IEDI na Imprensa - Indústria destoa no cenário global e é uma das que menos crescem
Valor Econômico
Retomada foi das mais fraca no mundo em 2021, com resultado decepcionante no 4º tri
Lucianne Carneiro
O desempenho da indústria brasileira ficou muito atrás da mundial não só em 2021 como principalmente no quarto trimestre do ano passado, mostra um ranking produzido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) a partir de dados da Unido (United Nations Industrial Development Organization, agência da ONU para promoção do desenvolvimento industrial) e antecipado com exclusividade para o Valor.
Em 2021, o Brasil ocupou a 82ª posição em um ranking de 113 países feito a partir do ritmo de crescimento da produção industrial, ou seja, na metade inferior do ranking. O Brasil teve queda de 4,8% de sua produção industrial em 2020, seguida por aumento de 4,9% em 2021, praticamente a recomposição do que tinha sido perdido. O país perdeu colocações em relação ao desempenho de 2019, quando tinha ficado em 77º, embora tenha ficado um pouco melhor que o resultado de 2018 (87º).
No mundo, a indústria caiu 4,2% em média em 2020, mas teve alta de 9,4% em 2021. Nos dados, chama a atenção a evolução menor da indústria brasileira em relação à média mundial e ao desempenho de outros países com realidades próximas. No resultado de 2021, o Brasil ficou atrás de outros países da América Latina, como Peru (10º), Colômbia (11º), Argentina (12º), Uruguai (28º), México (45º) e Chile (77º).
“A indústria brasileira só compensou o suficiente para tapar o buraco de 2020, enquanto outros países conseguiram recuperar e crescer”, aponta o economista sênior do IEDI Rafael Cagnin, responsável pelo ranking, lembrando a situação da América Latina, que teve queda de 7,3% da produção em 2020, mas foi seguida por ganho de 9,3% no ano passado. “São países com realidades semelhantes à do Brasil, especialmente na capacidade de lidar com os desobramentos da pandemia, e que conseguiram crescimento bem maior no ano passado.”
Embora pondere que os países com maior queda na indústria em 2020 tinham tendência de expansão mais forte em 2021, pela base de comparação mais baixa, ele reforça que o Brasil caiu tanto quanto o resto do mundo, mas a retomada foi em ritmo diferente. “A recuperação da indústria brasileira ficou muito aquém do se viu em outros lugares. E foi perdendo fôlego ao longo do ano”, diz.
Esta perda de cadência da indústria brasileira fica clara quando se considera o ranking apenas para o quarto trimestre, em que a posição do Brasil é ainda pior que a da média do ano passado. Neste caso, o Brasil ficou na 107ª colocação. No quarto trimestre do ano passado, enquanto a indústria de transformação mundial cresceu 3,3%, no Brasil o setor caiu -6,6%.
Com esse desempenho, o Brasil pesou no resultado da América Latina, que cresceu 1,6% e foi o mais fraco entre as regiões pesquisadas pela Unido. Outros países da região tiveram crescimento mais expressivo, como as indústrias do México (2%), da Argentina (7,9%), do Uruguai (11,9%) e da Colômbia (12,6%).
Na avaliação de Cagnin, a indústria brasileira sente os efeitos da interrupção das medidas de incentivo antes da melhora mais abrangente da pandemia, da desorganização das cadeias produtivas e da inflação, mas principalmente de problemas já conhecidos que afetam a competitividade nacional, como a elevada carga tributária, a falta de infraestrutura e de apoio à inovação e pesquisa.
Com a guerra na Ucrânia, ressalta o economista, aumentam as incertezas sobre o que a indústria terá que enfrentar, com possível piora do desarranjo da cadeia produtiva e aumento de custo de insumos. “A maior preocupação é que a guerra vai colocando fontes muito fortes de incertezas. Não se sabe até onde o conflito vai, tanto em tempo quanto em intensidade, se vai ter mais países...”, aponta.
Embora considere o cenário difícil para uma avaliação, já adianta o que é possível observar hoje, que é a pressão nos preços de commodities, como petróleo e metais, além de uma tendência de formação de “estoques de precaução”, o que traz tensão entre oferta e demanda e dificuldades adicionais para as cadeias produtivas globais.
Nesse contexto, defende ele, é ainda mais importante que se discuta e avance no debate da reforma tributária, que é um processo lento e exige um tempo de adaptação. "A reforma tributária vai levar anos, mas é fundamental avançar sobre a direção dela, quais os critérios e o que dá para negociar. É um indicativo importante para destravar investimentos”, afirma.