IEDI na Imprensa - Indústria cresce em 14 de 15 regiões, mas a taxas menores
Valor Econômico
Cenário indica recuperação prolongada, avaliam analistas
Gabriel Vasconcelos
A produção industrial subiu em 14 das 15 regiões metropolitanas monitoradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho na comparação com maio, informou ontem o órgão. Mas, assim como a média nacional naquele mês (8,9%), as boas taxas regionais ocorrem em cima de bases depreciadas e ainda não compensam, em praticamente todo o território, as perdas de março e abril, meses de maior restrição ao setor devido ao isolamento social.
Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que a retomada da indústria desacelerou na maior parte dos locais pesquisados se comparados os desempenhos na margem de junho e maio, quando teve início a reabertura das fábricas. Esse freio, dizem os especialistas, indica uma recuperação mais prolongada da indústria nacional, com variações que dependerão da ocorrência de novas ondas de covid-19.
Economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin diz que o desempenho da indústria em junho foi “bastante disseminado” regionalmente não só graças à reabertura das plantas em todo o país, mas, também, às políticas do governo, como o auxílio emergencial, que sustentou a demanda das faixas mais pobres, que consomem mais em proporção da renda. “Contudo, é importante ter claro que a recomposição das perdas na indústria acontece na metade da velocidade do tombo de abril. O gráfico está mais próximo de um “L” que de um V”, afirma Cagnin.
Para o economista, isso acontece porque foram poucas as regiões em que a alta de junho do superou a de maio. “Uma retomada acelerada pressupõe taxas positivas e cada vez mais fortes. Em pouquíssimos casos temos essa trajetória mais favorável”, diz. O IBGE mostra que em somente seis regiões houve avanço nas taxas de junho se comparadas às de maio e que, dessas, somente quatro registraram o segundo crescimento seguido.
Uma delas é a indústria de São Paulo que acelerou a taxa de crescimento na margem de 8,9% em maio para 10,2% em junho. “Esse é o perfil de comportamento ideal e é importante que tenha acontecido na maior e mais diversificada indústria do país”, diz Cagnin. Acelerações similares também foram identificadas nas taxas de Amazonas (65,7%), Ceará (39,2%) e Santa Catarina (9,1%). A única queda, de fato, veio de Mato Grosso (-0,4%).
Apesar da segunda alta seguida, a indústria paulista ainda não se recuperou das perdas do início da crise. A região acumula crescimento de 20% em maio e junho, bem abaixo do recuo de 29,4% detectado em março e abril. Técnico do IBGE responsável pela pesquisa, Bernardo Almeida diz que a retomada local foi puxada pela reativação de unidades automotivas, com destaque para caminhões.
Os impactos da crise em São Paulo ficam mais claros na comparação entre junho com igual mês de 2019, em que há queda de 11,8% na produção. No ano, o recuo paulista é de 14,2%, e, nos últimos 12 meses, de 6,6%.
O economista Silvio Sales, ex-coordenador para indústria do IBGE, destaca que, na margem, a produção nacional já havia caído 2,7% e que, no segundo trimestre, a pandemia impôs uma retração de 17,5% ao setor.
Em termos regionais, tanto na comparação trimestral, quanto na comparação de junho com fevereiro, as quedas de dois dígitos são uma constante. “O fundo do poço sem dúvidas foi em abril e já passou, mas estes números, mais aderentes à realidade, mostram que recuperação da indústria não acontece em ‘V’”, diz.
A exceção é o Amazonas, primeiro e único Estado do país a recuperar a retração de 55,1% acumuladas nos dois meses mais restritivos da pandemia com a alta de 95,1% na produção nos dois meses subsequentes. O resultado, diz Almeida, se deve às especificidades da indústria amazonense, especializada em setores com bom desempenho na saída da crise, como bebidas, sobretudo a fabricação de xaropes para refrigerantes. Outro segmento com forte alta foi o de “outros equipamentos de transporte”, o que no Amazonas se traduz na produção de motocicletas.
Cagnin cita o pico de demanda por motocicletas, consequência do crescimento da entrega em domicílio nos grandes centros durante a pandemia. Sales lembra que também pesou para o resultado do Amazonas a reabertura das fábricas antes dos demais Estados. O colapso no sistema de saúde do Estado aconteceu precocemente na comparação com o restante do país.