IEDI na Imprensa - Varejo espera normalização ao longo do 1º semestre
Valor Econômico
Descompressão na demanda é esperada com a desaceleração da atividade na virada do ano
Anaïs Fernandes
Associações setoriais do varejo esperam que o problema com a falta de produtos se normalize ao longo do primeiro semestre de 2021. Alguma descompressão na demanda é esperada com a desaceleração da atividade na virada do ano. A recente valorização do real ante o dólar também traz alívio, mas ele pode ser temporário se não houver encaminhamento para questões estruturais e avanço na confiança, dizem economistas.
O sindicato do comércio de peças para veículos do Estado de São Paulo (Sincopeças-SP) prevê melhora a partir de fevereiro e aposta na pulverização do setor para conseguir dar conta da demanda. Para a associação de bares e restaurantes (Abrasel), será difícil alguma acomodação antes de março. “Vai ficar, pelo menos, mais uns três meses assim”, diz o presidente-executivo Paulo Solmucci. No varejo têxtil, o primeiro trimestre já costuma ser de maior pressão. “A depender do volume de vendas do fim de ano, as empresas têm de repor estoques. A busca por recomposição deve continuar, mas esperamos regularização no primeiro semestre”, afirma Edmundo Lima, da Abvtex.
A acomodação do desalinhamento na indústria, que chega ao comércio, é o caminho natural, conforme ela vai vencendo barreiras técnicas, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Além disso, ele observa que o fim de medidas como o auxílio emergencial deve ajudar a frear a demanda. “Já vimos uma desaceleração em outubro da produção industrial.”
André Braz, coordenador dos Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra ainda que o período de desvalorização mais aguda da moeda brasileira coincidiu com uma época em que a indústria ainda se preparava para uma demanda crescente, enquanto compradores tentavam antecipar pedidos para evitar preços maiores. “O fato novo é que começou uma valorização até rápida do real, que pode jogar a favor agora e tirar um pouco a pressão de custos. Mas vejo com certa desconfiança, porque, se não houver estratégia para sinalizar controle fiscal, corremos o risco de a volatilidade voltar”, afirma o economista.
Para Viviane Seda, coordenadora de Sondagens do Ibre/FGV, a falta de produtos e insumos tem relação com o elevado nível de incerteza. “Apesar de ter demanda, as empresas estão com certa cautela para investir, contratar novamente”, diz. “O que podemos esperar desse cenário de dificuldade de obtenção de insumos e cautela das empresas é uma recuperação mais lenta.”