IEDI na Imprensa - Com demanda fraca, importação diminui 1,2%
Valor Econômico
Fábio Pupo, Ana Krüger e Marta Watanabe
Em meio a uma recuperação da atividade doméstica ainda lenta e a dúvidas sobre o ritmo de crescimento global neste ano, a balança comercial brasileira registrou em abril números mais baixos tanto na importação como na exportação. A retração fez a corrente de comércio cair 0,6% no mês em relação a um ano antes, para US$ 33,32 bilhões, com queda de 1,2% nas importações.
A menor corrente de comércio não impediu um avanço no superávit de abril, que subiu 2,3% ante igual mês de 2018, para US$ 6,06 bilhões. De janeiro a abril, porém, houve retração de 8,7%, para US$ 16,58 bilhões. O saldo no acumulado do ano é resultado de US$ 72,34 bilhões em exportações e US$ 55,77 bilhões em importações. Os embarques caíram 2,7% de janeiro a abril, contra igual período do ano passado. As importações recuaram 0,8%, sempre no critério da média diária.
As exportações e importações no primeiro quadrimestre ficaram aquém das expectativas de analistas. O desempenho fez a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) rever a projeção para importações de 2019 de crescimento de 2,8% para queda perto de 1% em relação ao ano passado. Na Tendências Consultoria, não houve revisão de dados de balança. Com crescimento menor que o esperado nos embarques e desembarques, a consultoria avalia que não haverá grande mudança na estimativa de superávit de US$ 50,5 bilhões ao fim deste ano, mas a corrente de comércio deve ficar menor que os US$ 437,5 bilhões esperados.
A corrente de comércio foi elencada pelo Ministério da Economia como o principal indicador da balança a ser acompanhado. A justificativa é que o dado está ligado à inserção do país na cadeia de comércio global e ao aumento da produtividade. No acumulado do ano, a corrente somou US$ 128,1 bilhões, com queda de 1,9% em relação ao igual período de 2018.
Herlon Alves Brandão, diretor de estatísticas e apoio às exportações do Ministério da Economia, diz que a queda das importações está ligada ao ritmo da atividade doméstica, ainda em recuperação. Segundo ele, o governo espera que o movimento melhore a partir do meio do ano.
Nas exportações, Brandão afirma que o dado está ligado principalmente à demanda global. Segundo ele, diferentes organismos internacionais fizeram relatórios no mês de abril que apontam para uma atividade ainda morna no mundo que vem afetando a demanda por produtos - entre eles, os brasileiros.
José Augusto de Castro, presidente da AEB, diz que o desempenho do mês de abril fez a entidade mudar o sinal na projeção de variação das importações de 2019. Para as exportações, a mudança na estimativa foi menor. Ao fim do ano passado, Castro calculava alta de 8,6% nos embarques deste ano. Agora ele projeta aumento perto de 9%.
O desempenho da balança em abril, diz Castro, tornou mais visível o efeito do ritmo lento de recuperação econômica sobre as importações. Em abril, destaca ele, a média de importações por dia útil, ficou em US$ 649 milhões (queda de 0,1% ante igual mês de 2018), enquanto a do acumulado do primeiro quadrimestre é de US$ 680 milhões. Sazonalmente, porém, explica, o que se espera é que a média de abril seja maior.
"O tom da importação no início do ano, principalmente no desempenho de bens de consumo e combustíveis, é efeito da fraqueza do baixo dinamismo da economia doméstica", diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). "Há uma grande insegurança sobre o futuro. Todos dizem que a reforma previdenciária será aprovada, mas não se sabe quando nem como ela virá", avalia Castro.
O economista Silvio Campos Neto, da Tendências, diz que a consultoria não fez revisão das projeções para o ano, de superávit de US$ 50,5 bilhões, com alta de 2% das exportações e de 6,8% das importações. Os primeiros quatro meses do ano, diz o economista, ficaram aquém do esperado do lado das exportações, como resultado do cenário global, que afeta preços e quantidades. "Nas importações há sinal de fraqueza em razão da demanda interna ainda lenta." A expectativa, porém, diz ele, é que haja modesta recuperação no segundo semestre, principalmente nos desembarques.
"Esperamos uma reação mais clara a partir do momento em que a reforma previdenciária se materializar, com taxa de câmbio um pouco mais apreciada, o que pode ajudar o desempenho das importações", diz Campos Neto. No lado das exportações também se espera certa recuperação em relação ao quadro atual, apesar do cenário global, que deve manter-se desafiador. Ele avalia também que os efeitos em preços e volumes de exportação de minério de ferro do desastre da barragem de Brumadinho devem aparecer mais nesse período nos dados da balança.
Cagnin, do IEDI, avalia que nas exportações até abril foram os manufaturados que deram o tom do fraco desempenho. Os embarques desse grupo de bens recuaram 7,3% de janeiro a abril de 2019 contra igual período do ano passado, numa queda maior que a das exportações totais, que diminuíram 2,7% na mesma comparação, sempre no critério da média diária. Sem o bom desempenho da cadeia aeronáutica, destaca Cagnin, a queda de exportação dos manufaturados teria ficado perto de 10%.