IEDI na Imprensa - Covid afeta quase 45% das empresas, aponta IBGE
Valor Econômico
Cerca de 1,25 milhão de companhias enfrentam dificuldades em virtude da pandemia
Gabriel Vasconcelos
Cerca de 1,25 milhão de empresas brasileiras enfrentavam dificuldades devido à pandemia de covid-19 ao fim da primeira quinzena de julho, transcorridos quatro meses de crise sanitária. O número, divulgado ontem pelo IBGE, equivale a 44,8% dos 2,8 milhões de negócios em atividade.
Rodadas anteriores da pesquisa “Pulso Empresa”, criada para medir os impactos da pandemia sobre empresas não financeiras, mostraram que, no início de junho, quase oito a cada dez empresários relatavam problemas e, no fim daquele mês, essa parcela era de 62,4%. Apesar da queda, os primeiros números de julho permanecem altos, diante da flexibilização do isolamento social.
Nesse contexto, 380,1 mil empresas (13,5%) promoveram demissões nos primeiros 15 dias de julho, ante pouco mais de 410 mil que já tinham cortado pessoal no fim de junho. Em 70,8% dos casos, os cortes foram de até 25% da força de trabalho, mas 10,7% das empresas que demitiram (40,7 mil) dispensaram mais da metade dos funcionários.
Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin, a resiliência da crise ante a abertura crescente está mais ligado à baixa demanda do que a dificuldades de produção.
No início de julho, só 34% da indústria tinha problemas de fabricação, mas 40,8% relatavam problemas nas vendas. Para o setor de serviços, cujas receitas compõem mais de 70% no PIB, a diferença era maior: 37,7% das empresas relatavam problemas para executar o trabalho, e 45,8%, para comercializar.
“Os números mostram que a flexibilização [do isolamento] e o retorno das atividades não têm resolvido tudo. As condições de fabricação, comercialização e prestação de serviços ainda são uma questão, mas a venda é que tem somatizado mais. As pessoas, mesmo as que preservaram renda, se mostram muito reticentes em retomar o nível de consumo”, diz Cagnin.
Para ele, um isolamento mais radical no início da pandemia teria trazido depressão mais intensa, mas poderia evitar a crise arrastada de demanda. A queda nas vendas, diz, é o principal gatilho dos problemas de caixa. Segundo o IBGE, 47,4% das empresas tiveram dificuldade em fazer pagamentos de rotina em julho.
Gerente da pesquisa, Flávio Magheli diz que o setor mais afetado foi o de serviços (47%). No comércio, 44% relataram efeitos negativos até o meio de julho, na construção, 38%, e na indústria, 42,9%.
A prevalência de demissões nos serviços prestados às famílias caiu de 27% para 11,4% entre meados de junho e de julho. Então, foi o comércio de veículos, motocicletas e peças o segmento da economia em que demissões foram mais comuns, acontecendo em 18,3% das empresas.
Quanto à percepção de ajuda do Estado, 974,4 mil negócios (34,8%) relataram ter recebido suporte do governo, enquanto no período anterior a proporção era de 39,2%.