IEDI na Imprensa - Balança comercial continua com boas perspectivas
Valor Econômico
Forte acúmulo de divisas ajudou a impedir uma desvalorização mais forte do real
No ano até maio, a balança comercial não tem seguido as projeções para 2024, de uma queda do saldo comercial. Nos cinco primeiros meses do ano, o saldo acumulado atingiu o recorde de US$ 35,9 bilhões. Em 2023, houve o recorde anual de US$ 94,4 bilhões. Para 2024, o Banco Central reduziu suas expectativas de US$ 73 bilhões (o cálculo da autoridade monetária é diferente) para US$ 59 bilhões, e o Ministério da Indústria e Comércio estimou resultado positivo de US$ 73,5 bilhões. Entre as consultorias, os números estão melhores, variando o superávit de US$ 85 bilhões a US$ 90 bilhões.
Além disso, o forte acúmulo de divisas com as vendas externas está ajudando a impedir uma desvalorização mais forte do real. Até maio, apesar de a saída pelo câmbio financeiro ter sido o dobro da do mesmo período do ano passado (US$ 27,6 bilhões ante US$ 13 bilhões), o saldo do câmbio comercial, de US$ 33,7 bilhões, foi mais que suficiente para garantir um fluxo de divisas no início do ano.
As exportações somaram US$ 138,8 bilhões, 2,3% a mais do que em relação ao mesmo período do ano passado; e as importações totalizaram US$ 102,9 bilhões, com alta de 1,8% na mesma base de comparação. O aumento do volume transacionado, de 7,4% das exportações e de 11,5% das importações, garantiu o desempenho, compensando a queda dos preços, de 4,5% e 9,2%, respectivamente.
Mas um novo recorde é ainda incerto. Os resultados mensais oscilaram bastante. Nos dois primeiros meses, houve crescimento de 9% e 9,9%. Em março o resultado caiu mais de 30%, para US$ 7,3 bilhões. Retomou o ritmo em abril e, em maio, caiu 22,3%, para US$ 8,5 bilhões. O principal produto da pauta de exportação brasileira, a soja, mantém a liderança com 15,7% dos embarques, o equivalente a US$ 21,8 bilhões, mas recuou em comparação com os 19,6% do início de 2023, em consequência da redução da safra.
Ganharam espaço os produtos da indústria extrativa, principalmente o petróleo bruto e o minério de ferro, com 14,9% e 9,3%, respectivamente, das exportações. Juntos, os dois somaram 24,2% da pauta exportadora de janeiro a maio, acima dos 19,9% de iguais meses de 2023. O petróleo bruto domina, com 57,7% da exportação do grupo extrativo.
Apesar dos números exuberantes, o setor externo teve contribuição negativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, informou o IBGE, diferentemente do que ocorreu em 2023. Ele contribuiu para a redução de 1 ponto percentual do PIB no primeiro trimestre, em consequência de aumento das importações superior ao das vendas externas. Se o PIB agregado cresceu 0,8% no primeiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores, com ajuste sazonal, as exportações cresceram 0,2%, e as importações, 6,5%, de acordo com o IBGE.
Pode-se dizer que isso ocorreu por um bom motivo. Parcela importante do aumento das importações se deve à recuperação dos investimentos, além do aumento do consumo. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) aponta que a decomposição da Formação Bruta de Capital Fixo feita pelo Ipea mostra alta de 19,4% em máquinas e equipamentos importados no primeiro bimestre do ano contra igual período de 2023.
O padrão se repetiu nos dados da balança comercial nos cinco meses. Bens de capital e bens de consumo puxaram as importações com crescimento de 13,4% e 23,4%, respectivamente, na comparação com igual período de 2023. Um destaque foi a importação de veículos, que saltou 59,4% e somou US$ 2,98 bilhões de janeiro a maio, 40% dos quais provenientes da China.
Do lado positivo, há a expansão da produção de petróleo, que cada vez se torna mais importante na pauta de exportações. As receitas com petróleo no acumulado do ano cresceram 31,2%. Os volumes saltaram 32,5%. Entre as incertezas, surpreende a variação de preços do minério de ferro em consequência da redução da demanda chinesa, que enfrenta barreiras para o aço que produz em vários mercados. Como reflexo disso, o minério de ferro exportado pelo Brasil apresentou queda de 11% no preço e de 6,3% em volume embarcado em maio.
A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul deverá afetar a balança comercial, pois é o sexto Estado do país que mais exporta e que mais importa. Contribui com 9,4% das exportações de produtos industrializados. Tem uma pauta exportadora composta por soja, calçados, polímeros plásticos e máquinas agrícolas, além de tabaco e carne bovina.
Além disso, um importante mercado, a Argentina, encolheu depois das mudanças econômicas decretadas pelo novo presidente, Javier Milei. De janeiro a maio as exportações caíram 33% e a fatia de vendas para os argentinos é a menor desde 1997 (3,6% do total).
As perspectivas para a balança comercial continuam boas, assim como segue importante sua contribuição para o equilíbrio dos fluxos financeiros, que tem pressionado a favor da valorização do dólar. No front externo, pelo menos, a situação brasileira continua muito confortável.