IEDI na Imprensa - Após tragédia em Brumadinho, indústria extrativa tem queda recorde de 14,8%
O Globo
É o maior tombo desde 2002, início da série histórica. Na média, setor industrial avançou 0,7% em fevereiro
Daiane Costa
Após a tragédia na barragem da Vale em Brumadinho (MG), ocorrida em 25 de janeiro, a produção da indústria extrativa sofreu um tombo de 14,8% em fevereiro, informou na manhã desta terça-feira o IBGE. Foi a maior queda já registrada pelo setor extrativo em toda a série histórica da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, iniciada em 2002. Quando houve o desastre em Mariana, em novembro de 2015, a produção extrativa recuou 11% naquele mês. Na média, o setor industrial avançou 0,7% em fevereiro.
- Era um impacto já previsto porque foi o segundo acidente dessa natureza e, quando um raio cai duas vezes no mesmo lugar, não se pode dizer que é infortúnio da vida. Essa retração não reflete apenas a paralisação das operações em Brumadinho mas de outras unidades que pararam para manutenção, uma supervisão mais criteriosa, desacelerando a extração de minério como um todo - explica Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudo de Desenvolvimento Industrial (IEDI).
O recuo na indústria extrativa também foi influenciado por uma queda na extração de óleo e gás, informou André Macedo, gerente de Indústria do IBGE.
Na média de todos os segmentos, a indústria brasileira cresceu 0,7% em fevereiro, após ter registrado queda de 0,7% em janeiro. Em 12 meses, o setor avançou 0,5%. O resultado veio um pouco abaixo das estimativas: os analistas previam, em média, uma alta de 1% na indústria na passagem de janeiro para fevereiro.
Não fosse o resultado negativo tão intenso da indústria extrativa, o resultado geral da indústria poderia ter sido melhor, ressaltou Macedo. Quando se tira do resultado geral esse segmento, a parte restante, a indústria de transformação, avança 1% em fevereiro, em relação ao mês anterior, e 3,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já a indústria extrativa caiu 9,9% em relação a fevereiro de 2018.
- O grupo de bens intermediários, que congrega a indústria extrativa, representa 60% do resultado geral da indústria. Além da unidade de Brumadinho, outras paralisaram a produção - disse o gerente de Indústria do IBGE.
Desde a tragédia, várias barragens da Vale estão sob escrutínio e a mineradora teve de fazer paralisações de produção em algumas minas. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) já estima que esses cortes na produção possam levar a uma falta de minério para algumas siderúrgicas num prazo entre 30 e 60 dias.
As exportações de minério de ferro também tiveram forte queda após a tragédia de Brumadinho. Em março, o recuo foi de 25,9% em relação ao mesmo mês de 2018, informou na segunda-feira a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Indústria ainda 16,3% abaixo do pico
Como a expansão da indústria em fevereiro serviu apenas para compensar o que o setor havia perdido em janeiro, na prática é como se o setor não tivesse saído do lugar desde dezembro. O setor ainda opera 16,3% abaixo de seu pico, registrado em maio de 2011. É um quadro que preocupa, segundo o economista do IEDI, pois o setor encerrou 2018 em um quadro recessivo.
- Tanto a demanda interna quanto a externa nos desfavorecem. A primeira está prejudicada pelo alto desemprego, por uma renda que não cresce ou cresce pouco e por decisões de investimento que estão sendo adiadas. Já o ambiente externo não é dos melhores. A nossa balança comercial no primeiro trimestre do ano mostra que as exportações caíram pela metade e não somente por conta da crise na Argentina. Conflitos entre EUA e China e o embróglio do Brexit seguem afetando a demanda mundial - observa Cagnin.
Com um ritmo de produção ainda fraco, a indústria foi um dos setores que mais demitiu nos últimos meses. No trimestre encerrado em fevereiro, quando a taxa de desemprego voltou a subir e ficou em 12,4%, a indústria cortou 198 mil vagas em relação ao trimestre anterior, terminado em novembro.
Em fevereiro, as principais altas na indústria foram na produçaõ de veículos automotores (6,7%), produtos alimentícios (3,2%) e derivados do petróleo (4,3%). Por outro lado contribuíram negativamente a indústria extrativa (-14,8%), setor de vestuário (-4,8%), produtos de metal (-2%), móveis (-4,1%).
A alta na produção de automóveis, ainda que o Brasil tenha perdido seu principal canal exportador — a Argentina está em recessão — pode ter explicação em uma antecipação da fabricação por conta do carnaval, que ocorreu no começo de março, este ano. Também pode ser efeito de uma maior demanda devido aos transportes por aplicativos, que este ano tem sido o único setor a gerar vagas de empregos, de acordo com outra pesquisa do IBGE, a PNAD Contínua.
Com relação aos caminhões, a alta na produção tem relação com investimentos para a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas, que em 2019 deve chegar a 228,8 milhões de toneladas, 1% superior a 2018.
Em relação a fevereiro de 2018, a indústria cresceu 2%, interrompendo três meses consecutivos de taxas negativas. Os mesmos três grandes grupos tiveram alta. Houve uma alta de 10,5% no grupo bens de capital, que reúne máquinas e equipamentos e é usado como um termômetro dos investimentos. Porém, esta alta foi graças basicamente ao aumento na fabricação de caminhões, já que os equipamentos de transporte avançaram 12,6%.