IEDI na Imprensa - Incertezas afetam perspectivas para o investimento
Valor Econômico
Formação bruta de capital fixo recuou 3,6% no segundo trimestre por conta dos efeitos das operações associadas ao Repetro e pelos cenários político e fiscal conturbados, afirmam economistas
Marsílea Gombata e Marta Watanabe
O investimento caiu mais do que o esperado no segundo trimestre, por conta dos efeitos das operações associadas ao regime aduaneiro Repetro e pelos cenários político e fiscal conturbados, afirmam economistas.
A formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e pesquisa) recuou 3,6% no segundo trimestre em relação ao primeiro, com ajuste sazonal, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No primeiro trimestre, o investimento havia avançado 4,8%.
A leitura foi pior do que a mediana das projeções coletadas pelo Valor Data, que apontava queda de 2,2% dos investimentos na comparação com o trimestre anterior.
Em comparação com o segundo trimestre de 2020, a FBCF aumentou 32,9%. Nos 12 meses até junho, os investimentos acumulam crescimento de 12,8%.
O resultado coincide com a série do indicador mensal do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de FBCF. Na comparação com o ajuste sazonal, o consumo de máquinas e equipamentos - que corresponde à produção nacional e às importações - caiu 27% no segundo trimestre.
Em nota, o Ipea afirma que os resultados voltaram a ser afetados pelos “efeitos das operações envolvendo importações de plataformas de petróleo associadas ao regime aduaneiro Repetro, que elevaram a base de comparação nos primeiros três meses do ano”. Investimentos em construção civil subiram 11,2% no segundo trimestre, com ajuste sazonal.
“A queda de investimentos n margem [em relação ao trimestre anterior] tem um pouco de devolução da alta do primeiro trimestre, quando parte do avanço foi resultado da contabilização de plataformas de petróleo. Mas também porque estamos numa economia fraca. O sinal dado no segundo trimestre foi conturbado do ponto de vista político e fiscal”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ao citar a instabilidade do governo, um cenário fiscal ruim e aceleração de inflação e juros.
Ele acrescenta a crise energética, que pesará ainda mais no futuro. “Qual empresa irá investir agora sabendo que há risco energético? Não vejo recuperação de investimento no segundo semestre”, diz.
Apesar da queda no segundo trimestre, a FBCF está 15% acima do patamar pré-pandemia. A manutenção desse nível, no entanto, é incerta, afirma Luana Miranda, da GAP Asset Management.
“O investimento cresceu por máquinas e equipamentos para agricultura e construção civil. Mas se isso deve se manter é a grande questão”, diz. “O que esperamos para o segundo semestre é redirecionamento da renda das famílias para serviços, conforme vacinação e mobilidade aumentam.”
O possível desaquecimento da demanda por commodities e incertezas devem travar a expansão do investimento no ano, diz Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV Ibre).
Se houvesse condições macroeconômicas mais favoráveis, diz, o investimento poderia crescer mais. “Corrida por juros mais altos e incerteza atual prejudicam os investimentos de forma geral”, diz. “O governo fala em concessões, infraestrutura, mas como pensar em ciclo de investimentos sem saber se haverá oferta de energia?”.
A economista diz que, só pela herança estatística, o investimento deveria crescer 20,5%. A projeção do FGV Ibre, no entanto, é de alta de 13,2% para 2021. A MB espera alta de 12,9% na FBCF para o ano.
“[Para crescimento robusto], precisamos de ambiente de maior de confiança, com horizonte de médio prazo, estratégia de saída da pandemia e linhas mestras do setor público em articulação do setor privado”, diz Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).