IEDI na Imprensa - Produção industrial segue estagnada à espera das reformas estruturais
DCI
Falta de avanços na agenda econômica do governo abalam confiança dos empresários e deixam investimentos paralisados, enquanto cenário internacional segue desfavorável para exportações
Ricardo Casarin
Em compasso de espera por reformas estruturais, produção industrial amarga estagnação nos primeiros meses de 2019. Cenário global desfavorável e impactos da tragédia de Brumadinho (MG) também contribuíram para o desempenho ruim do setor.
“A indústria de transformação parece esperar para ver o que vai acontecer. A economia está paralisada e os investimentos não serão feitos enquanto não houver uma certeza de rumo do País”, avalia a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), Luana Miranda.
Os indicadores da produção industrial mensal, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (4) mostram crescimento de 0,3% em abril na comparação com março. Já no confronto com abril do ano passado, houve queda de 3,9%. Também foram registrados resultados negativos no acumulado de janeiro a abril (-2,7%) e no acumulado dos últimos 12 meses (-1,1%).
O coordenador de economia do Ibmec-RJ, Ricardo Macedo, acredita que a prioridade total dada à reforma da Previdência pelo governo de Jair Bolsonaro é uma estratégia arriscada. “Outros pontos, como a esfera fiscal, também precisam de atenção e não se vê movimentação nesse sentido. As mudanças seguem postergadas enquanto não se aprova o projeto da nova Previdência.”
Luana entende que, mesmo com a reforma aprovada, as dúvidas não serão dissipadas. “Ainda é difícil entender qual será o próximo passo da agenda política. O País está dependendo de reformas estruturais e não vai haver crescimento e investimentos robustos enquanto elas não vierem.”
Ela destaca que boa parte da recuperação do Brasil após a recessão se deu por meio do consumo das famílias. “Agora, essa via parece esgotada. O crescimento precisa ser sustentável, por meio de investimentos. Não vai ser fácil sair desse quadro de estagnação.”
Categorias
O fraco resultado da produção industrial é bastante puxado pela indústria extrativa, que registrou queda de 24% em relação a abril de 2018. Esse desempenho negativo está diretamente relacionado a tragédia de Brumadinho e as consequentes paralisações de operações de mineração no País. “Nossa projeção é que o impacto da Vale deve tirar 0,3 pontos do PIB”, destaca Luana.
A categoria de bens de capital apresentou crescimento mensal de 2,9% e de 1,8% no acumulado dos últimos 12 meses, mas acumulou queda de 3,1% de janeiro a abril e de 0,6% na comparação com abril de 2018. “Pode ser uma reposição de máquinas. Com o cenário de instabilidade, a confiança e o investimento do empresário não é tão grande”, acrescenta Macedo.
O IEDI avalia que a quebra das expectativas favoráveis desde o final do ano passado atingiu tanto empresários como consumidores, prejudicando a demanda de bens duráveis, sejam eles para investimento ou para consumo. “Sem confiança já é difícil sustentar o crescimento da produção de bens de capital e de consumo duráveis, quanto mais em uma situação de financiamento que ainda não foi normalizada.”
Além do cenário doméstico atribulado, o Brasil encontra dificuldades no mercado externo. O aumento das tensões comerciais entre EUA e China, a desaceleração do crescimento global e a crise da Argentina não trazem boas perspectivas. “A recuperação não deve vir por meio das exportações. Há uma piora nas relações comerciais, em função da guerra comercial, e é difícil ver melhora para a Argentina no segundo semestre”, assinala Luana.
Em sua análise, o IEDI destaca que, neste contexto, os problemas de competitividade da produção nacional pesam ainda mais e comprometem o recurso à exportação como meio de compensar o baixo dinamismo do mercado doméstico. “As exportações brasileiras de manufaturados acumuladas de janeiro a abril registram retração de 5,6% frente ao mesmo período do ano anterior.”