IEDI na Imprensa - Indústria da transformação tem menor peso em 18 anos
Valor Econômico
Bruno Villas Bôas e Alessandra Saraiva
A participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) voltou a recuar no ano passado e atingiu o menor nível em pelo menos 18 anos. O peso da indústria de transformação no valor adicionado bruto da economia foi de 11,3% em 2018, abaixo dos 12,2% do ano anterior. Em 2005, o setor representava 17,4% da economia, seu pico na série histórica iniciada em 2000.
A perda de participação ocorre apesar do crescimento em volume da indústria de transformação no acumulado do ano passado. A atividade do setor cresceu 1,3% em volume frente ao ano anterior, impulsionada por ramos como veículos, papel e celulose, remédios e metalurgia.
Segundo Amanda Tavares, analista do IBGE, apesar do avanço de 1,3% em volume, os bens da indústria de transformação registraram queda de 5,72% nos preços em 2018. Dessa forma, o valor adicionado (volume versus preços) ficou no campo negativo.
Além disso, chama a atenção para o ganho de participação da indústria extrativa, que passou de 1,7% em 2017 para 3%. Esse avanço é explicado tanto pelo aumento do volume (1%) quanto dos preços (84,5%) no ano passado.
"Foi um ano em que vimos valorização dos preços das commodities, como minério de ferro e petróleo. Então, o valor da indústria extrativa cresceu tomando participação de outras atividades, como a indústria de transformação", disse Amanda, que fez os cálculos a pedido do Valor.
Segundo Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (IEDI), a queda dos preços da indústria de transformação não surpreende. Ele disse que o setor sofre com a recuperação ainda lenta e está exposto à concorrência dos importados.
O economista acrescentou que, para além do desempenho do ano passado, a indústria de transformação vem em processo de perda de participação no PIB há mais de uma década, parte de um processo que classificou de "desindustrialização prematura".
"Em países desenvolvidos, a indústria perde espaço para o setor de serviços na economia, refletindo o aumento da renda das famílias. Não é o caso brasileiro. O que temos são problemas estruturais, como a falta de investimentos, de tecnologia, carga tributária."
Cagnin lembrou que o setor enfrentou na última década variáveis negativas, como o câmbio desfavorável e taxa de juros elevadas, o que teria resultado no envelhecimento do parque fabril. "São coisas que acabam provocando perda de competitividade da indústria", acrescentou.
Segundo Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, as expectativas eram inicialmente bem mais positivas para o desempenho da indústria de transformação neste ano. Para ele, uma série de eventos frustaram essas expectativas do mercado.
"Tivemos primeiros a greve dos caminhoneiros, que impactou a oferta e, de forma secundária, a confiança. Isso coincidiu com a intensificação da crise da Argentina. Depois, ainda tivemos a incerteza eleitoral", disse.
A consultoria estima que a indústria de transformação deve crescer 2,9% no PIB de 2019. "Mesmo aqui vale o alerta que começamos o ano passado com expectativa parecida com esta. Há riscos nesse cenário, principalmente de frustração com reforma da Previdência."
No setor extrativo, a LCA espera queda no volume de minério de ferro, com o fechamento de minas da Vale após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Por outro lado, o setor de petróleo deve produzir mais. Nesta balança, a indústria extrativa deve recuar 0,2% neste ano.