8 pontos em relação a dez/20, para 48,3 pontos, o patamar mais elevado desde mar/20 (50 pontos). Por ainda se encontrar aquém da marca de 50 pontos, o indicador continua sugerindo estoques em queda. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador registrou 48,3 pontos (+2,7 ponto frente a dez/20) e na indústria extrativa ficou em 48,6 pontos (+3,3 pontos).
Este quadro dos estoques nos últimos meses de 2020 e na entrada de 2021 aponta para a vulnerabilidade das cadeias produtivas a repiques inesperados de comandas, gerando gargalos em diversos elos e, consequentemente, aumento de preços em alguns insumos. Em compensação, gera incentivo para que a produção continue evoluindo positivamente, de modo a normalizar a situação dos estoques.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral ficaram, mais uma vez, abaixo do nível planejado (50 pontos), com um indicador de satisfação em 47,3 pontos em jan/21, isto é, patamar melhor do que em dez/20 (+1,8 ponto), mas redução de -2,3 pontos em relação ao pré-crise (fev/20).
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 53,1 pontos e 47,1 pontos, respectivamente, isto é, acima do nível de equilíbrio (50 pontos) no primeiro caso e abaixo dele no segundo caso. Apesar disso, a insuficiência de estoques na indústria de transformação tem se amenizado, depois de atingir a pior avaliação no bimestre set-out/20 (43,1 pontos).
No grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena em jan/21, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Depois de praticamente todos os ramos industriais acompanhados pela CNI apresentaram estoques menores do que o planejado (50 pontos) em dez/20 (96% do total), em jan/21 três ramos (ou 11% do total) conseguiram superar a linha de 50 pontos, mostrando recomposição de estoque.
Estes três ramos acima de 50 pontos foram: manutenção e reparação (60,7 pontos), bebidas (56,8 pontos) e calçados (55,6 pontos). Eestão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: outros equipamentos de transporte (36,4 pontos), madeira (38,9 pontos), couros (40 pontos) e metalurgia (40,1 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria Geral da CNI, que deu sinais de melhora entre jun/20 e dez/20, evoluiu negativamente em jan/21 pela primeira e em fev/21 voltou a recuar. Passou de 60,9 pontos em dez/20 para 59,5 pontos em jan/21 e então para 54,4 pontos em fev/21. Embora tenha permanecido na região de otimismo (acima de 50 pontos), isso aponta para uma acomodação da evolução industrial na entrada de 2021.
Além da elevação do número de casos da Covid-19 e da disseminação pelo país da nova variante do vírus originada na região Norte, isso pode ter sido influenciado também pelo fim dos programas emergenciais do governo com o início de 2021.
A deterioração relativa do estado da confiança na passagem de jan/21 a fev/21 resultou menos de seu componente de expectativas em relação ao futuro, que de 63 pontos passou para 62,6 pontos, e mais da percepção dos empresários da evolução presente dos negócios. Este componente do indicador de confiança recuou, de acordo com a CNI, de 56,7 pontos em jan/21 para 53,2 pontos em fev/21.
Já o Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, passou por um movimento semelhante. Encontrava-se em 114,9 pontos em dez/20, recuando para 111,3 pontos em jan/21, e então para 107,9 pontos em fev/21, já descontados os efeitos sazonais. Como manteve-se acima da linha dos 100 pontos, ainda indica que os empresários industriais estão confiantes, mas menos do que estavam no final do ano passado.
Tal resultado em fev/21, foi influenciado tanto pelas avaliações da situação atual como pelas expectativas em relação ao futuro. A avaliação presente apresentou a deterioração mais intensa, ao passar de 106,3 pontos em jan/21 para 100,9 pontos em fev/21. Este nível é o mais baixo desde ago/20. As expectativas sobre o futuro, a seu turno, declinaram de 116,3 pontos para 114,9 pontos no mesmo período.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador está acima dos 50 pontos desde jun/20, apontando melhora das condições de negócio neste período. Em fev/21, depois de três meses de deterioração, passou de 56,5 pontos em jan/21 para 58,4 pontos, sugerindo interrupção dos sinais de acomodação da atividade industrial.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)