De Olho no Futuro
De Olho no Futuro
Primeira Leitura - Maio de 2003
Ivoncy Ioschpe, presidente do IEDI, elogia a prudência de Lula, o que concorreu para a confiança dos mercados, mas alerta: “Credibilidade consistente não é aquela de 90 dias”. Otimista e negociador, pede mudanças, expõe a sua agenda e alerta para os riscos de uma moeda excessivamente valorizada.
Por João Carlos de Oliveira
Entendimento unânime? Mera peroração sobre o consenso? Nem tanto. Há dias, Maria da Conceição saiu atirando, à sua maneira atabalhoada, contra o governo que ajudou a eleger. Preservou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, mas evidenciou que a velha ordem – e sua fixação monetarista, sempre a ajeitar a pose mirando-se no espelho de Wall Street – disputa influência na equipe econômica atual e, por enquanto, segundo ela, está ganhando o jogo. Ioschpe é empresário e preside um grupo destinado a fazer uma espécie de “lobby do bem”. Sim, isso existe. Tem, portanto, um discurso também político. Como não integra a guarda republicana do petismo, fala com a prudência que sua função pede, que seu cargo exige.
Ioschpe destaca que Lula fez muito bem em buscar, num primeiro momento, reconquistar a credibilidade dos mercados, mas que já é chegada a hora de dizer a que veio: “O que eu acho que não foi dito ao Lula, ainda, é que credibilidade consistente não é aquela de 90 dias, é a trabalhada em fatos concretos”. E reaparece, então, a questão do câmbio, que é, digamos assim, o caso concreto que opõe as duas grandes correntes de pensamento na economia brasileira hoje.
Será que, como pensa aquele grupo citado no primeiro parágrafo, é preciso manter uma moeda competitiva, tendo o dólar flutuante como mais um elemento de política econômica, ou se deve acreditar que o preço da moeda brasileira é aquele que o mercado definir? O presidente do IEDI responde, com exemplo, como gosta de fazer: “No momento em que o câmbio está a R$ 3,07 [cotação do dia da entrevista], as companhias param de fechar contratos de longo prazo. Nós temos de entender que, a R$ 3,07, mais a inflação do período, as empresas estão trabalhando com um câmbio real muito abaixo disso. O que é que vai acontecer? Os contratos que já estão em vigor vão ser cumpridos, sem dúvida nenhuma, mas, dentro de 180 dias, o país vai sentir uma perda de dinamismo da balança comercial. Depois, mais na frente, se o governo Lula tiver de elevar o câmbio – e vai ter de elevar –, de R$ 3 para R$ 3,30, por exemplo, vai gerar uma nova pressão inflacionária”. Ou seja, o pior de todos os mundos.
Os anos em que o capital produtivo passou sob o jugo de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, talvez tenham contribuído para Ioschpe desenvolver um interessante vício de linguagem, que se percebe na entrevista. Raramente emprega o “se” como partícula de indeterminação do sujeito. Recorre, em seus exemplos, a um “você” inclusivo, que parece querer atrair o interlocutor para a sua fala. Compatível com quem preside uma associação muitas vezes acusada de alimentar taras protecionistas e de querer fechar a economia brasileira à competição.
Admirador do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) – cuja obra é marcada por personagens em situações-limite, entre o bem e o mal, o pecado e a redenção –, sabe certamente o que é mover-se entre extremos. Ioschpe lidera um setor da economia que, um dia tido como vilão pelo petismo e feito depois vítima de certo financismo cego, agora é entendido como parceiro estratégico por algumas alas dos ex-adversários. Em Dostoiévski, vá lá, o fundo da consciência a Deus pertence, é mesmo inatingível, e não se vislumbra futuro possível neste vale de caídos que é o mundo. Ioschpe, o empresário e voz política, precisa ter fé no futuro, acreditar na importância das definições estratégicas, pensar o país que se quer ter em 2020.
A receita para tanto não parece ser simples: gerar um superávit comercial de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões por ano pelos próximos dez anos, tendo em vista, pelo menos, três gravíssimos problemas: 1) os setores de bens intermediários e da indústria de base já operam, na quase totalidade, no teto da capacidade produtiva instalada; 2) o Brasil exporta mais justamente os produtos que, no mercado mundial, apresentam os piores coeficientes de crescimento da demanda; 3) nem todo investimento estrangeiro que aqui aportar é necessariamente favorável a essa empreitada, já que muitos deles só se interessam pelo Brasil por causa do mercado interno. Ufa!
Formado em economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ioschpe preside ainda o conselho de administração do grupo Iochpe-Maxion e a Inova Investimentos, participa do Conselho Superior de Economia da Fiesp, é membro do Conselho Empresarial do Departamento de Promoção Comercial das Relações Exteriores, do Conselho de Empresários da América Latina e do board do instituto de tecnologia do governo de Israel.
No dia 5 de março, ele encontrou-se com o presidente Lula e entregou-lhe um documento do instituto que defende a necessidade urgente de o país investir US$ 10 bilhões para superar os gargalos industriais e fazer, de fato, do aumento das exportações o caminho do crescimento sustentado e da superação da dependência. É o primeiro texto elaborado pelo setor real da economia que pode e deve ser lido como alternativa ao terceiro tempo do malanismo.
Sobre a era FHC, finalmente, o empresário reconhece-lhe muitos méritos, o maior dos quais a consolidação da democracia, mas também tem palavras amargas, de tom quase profético – e profecia ainda não cumprida. Sobre Gustavo Franco, relata e vaticina ao menos tempo: “No dia em que aquele senhor se der conta da quantidade de sofrimento que gerou a milhões de brasileiros, os que terão de pagar pela experiência que ele inventou...”. A frase, absolutamente compreensível, se mostra inteira, embora fique pela metade. É para tentar impedir que Palocci e o governo insistam em cometer erros velhos que Primeira Leitura e Ivoncy Ioschpe tiveram a conversa que segue.
Primeira Leitura: Para o IEDI, o que é o Brasil?
Ivoncy Ioschpe: O Brasil é um país continental, com uma população enorme e que, portanto, não pode ser encarado como um país que venha a desenvolver seu crescimento por meio de especializações setoriais. A malha industrial brasileira teve a capacidade de desenvolver e aprender tecnologias dos mais diversos setores. Isso foi uma conseqüência de uma coisa que não foi positiva, de quando a economia era fechada, mas o fato é que o brasileiro precisou aprender a fazer tudo. Isso criou dentro do Brasil uma malha, um tecido industrial, que é muito raro. Encontra-se isso na Itália, na França, nos EUA, mas não no México, no Chile, em outros países da América do Sul e mesmo da Ásia. O que nós deveríamos ter feito era corrigir os erros. E eles foram muitos.
Que avaliação o sr. faz do governo FHC?
Entre as coisas positivas, eu destacaria duas: a democracia e o Real. Também consolidou um conceito muito importante, que é do equilíbrio fiscal. Mas houve erros fantásticos. Gustavo Franco foi, talvez, um dos maiores malefícios. Existe hoje a Lei de Responsabilidade Fiscal, e eu acho que deveria haver, como sugeriu José Serra, uma lei de responsabilidade cambial. No dia em que aquele senhor se der conta da quantidade de sofrimento que gerou a milhões de brasileiros, os que terão de pagar pela experiência que ele inventou... Mexer em preços fundamentais da economia, como câmbio, é uma coisa muito séria. Foram cometidos crimes contra o futuro. Muitas gerações ainda vão ter de pagar por eles. Além disso, há outra coisa a ser dita: na década de 70, as pessoas valorizavam a produção. Na décadas de 80 e, especialmente, na de 90, as pessoas deixaram de ter esse ideal aqui no Brasil e passaram a dar um peso muito grande à opinião de Wall Street.
Não é um fato que a indústria é hoje mais competitiva do que era há oito anos?
Os processos produtivos nas últimas décadas modificaram-se completamente no mundo inteiro por conta de novas tecnologias. Se você tomar o setor têxtil de 20 anos atrás e o de hoje, vai ver que é todo eletrônico, automatizado.
O governo FHC dizia que, com suas políticas horizontais, praticamente obrigou as empresas a se modernizarem...
O problema todo era o que o Gustavo e o Pedro Malan diziam. Nós não somos contra políticas horizontais: é preciso ter câmbio competitivo, taxas de juros competitivas, infra-estrutura competitiva, estrutura fiscal competitiva. A questão é que ninguém é perfeito, muito menos o Brasil. A estrutura fiscal que está aí é competitiva? As taxas de juros no Brasil são competitivas? Esses dois fatores, só esses dois, tornam inviável qualquer nível de competitividade. E, normalmente, as pessoas falam em competitividade como se ela fosse apenas uma função do número de empregados pelo produto. Competitividade tem um novo conceito, que é o custo total dos fatores de produção, inclusive do capital. Nós estamos comparando o custo zero que se tem no Primeiro Mundo com um custo de 30% ao ano que se tem no Brasil. Essa diferença tão grande tem de ser tirada de algum lugar, do salário, das matérias-primas. Enfim, de algum lugar tem de sair para você ser competitivo.
É o tal do custo-Brasil...
Isso. Mas, eu insisto, não somos contra as políticas horizontais. Apenas partimos do princípio de que o país tem de reduzir sua dependência financeira externa. E só existem duas maneiras: ou você não paga o que deve ou você paga. E isso se paga não com mágica, mas com balança comercial. Logo, ou o país aumenta as exportações ou reduz e substitui as importações. E isso não se faz de uma hora para outra. Até porque não basta olhar apenas só a dívida líquida brasileira. É preciso somar também os investimentos externos feitos no Brasil.
Por quê?
Porque as pessoas podem vender esses ativos e levar os dólares. Quando você soma essas duas coisas, num país que não tem moeda forte, chega à conclusão de que a necessidade de gerar um forte superávit comercial não é de um governo, dois ou três. O país vai ter de manter, por mais de uma década, uma política de superávits muito fortes, da ordem de US$ 20 bilhões ou US$ 25 bilhões, o que é um programa muito semelhante ao chinês ou ao coreano.
Um esforço exportador continuado dessa magnitude não é possível sem investimentos.
Sim. Mas, quando ouvimos que temos de atrair mais capital porque isso vai resolver nosso problema, pensamos: “Ótimo, é bom que venha”. Porém, se esse capital externo vier apenas para atender o mercado brasileiro, não há muito sentido nisso. Não estou dizendo que não possa vir; estou dizendo que, do ponto de vista da política essencial do Brasil, de reduzir a dependência, essa substituição não faz sentido. O grande problema que houve na abertura que o Brasil fez no governo Fernando Henrique e no governo anterior foi exatamente esse. Nós, do IEDI, fizemos uma pesquisa com as empresas multinacionais que vieram para cá, e ela mostra que muitas delas buscavam apenas distribuir os bens produzidos no exterior. Também, por isso, o Brasil tinha um déficit na balança comercial monstruoso, o que nos levou depois a pagar juros também monstruosos. E aí começa a corrente da infelicidade nacional. Há que comprometer os que querem se instalar no Brasil com a exportação.
Que avaliação o sr. faz da decisão do governo Lula de deixar o câmbio cair?
Eu acho que o governo Fernando Henrique já tinha feito o trabalho mais sujo, já tinha deixado o câmbio num nível extremamente beneficiado. O câmbio saiu de R$ 2,20 para R$ 3,80, e isso, sem dúvida nenhuma, provocou uma onda inflacionária. Mas, no momento em que se estabilizou o câmbio, ela ia passar também. Está havendo uma distorção muito grande no entendimento, de querer associar a valorização do real a um fator de sucesso de governo Lula. A valorização do real não é um sucesso. Se o objetivo do Brasil é reduzir o seu endividamento externo, não pode ter como política a valorização de sua moeda.
Então, para o sr., o ministro Antonio Palocci está cometendo os mesmos erros antigos?
Eu acho que ele está cometendo erros velhos. Não é nenhuma crítica ao Palocci. Eu acho que ele está fazendo um bom trabalho. É um homem que escuta. Mas as pessoas não se dão conta é de que as correntes de comércio exterior só se tornam efetivas se houver consistência a longo prazo. Os complexos industriais brasileiros foram instalados para atender o mercado interno e mais uma variável “x” do mercado externo. Se é preciso aumentar a ação nesse mercado externo, é preciso ampliar a capacidade desses complexos. Assim, os investidores precisam saber, com muita segurança, se essa é uma política de longo prazo. Se não for, eles vão aumentar a capacidade para vender para quem? Só vão aumentar seus custos indiretos. Então, o que passa a acontecer – e essa tem sido a grande tragédia brasileira – é o stop and go. Você coloca a taxa de câmbio num valor correto, começa a exportar, e, de repente, o sujeito diz: “Baixa o câmbio”...
Se esse filme já foi visto, por que o governo decidiu cair na mesma cilada?
A maior angústia do Lula era demonstrar que ele era uma pessoa confiável. Porém, acho que não foi dito ao Lula, ainda, que credibilidade consistente não é aquela de 90 dias, é a trabalhada em fatos concretos. No momento em que, por exemplo, o câmbio está em R$ 3,07, as companhias param de fechar contratos de longo prazo. Nós temos de entender que, a R$ 3,07, mais a inflação do período, as empresas estão trabalhando com um câmbio real muito abaixo disso. O que é que vai acontecer? Os contratos que já estão em vigor vão ser cumpridos, sem dúvida nenhuma, mas, dentro de 180 dias, o país vai sentir uma perda de dinamismo da balança comercial. Depois, mais na frente, se o governo Lula tiver de elevar o câmbio – e vai ter de elevar –, de R$ 3 para R$ 3,30, por exemplo, ele vai gerar uma nova pressão inflacionária. Na prática, portanto, o governo resolveu o problema dessa inflação que já estava decretada, mas está decretando uma nova inflação para o futuro.
Enfim, o pior dos mundos, o de um novo ajuste recessivo das contas externas...
É exatamente essa a história. Mas nós não estamos falando de economia real. Nós estamos falando de um grupo de pessoas que estão lá em Wall Street. São os especuladores, não são os investidores. E, enquanto existir o swap, que representa algo como 40% da dívida brasileira, o dólar não tem como não cair. O que significa o swap? Significa que o Tesouro nacional criou um seguro para o investidor externo. Ou seja, ele faz um jogo: se o dólar subir muito, ele ganha; se o dólar cair, ele recebe os juros e também ganha. Mas esse jogo, todo mundo sabe, tem duração muito curta. Não pode haver um país que garanta a qualquer investidor que ele sempre vai ganhar. Os Estados Unidos não garantem.
Como escapar disso? Onde é que entra a necessidade de o país ter uma política industrial vertical e setorial?
Se você comparar a pauta de exportação brasileira com a do mundo, vemos que o Brasil está concentrado naqueles produtos de muito baixo crescimento ou de crescimento negativo no mercado internacional. Se é preciso aumentar o fluxo de exportações – e é –, o país precisa ter complexos industriais que façam frente a esse crescimento da demanda global. E, para isso, são necessárias políticas setoriais e verticais.
Ou seja, para o sr. o caminho para o crescimento passa pelo esforço exportador, que exige uma política industrial de criação de novas cadeias produtivas?
Sim, esse é um ponto. Mas existe outro. Existem ativos brasileiros que você não pode desprezar. É o caso da energia elétrica. O governo não pode simplesmente dizer: “Deixa quebrar”. Não dá. Você vai ter de criar políticas verticais para isso e vai ter de acertar isso. Agora, há várias maneiras de fazê-lo. Há a maneira grosseira, que é dizer: “Vamos nacionalizar tudo de novo, vamos estatizar tudo de novo”. E a outra: “Vamos apenas trocar o software desse negócio”. No pano de fundo disso tudo, existe outra coisa que é essencial: a mudança da Lei de Falências e Concordatas no Brasil.
Por quê?
Nós temos hoje uma Lei de Falências que protege o acionista, o controlador da empresa; protege, entre aspas, os credores e os trabalhadores; protege o fisco; porém não protege o ativo e o emprego. Todos os países modernos possuem hoje leis de concordatas e falências em que o objetivo é proteger o emprego, o ativo que lá foi feito e que custou para a sociedade construir. O acerto da Lei das Falências, para nós, é tão importante quanto o programa da reforma tributária. Achamos que mais importante que a reforma tributária é a da Previdência. Resolvido esse problema, passa a existir uma luz no fim do túnel. Agora, é preciso ter claro que há uma relação dívida/PIB. Você pode aumentar o PIB ou você pode reduzir a dívida. Enquanto perdurar essa visão de Wall Street, você vai ter superávit primário de 4,25% do PIB, que, daqui a pouco, será de 5%, 6%, e assim por diante.
Há gargalos industriais para o crescimento?
Se você tomar por base o atual nível de exportação brasileira e o atual nível de consumo do Brasil, vai constatar que você tem sete ou oito setores que não têm mais capacidade de crescimento; então, se você quiser aumentar a exportação em 10%, não tem de onde tirar esses 10%. Se você disser que vai crescer internamente a 3%, vai importar mais, vai complicar nossa balança comercial. É preciso consertar isso. E, para consertar isso, é preciso ter políticas verticais. Como é que eu vou convencer alguém a fazer um novo alto-forno, um pólo petroquímico, investindo de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões em uma coisa, sem dar para esse alguém uma visão futura de para onde este país vai?
O governo Lula tem um projeto de longo prazo?
Isso ainda não está claro. O governo Fernando Henrique foi claro. Era um sistema liberal, e estamos conversados. O Lula ainda não disse o que ele quer. Até agora, a avaliação do governo Lula é positiva. Ele soube acalmar esse pseudomercado, soube transmitir – o que para nós é muito importante – que não é uma pessoa que está sendo movida apenas pelo passado. Achamos muito bom que o Lula tenha dito que é governo e que, como governo, tem responsabilidade. Mas achamos que já está na hora de o governo tomar outras medidas. Quando Lula tornar isso claro, aí eu poderei discutir. Por enquanto, nós continuamos a bater na mesma tecla. Há 13 anos, o IEDI tem dito: o Brasil precisa reduzir a sua dependência externa. O Brasil tem de compreender que é um país continental e que países como o nosso não têm como ser competitivos em todos os setores. Nós não podemos dizer para alguns setores básicos, como já se disse, que, tudo bem!, vamos desempregar 500 mil pessoas porque não são competitivos.
E o Fome Zero?
Todos nós somos favoráveis ao Fome Zero, todos nós queremos ajudar. Mas todos nós também sabemos que este não é um programa consistente a médio e longo prazos. Dar comida diariamente para alguém não vai resolver nosso problema. Nós, do IEDI, evidentemente não defendemos o subsídio agrícola europeu, que tanto prejudica as exportações brasileiras. Mas por que eles existem? Se você fizer essa pergunta a um francês, ele dirá que não quer ter em torno de Paris o que nós, brasileiros, temos no Rio. “Nós estamos dispostos”, ele continuaria, “a pagar para que o nosso agricultor não fabrique favelas.” Essa é a lógica do subsídio europeu agrícola. Não é lógica econômica; é social. E você vê a mesma coisa na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha.
E qual é o caminho brasileiro?
O caminho que o IEDI propõe é voltar a ter no imaginário brasileiro a produção como primeiro valor, visando à redução da dependência externa. Eu acho que esta é a próxima coisa que o presidente Lula deve colocar em debate: o Brasil que se quer construir para 2020. Acho que a primeira coisa que nós teremos de fazer é chegar ao consenso de que é preciso reduzir a dependência financeira.
O que significa continuar a ser dependente?
Os países não desaparecem. As pessoas sofrem. É só isso. E o exemplo mais claro é a Argentina. Os pobres eram 2% da população, agora são 50%, 60%. E é isso que pode acontecer. Os países não acabam, as pessoas sofrem.
O sr. está otimista?
Lula, até por suas origens, tem legitimidade para mostrar esse caminho para a maioria da sociedade brasileira. Nós somos otimistas em relação ao Brasil.